Palestina também joga na Europa

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Em apenas dois dias Oslo, capital da Noruega, esteve nas notícias. Primeiro, sexta-feira, o Comité Nobel anunciou o Prémio Nobel da Paz, atribuído à venezuelana Maria Corina Machado, uma ‘desfeita’ a Donald Trump, que ‘deu tudo’ para acabar com uma dezena de guerras, e efetivamente mediou um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, mas já não a tempo de ser considerado para a escolha do Comité.

Por falar em Israel, no dia seguinte a seleção jogou ali mesmo na qualificação para o Mundial 2026 naquela que, segundo o jornal The Guardian, foi «o evento desportivo com mais segurança na Noruega desde os Jogos Olímpicos de Inverno de 1994».

Antes da goleada de Haaland, Schjelderup e companhia (5-0) foram implementadas na capital medidas antiterrorismo e foi estabelecida uma zona de exclusão aérea sobre o Estádio Ullevaal.

Houve detenções, manifestações na rua e dentro do estádio, com várias bandeiras palestinianas mostradas, a tarja «deixem as crianças viver», e a federação norueguesa foi desafiante ao decidir que as receitas do jogo seriam doadas aos Médicos Sem Fronteiras que trabalham em Gaza.

A mensagem passou: é incómodo ter Israel a disputar a qualificação na Europa, e foi-o sobretudo nos últimos meses, altura em que seguramente a aprovação israelita pela opinião pública baixa muito. É assim desde 1992, ano em que Maccabi de Telavive e Hapoel Petah-Tikva fizeram história ao tornarem-se os primeiros clubes israelitas nas competições europeias. Nunca como este ano se notou a insatisfação, em setembro verbalizada pelo treinador de Itália, Gennaro Gattuso, que lamentou ter ficado no mesmo grupo que os israelitas dada a tensão extra que acarreta. Israel joga na Europa, mas sábado a Palestina também jogou.

Israel jogará ainda em Itália, havendo a expectativa de que se o recente acordo alcançado entre as partes em conflito ajuda a aliviar a pressão.

Outro incómodo chegou também dos Estados Unidos. Parece difícil de crer que um país que tanto se quer fechar e persegue e detém imigrantes nas ruas, vai dentro de meses receber um evento com 48 seleções mundiais – os iranianos, qualificados, já estão com medo de não ter vistos. A disseminação do envio de tropas da Guarda Nacional para várias cidades americanas, nomeadamente Chicago, levou à passagem do Argentina-Porto Rico daquela cidade para Miami, onde a campeã do mundo já ia jogar. Como estarão as coisas em junho? Trump já aflorou que gostaria de mudar algumas cidades-sede, resta saber o quanto conseguirá a FIFA aguentar.