Em entrevista a A BOLA, Luís Filipe Vieira recupera ataques ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol

«Proença? Dizem que é um deus, mas nada fez pelo futebol português»

Luís Filipe Vieira mantém a mira apontada ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol, lançando um duro ataque

- Caso seja eleito presidente do Benfica, como é que vai resolver o problema com Pedro Proença?

- Eu não vou resolver problema algum, quem criou os problemas foi o presidente da Federação. E não foi só ele, acho que o Benfica devia ter tomado uma posição nas eleições da FPF. E logicamente aquele manto verde que está lá. Tinha também de ser azul, vermelho, verde, tinha que ser... Não podia ser de uma cor só.

- Frederico Varandas disse que Proença fez um mapeamento na Federação das afinidades clubísticas e 38 por cento dos órgãos sociais eram do Benfica.

- Nem quero falar disso. Mas Frederico Varandas está a fazer um trabalho extraordinário. Ele zelou pelos interesses do Sporting, nós é que não zelámos pelos nossos. E o FC Porto também não zelou. Eu já contei o que se passou na Liga há uns anos, fui eu que liguei para o presidente Pinto da Costa e disse-lhe: ‘temos de nos juntar, temos que falar seriamente sobre isto’. E ele disse íamos resolver o problema. Encontrei-me eu, o Domingos, o Antero, o António Salvador e o Júlio Mendes no Hotel das Lágrimas em Coimbra.

- Sem ninguém do Sporting…

- Naquela altura era impossível falar com Bruno de Carvalho. Na reunião eu disse que tínhamos de acordar uma coisa: ninguém do FC Porto ou do Benfica poda ficar nos órgãos sociais. Ou seja, não há interesse algum. Aquilo foi de tal forma tão transparente que quando nos reunimos a segunda vez, pronto, ficou logo decidido. Ele queria uma determinada pessoa [para presidente da Liga], eu disse que esse homem era do FC Porto e não podia ser. ‘Então escolhe tu’ e eu indiquei o nome de Luís Duque, cuja entrevista que ele dera a A BOLA estava a ler nesse dia. Para a Assembleia Geral foi moeda ao ar entre o [António] Salvador e o Júlio [Mendes]. E o Salvador foi o presidente da Assembleia Geral. O resto dos órgãos sociais foram os outros clubes que trataram disso tudo.

- Mas defende um modelo de moeda ao ar?

- Eu não defendo moeda ao ar, defendo é que o Benfica tem de zelar pelos seus interesses. Neste momento não zelou e foi altamente prejudicado. Não tenho dúvidas nenhumas. Alguém vai acreditar que não foi prejudicado gravemente?

- Mas um erro de arbitragem é um facto, outra coisa é o que está por trás…

- Nada estou a insinuar. Mas sei bem as ligações que estas pessoas todas têm, não sou anjo algum. Eu sei o que é que tive que lutar para, na realidade, também andar livre e ter a certeza que as coisas iam caminhar às direitas. Não estava a ser ultrapassado. E o Benfica, neste momento, foi largamente ultrapassado e não sei como é que vai recuperar.

Análise ao trabalho de Villas-Boas no FC Porto e a gestão do SC Braga
O SC Braga deve ser o clube em Portugal que gere melhor. Tem que sonhar também, quer subir e tem de sonhar um pouco. Se vendeu bem, se deu bem, tem tudo pago. Mas o Braga é aquilo que, na realidade, gera muito melhor no futebol português. Também tem espaço para isso, não é um clube grande, não tem tanta pressão. Mas o António Salvador é exímio nisso. Ainda agora fez uma venda de 40 milhões de euros. E já tem quatro ou cinco jogadores titulares que vêm da formação. - Como analisa o trabalho de Villas-Boas no FC Porto? - Está a fazer um trabalho também muitíssimo positivo para o Futebol Clube Porto. Fez uma coisa que é importante: resolveu o passado, criando mais dívida, tinha de criar, logicamente, como nós também fizemos, e estabilizou o futebol, pois sem futebol, sem ganhar, não se consegue estabilizar um projeto. Mas atenção que [Frederico] Varandas também apanhou o Sporting muitíssimo mal, atenção, e está a fazer uma obra fantástica.

- Mas sabe que os seus rivais dizem que o Benfica ultrapassou em demasia…

- Acha? Basta olhar para as equipas do Benfica para ver se o Benfica tinha necessidade de alguma coisa.

- Mas como serão as relações a partir de dia 25, se vencer as eleições?

- Já disse 30 vezes, logicamente que a minha relação com ele não vai ser uma relação boa. Será possível que andou toda a gente distraída, que não percebia que havia um manto verde ali metido? É só Sporting, Sporting, Sporting. Isto foi feito propositadamente. Não digam, como ouvi agora o Sr. Pedro Proença dizer, que só está lá gente competente. Então o Benfica não tem gente competente, o FC Porto não tem gente competente, o SC Braga não tem gente competente, são tudo uma cambada de incompetentes? Para a Federação, se calhar é preciso ser sócio do Sporting para ser competente.

- Mas isso lá vai com uma mudança de pessoas em determinados cargos, ou a mudança tem de ser muito mais profunda?

- De certeza que não vai haver ambiguidades. Quem é que é o Presidente do Conselho de Arbitragem? Quem é que manda na arbitragem? Hoje a Federação é o senhor Pedro Proença, pronto. Dizem que é um Deus, eu acho que não foi, acho que nada fez para o futebol português, pelo menos na minha ótica. Promoveu-se muitíssimo bem com o dinheiro dos clubes. E agora, olhe, com aquele evento que houve ali [Football Summit], dava para o orçamento que os clubes da segunda divisão ambicionam, que é ter um milhão e meio de euros. Dava para o orçamento deles, compreende? Aquilo foi para quê? Serviu os interesses do futebol português? Temos almoços, jantares, apresentações, as pessoas até levam um papelinho na mão para saberem o que dizer. Se for para os tribunais, digo-lhe a verdade toda, comigo nunca mais terá mais descanso.

- Quem manda na arbitragem, afinal?

- Pedro Proença. Estava lá bem escrito. Até hoje não teve a humildade de chegar cá abaixo e dizer ao Benfica que houve um erro crasso naquele jogo [final da Taça de Portugal]. Mas como foi possível o Benfica não ter notado isto, meu Deus? Não é que eu tenha alguma coisa contra o Sporting, nada tenho, vamos lá ver claramente. Até admiro o trabalho que Varandas está a fazer.

- A arbitragem devia ser independente, no seu entender?

- Os árbitros devem ser independentes. Quem fizesse mal seria responsabilizado. Agora, o que se tem passado é precisamente o contrário. Eu até estou convencido que se não fosse esta pressão toda que houve o SC Braga não teria tido aquele penálti em Alvalade a favor aos 90 minutos.