Vitinha, Figura do Ano para A BOLA, diz que é a altura de viver o presente.

«Não revi a final da Champions porque não posso ficar em estado de graça»

Vitinha quer-se manter focado nos muitos objetivos que PSG e Seleção têm no próximo ano

— A final da Liga dos Campeões resultou de um plano perfeito ou até correu melhor do que estava à espera?

— Ainda ontem estava a falar disso com amigos. Consegue imaginar o que um jogador que vai jogar uma final da Liga dos Campeões pensa na noite anterior a tentar dormir? Passam milhares de cenários na cabeça, milhentos positivos, negativos e em nenhum, mesmo em nenhum, íamos ganhar por 5-0 da forma inequívoca que foi. Foi um dos melhores dias da minha vida. Um dia perfeito em todos os sentidos. Tinha a minha família toda lá. As minhas filhas, os meus pais, a minha irmã, amigos próximos. Estavam todos muito entusiasmados com o que poderia acontecer e eu igual. Queria muito estar bem e poder ganhar a Liga dos Campeões, que já por si só é uma Liga dos Campeões, mas em Paris era ‘a tão esperada Liga dos Campeões’. Ter sido daquela forma, em que mesmo as pessoas que não gostem tanto do PSG ou de nós conseguem dizer nada…

E perante o adversário que era…

— Exatamente. E já sabemos como as equipas como o Inter são difíceis…

— …bem trabalhada, organizada…

— … que às vezes estão ali e nem querem grande coisa, mas está ali no 0-0 e é difícil. E esses cenários passam-nos todos pela cabeça. O 5-0 da forma que foi, nunca me passou, mas felizmente aconteceu assim. Foi um dos melhores dias da minha vida. Foi perfeito. Tenho até um vídeo no terceiro golo em que faço a assistência. Desde o início, a minha irmã estava só a gravar os adeptos, que são inacreditáveis em Paris, não param de cantar o jogo todo e na Liga dos Campeões é igual. Estava a gravá-los a cantar, a saltar. Passa para o relvado, eu dou a bola e golo. Depois, está o meu pai a chorar. A minha mulher. Ela tem esse vídeo de dois ou três minutos e é inacreditável. Não percebo o que aconteceu naquele dia, tudo se alinhou e foi incrível.

— O facto de ter sido frente a esse Inter consistente do Simoni Inzaghi, um Inter já tinha ido longe em edições anteriores da Liga dos Campeões…

— Que eliminou o Barcelona

— Que eliminou o Barcelona em dois jogos loucos…

— Adorei ver os dois jogos.

— Isso faz com que simbolize o início de uma era, a era do PSG?

— Espero bem que sim. Mas volto a dizer o que disse anteriormente: também sei o que a casa gasta. O futebol é o momento, muda muito e muito rápido. Temos de prová-lo em todos os jogos, todos os fins de semanas, todos os encontros de três em três dias…

— Já sofreram com o Bayern, por exemplo...

— Neste momento, Bayern e Arsenal são as equipas mais fortes. Tal como nós, mas será muito, muito complicado. Tivemos também muitas baixas e ausências nessa altura e ainda agora, nesta parte da época, porém foi muito difícil. O Bayern é uma equipa supercompleta, muito bem treinada pelo Kompany, com superjogadores, que jogam todos para o coletivo. Eu vejo o Olise a vir defender à beira do lateral, o Luís Dias também, ainda o Kane a fazer carrinhos na defesa e a fazer passes como se estivesse a jogar a pivot. É uma superequipa. É realmente a equipa que está melhor, a par de nós e do Arsenal.

— Não voltou a rever essa final?

— Ainda não vi do início ao fim. Adorava ver, mas vai prender-me um bocadinho ao passado. E estamos a precisar de encaixar performance atrás de performance, de três em três dias, ganhar, estarmos competitivos, e não quero estar em estado de graça, não quero estar a ver e… ‘Ah!’… porque há foi. É verdade, é tão bom, mas já foi. E se paro por um momento a ver… É porque sabe bem, sabe bem ao meu ego, sabe bem à minha família, sabe bem a toda a gente ver e dizer ‘olha o que conquistámos.’ Mas terei de fazer isso ou quando estiver de férias, porque aí estou mesmo a descansar, ou quando parar um dia, porque entretanto vai deixar-me num estado em que não posso estar. Tenho de estar alerta, tenho de estar a querer fazer mais e melhor. É o que é, é cansativo, é duro, mas traz mais resultados do que nos saber bem ver uma final da Champions porque correu bem ou a ver grandes momentos, porque me deixa desatualizado.

Em vez de nos motivar, Luis Enrique trouxe-nos cá para baixo antes da final da Champions

— Além do 5-0, há algo mais no jogo que a surpreenda?

— Em que aspeto?

— A forma como o jogo correu, alguma exibição individual, por exemplo? A forma como foram chegando rapidamente ao resultado?

— Foi mais por aí, a forma como conseguimos construir o 5-0. Com todo o respeito pelo Inter, que tem grande jogadores e grande equipa, se virmos o jogo e os lances que tivemos, podíamos até ter feito mais e serem seis, sete. Com todo o respeito, mas podia, porque houve realmente oportunidades para isso. Fiquei surpreendido por isso. Agora, é uma final de Liga dos Campeões. Acredito e imagino a vontade que eles também tinham de ganhar, de defender, de jogar, de marcar, de poder conquistar ali a taça dos campeões. E quando tens uma equipa recheada de grandes jogadores e uma grande equipa a tentar do outro lado fazer o oposto do que queres fazer, ou seja, o mesmo embora em oposição, e mesmo assim consegues fazer aquilo tudo, é a maior afirmação que podes ter no futebol mundial em termos coletivos. Agora, o que foi essencial foi o nosso mister. No pré-jogo, dois, três dias antes, o que é se diz aos jogadores? Não vais estar a motivar ninguém para uma final da Liga dos Campeões. E ele fez exatamente o contrário. Tentou acalmar-nos. ‘Calma, este jogo vai ganhar quem estiver mais perto dos 100%, ou seja, vocês vão estar a 150, 160, 170, mas venham aqui para baixo, porque eles vão estar a 120, 130 e quando queres assim tanto uma coisa às vezes bloqueias. Percebes que queres mesmo uma coisa, queres muito ganhar e às vezes é contraproducente. Fez todo o sentido e acho que foi a chave. Puxou-nos para baixo. Estejam a 100%, mas não estejam mais do que isso. Vai ser contraproducente. Vai jogar contra nós. Lembrem-se: é um jogo. Já sei que é importante. Não há como dizer que a final da Champions não é importante, mas a vida continua.

— Esse discurso é recorrente em Luis Enrique…

— ‘A vida vai continuar’… Percebo perfeitamente o discurso dele. E concordo. A vida continua. Sabemos que é superimportante. Não vou estar aqui a explicar o quanto significa para nós, ainda por cima depois do percurso tivemos, mas realmente pensei ‘se eles vão entrar com tudo o que têm e se estivermos mais tranquilos mesmo que a não 100%, eles vão estar demasiado acima. Foi muito o que aconteceu. Vi a cara deles e senti que não conseguiam perceber o que se passava. Queriam dar e não conseguiam. Estavam bloqueados. E tivemos também a fortuna, a sorte de conseguir marcar cedo. E, depois, as coisas fluíram de forma supernatural.

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