Em entrevista a A BOLA, Luís Filipe Vieira fala da estratégia para os dois anos de negociação dos direitos televisivos e o compromisso da centralização.

«Consigo €140 milhões para dois anos de direitos televisivos»

Mas o valor vai baixar quando entrar em vigor a centralização; a não ser que «haja um milagre»; Rui Costa «não sabe» como o fazer

- Que tipo de acordo tem estabelecido para os direitos televisivos de 2026 a 2028?

- Não tenho acordos com ninguém. Eu sei é que sou capaz de negociar, isso é outra coisa.

- Quais são os seus objetivos para esse acordo?

- Acho que consigo chegar aos 65, 70 milhões de euros por ano. Curiosamente, o presidente Benfica agora também falou em 70 milhões de euros, mas andava a falar de 30, 35 milhões. Já aumentou a parada. Não vai, não consegue lá chegar, tenho certeza disso. Nem sabe como é que se pode lá chegar tão pouco. Mas eu tenho a noção exata que consigo entre 130 e 140 milhões de euros para o Benfica.

- Valor para dois anos, portanto...

- Sim. Depois será a centralização.

- Mas como consegue duplicar a receita para o Benfica relativamente aos valores atuais?

- Também me chamaram doido quando pedi €400 milhões por dez anos. Ninguém acreditava, mas lá fiz.

- Os jogos continuarão a ser transmitidos na BTV?

- Ficam na Benfica TV.

- E conseguirá esses valores para o Benfica no bolo da centralização? Conseguirá o futebol português vender-se por valores proporcionais à subida que pretende para o Benfica?

-  Sabe qual é o problema grave? A pessoa que mais insistiu na centralização dos direitos televisivos foi Pedro Proença. E andou a iludir todos os outros clubes, exceto os grandes. Andou a iludir toda a gente que ia arranjar não sei quantos milhões, ou 300 milhões para os direitos televisivos, íamos ter dinheiro para toda a gente, ninguém ficava prejudicado. Entretanto, foi reeleito e assumiu um compromisso que só pensava na Liga Portugal, não pensava em mais nada. Até se falou da Federação, mas que não pensava nisso. O certo é que ele, enquanto presidente da Liga, não fez outra coisa que foi andar-se a promover e arranjar maneira de ir para a Federação Portuguesa de Futebol. E os direitos televisivos deixou-os, para o outro que viesse, deixou-lhe a herança da sede, são trinta e tal milhões de dívida. E não resolveu o problema. Este que entrou [Reinaldo Teixeira] é que ficou com o menino nas mãos. E acho que ele se tem dado muitíssimo bem.

- Mas é a favor ou contra a centralização?

- Alguma vez o Benfica pode estar contra? Mas temos de zelar pelos interesses. Mas vou-lhe recordar uma história: quando andei a negociar sponsor para o Benfica, andámos os três grandes a negociar o mesmo produto com a mesma empresa. E ficou acordado entre todos que o Benfica recebesse uma diferenciação de 25% em relação ao preço do Sporting e do FC Porto, isso até estava escrito. Mas depois apareceu-nos a Sagres e aí cada um caminhou sozinho. Mas a verdade é que falámos uns com os outros, porque ao fim ao cabo isto é um negócio.

- O Benfica nunca sairá da mesa das negociações numa centralização?

- Nem pode sair, o Benfica tem de liderar.

- Portanto, quer ganhar 70 milhões por ano de 2026 a 2028, negociando sozinho. Mas a partir de 2028, quando entrar a centralização, conseguirá o Benfica continuar a receber esse montante?

- Não, não vai ter, não tem hipótese, só se houvesse milagres neste país. Só se o Governo se envolver a sério na questão da pirataria.

- O que poderia valorizar o bolo total?

- Estou lá é para defender os interesses do Benfica. Mas terá de haver unanimidade nos clubes todos. Mas não poderá haver situações menos claras no futebol, principalmente ao nível dos licenciamentos, que é uma brincadeira.