Mikel Arteta chegou ao Arsenal em dezembro de 2019, Ruben Amorim assumiu o Man. United em novembro de 2024 - Foto: IMAGO
Mikel Arteta chegou ao Arsenal em dezembro de 2019, Ruben Amorim assumiu o Man. United em novembro de 2024 - Foto: IMAGO

Arteta serve de exemplo, mas Amorim fez ainda pior

Um dos donos do Man. United recordou que os dois primeiros anos do espanhol no Arsenal foram «miseráveis». Comparativo dos primeiros 50 jogos deixa o português num buraco ainda maior

Ruben Amorim recebeu muito recentemente o respaldo de um dos donos do Manchester United. Em entrevista ao podcast The Business, do jornal inglês The Times, Jim Ratcliffe, que tem uma posição minoritária mas assume as rédeas do clube por estar mais perto das decisões (a família Glazer, com a maioria do capital, está nos Estados Unidos), lembrou que o português «tem três anos para mostrar que é um grande treinador», afirmando que no futebol as mudanças profundas não acontecem «de repente». E deu o exemplo de Arteta no Arsenal: «Ele teve um início miserável nos primeiros dois anos.»

Os dados demonstram-no: foi preciso esperar para os londrinos subirem ao patamar de candidato ao título. Mas na leitura ao que aconteceu nos 50 primeiros jogos do espanhol e do luso em ambos os conjuntos chega-se à conclusão de que  o buraco de onde Amorim tem de sair é ainda maior.

Arteta foi menos mau em quase todas as variáveis. Ganhou 27 vezes contra apenas 19 de Amorim, empatou 10 (12 para Amorim), perdeu 13 (contra 19), os golos marcados foram quase os mesmos (79/78), mas sofreu menos (48/76). Sem qualquer brilhantismo, os gunners ainda assim estiveram 18 jogos sem sofrer golos neste período, algo que só por oito ocasiões aconteceu com os red devils.

Tal como o ex-técnico do Sporting, Arteta também chegou no inverno (dezembro de 2019). Pegou na equipa em 10.º lugar e conseguiu subir duas posições no final da temporada, enquanto Ruben Amorim chegou com o United no 14.º posto mas acabou ainda mais abaixo (15.º), a pior classificação de sempre do clube.

Curiosamente ambos atingiram finais na temporada de estreia: o Arsenal chegou ao jogo decisivo da Taça de Inglaterra (FA Cup) e venceu o Chelsea, ao passo que o emblema de Manchester disputou a final da Liga Europa com o Tottenham, mas perdendo para os londrinos.

Cinco de fora do primeiro onze

Também ao nível do investimento se pode fazer comparações. Num levantamento feito pela Sky News, Amorim recebeu menos jogadores e gastou mais que Arteta no mesmo ciclo de 50 jogos e com duas janelas de transferências. Ressalvando que o mercado evoluiu em cinco anos, a diferença ainda assim é grande: o Manchester United gastou €267 milhões para ir ao encontro dos pedidos do português, o Arsenal despendeu 94 milhões de euros - o mais caro foi Gabriel Magalhães, contratado ao Lille por €31 milhões.

Dos dois primeiros mercados dos gunners sobrou muito pouco. O central brasileiro é único que se mantém (titularíssimo e unanimemente considerado um dos melhores da posição na Premier League), mas a opção de trazer muitos jogadores a custo zero (incluindo o campeão europeu por Portugal, Cédric Soares) não produziu grandes resultados: na temporada 2020/21 (a primeira inteira com Arteta no comando) o Arsenal não melhorou a classificação final da época anterior, acabando novamente a Premier League no oitavo posto, o pior registo desde 1992/93 quando a formação da capital acabou o campeonato no 10.º lugar.

Tudo agora é diferente e do primeiro onze utilizado por Arteta apenas sobra Bukayo Saka. Com muito menos tempo decorrido, Amorim já produziu mudanças, porque cinco jogadores da primeira equipa titular (Ipswich Town, 24 de novembro) já não fazem parte do plantel: Onana, Jonny Evans, Eriksen, Garnacho e Rashford.

Talvez resida aqui a esperança de quem manda no Manchester United: de que o processo de mudança está em curso e o êxito, esperam, virá a médio prazo, tal como o Arsenal. Mesmo que o ponto de partida seja pior.