Vitinha, Figura do ano para A BOLA, fala numa época praticamente perfeita, com conquista de troféus e com influência sua no PSG e na Seleção

Vitinha: «Foi um ano inacreditável, a nível coletivo e individual»

Ganhou a Liga dos Campeões, Supertaça Europeia, Taça Intercontinental, fez a dobradinha em França, conquistou a Liga das Nações por Portugal. Vitinha é a figura do ano 2025 para A BOLA

— Parabéns mais uma vez, obrigado desde já por esta conversa. Comecemos pelo óbvio: é o PSG a melhor equipa da atualidade e o Vitinha a grande figura do momento do futebol português?

— Desde já, agradeço a distinção. É realmente uma honra para mim. Fico mesmo muito contente por ter sido escolhido figura do ano entre tantas pessoas e tantas figuras que poderiam ter recebido este prémio. É um privilégio. Queria agradecer bastante ao jornal. Depois, para responder à sua pergunta, acho que sim. Já fazemos esta entrevista num final de ano, em retrospetiva. Futebol é momento, como sabemos. Está sempre a mudar e muito rápido. Podemos dizer que o PSG é realmente a equipa do momento, a equipa do ano, isso aí sem dúvida. Mas temos de estar sempre a prová-lo. Neste mês, tivemos de o provar em Dezembro. Se não tivéssemos ganho a Intercontinental a conversa já seria diferente. Porque é assim, temos de estar a provar a toda a hora no campeonato, na Liga dos Campeões, na Intercontinental agora, na Supertaça, Taça, o que for. Por isso, se calhar se me perguntar daqui a uma semana já não vai ser. Neste momento diria que sim. Pelo menos, uma das equipas do momento, que está lá em cima e é das melhores.

— E o Vitinha?

— Sobre mim pessoalmente, é uma época praticamente perfeita. É um bocado ingrato não dizer perfeita, porque realmente houve aquela final do Mundial de Clubes, em que estamos na decisão, estamos na final, mas de resto foi… Foi perfeito. Fui importante no coletivo fortíssimo que temos. Senti-me importante, senti que tive uma participação e influência grande na equipa e na Seleção foi igual. Quando assim acontece, é perfeito. Foi um ano inacreditável a nível coletivo e individual.

— Foi 2005 o ano da afirmação do futebol mais coletivo e do futebolista mais solidário, se quisermos, quando comparado com o das grandes estrelas?

— Sim e ainda bem, digo já. Sou mais dessa equipa. Sou mais da equipa de se jogar pela equipa. Sou esse tipo de jogador também e esta forma que temos de encarar as coisas é a certa. Mas, além de ser a certa, é algo que também acaba por me beneficiar a mim. Sendo um jogador de equipa, um jogador que precisa de um grupo, de um bom contexto, de que estejamos todos para o mesmo objetivo e que rememos todos para o mesmo lado, o facto de ter acontecido beneficiou-me imenso. Estando eu ou outro, em qualquer equipa esse deve ser sempre o objetivo primário, o caminho a seguir, as bases sólidas… É pensar primeiro no coletivo, ter a certeza de que o coletivo vem primeiro que o individual, mesmo que tenhamos grandes individualidades, seja no PSG, na Seleção, na equipa dos miúdos, serve para qualquer equipa, até diria mesmo para qualquer desporto coletivo. Porque a equipa é mais importante e só depois vem a Figura do Ano, a Bola de Ouro para o Dembélé, o Nuno [Mendes], que é o melhor lateral-esquerdo do mundo, etc. Poderíamos estar aqui a falar de imensos jogadores, porque que saímos todos beneficiados com isso.

— Num futebol cada vez mais físico e cheio de marcações individuais, ainda assim há espaço para Vitinhas e João Neves...

— Tem de haver, tem de haver. É por isso que também gostamos de jogar futebol. O futebol tem tido muitas mudanças… A nível tático, a nível de competitividade, a forma como se aborda o jogo. Criticamos tantas vezes que o futebol às vezes já não é tão mágico, tão bonito, tão atrativo quanto era antes e eu percebo-o, mas é também algo inevitável. Todas as equipas querem ganhar. Informam-se muito, organizam-se muito mais do que antes. Taticamente, são muito mais fortes. Qualquer equipa que luta para não descer tem muitas noções de como defender, como se posicionar, de criar um bloco baixo e dificultar a vida a um dos grandes. É difícil hoje jogar contra quem seja. Não há jogos fáceis, não há aquele jogo contra o último classificado da Liga francesa em que pensamos ‘Vamos ganhar tranquilamente, nem é preciso nos preocuparmos.’ Isso não existe. É preciso estar sempre no máximo e ainda mais num clube como o PSG e numa seleção como a portuguesa. Sempre no máximo, sempre concentrado, sempre a querer ganhar de três em três dias. Porque quando assim não acontece é o descalabro. Hoje, as equipas tornam-nos a vida muito difícil. Nós, eu e o João, como disse, mas também todos os outros jogadores gostam de ter a bola no pé e gostam de criar, gostam de jogar como jogavam quando eram crianças. Isso vai sempre fazer muita falta. Vai ser sempre a razão pela qual as pessoas dão por nós. Não posso dizer que darão por mim ou pelo João, mas sempre por um Yamal, um Dembélé ou um Pedri. Não importa. Vão sempre ao estádio querer ver futebol por causa desses jogadores, porque o que fazem é bonito de ver e é o que nos apaixona…

— São esses os diferenciados…

— Esse tipo de jogadores tem de se adaptar ao jogo de hoje. Têm de continuar a fazer o que sabem fazer melhor, que é realmente o que os diferencia, mas sabendo que não o podem fazer da mesma forma como há dez anos, ou 15 ou 20. Têm de ser outros jogadores com as mesmas características. Há que correr, há que estar presente na fase defensiva, há que jogar para a equipa. É difícil quando assim não acontece.

— O que valoriza mais em 2025: os prémios individuais, as conquistas coletivas ou a ideia de que já está lá no topo e já é um dos melhores do mundo?

— As duas últimas. Os prémios coletivos que tivemos e a ideia de que já estou lá, mas sem a ilusão de que está feito. Agora, vem o mais difícil. Claro, já estou lá. E pela minha experiência, porque não me considero jovem, mas pelo que já passei, sei que o mais difícil é mesmo manter. Pelo que vejo e também pelo que sinto do nível em que estamos, manter isso durante tantos anos, como vi lendas do futebol a fazer… não percebo como o conseguiram. É mesmo muito difícil. Ano após ano, estar ali com um coletivo forte, individualmente forte, sempre naquele nível… Vou fazer de tudo para que assim aconteça. Vou dentro do campo e fora do campo dar tudo para estar ao meu melhor nível, para ajudar a equipa e para individualmente também manter esse registo do qual agora não quero sair. Mas, ainda assim, ponho os coletivos primeiro, porque, principalmente, ter ganho um troféu com a Seleção e a Champions League é indescritível. Foi perfeito.

Vitinha, Figura do ano de A BOLA, ao piano - Foto: André Carvalho

— Houve algum momento em que tenha olhado para trás e tenha dito para si mesmo ‘Uau, cheguei mesmo até aqui?’

— Não, até acabar o ano. Até ir de férias. Porquê? É uma sequência imparável de jogos, de momentos em que não dá para sentar, respirar, falar com a família. ‘O que é que eu consegui? Olha, não dá, não dá mesmo.’ Jogámos a final da Champions e dois dias que estávamos na Liga das Nações, jogámos a meia-final e a final e no dia a seguir fomos para os Estados Unidos, para o Mundial de Clubes. Ou seja, não dá nem para festejar bem. Pronto, fomos de férias. Sentei com a minha família e amigos, e são até eles que me dizem: ‘Conseguiste! Finalmente!’ Mas ainda não dá para sentir isso. Com o tempo é que vai saber bem olhar para trás e perceber que consegui… Sabe muito bem no momento! Quando ganhei a Champions, depois do apito final, incrível! A Liga das Nações igual! Mas não é aquela sensação de me aperceber do que é que acabei de fazer. Com o tempo, olhar para trás, vendo as imagens, vou ter outra noção e dar outra importância. Já dou muito agora, mas vai ser mais sentida. Vai ser mesmo o que eu sonhava quando era miúdo, quando via os meus ídolos, as minhas referências a ganhar a Champions e dizia ‘se um dia ganhar isto para mim está feito’, algo que agora já não digo. Agora há já outros objetivos, claro.

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