Fábio Veríssimo reage ao comunicado do Benfica: «Não me deixa magoado»
Fábio Veríssimo foi o eleito para liderar a equipa de arbitragem da Supertaça entre Benfica e Sporting, e abordou vários temas em conferência de imprensa de antevisão a essa final, incluindo o comunicado dos encarnados sobre a sua nomeação, que foi bastante criticada, algo que o próprio desvalorizou.
- É a sua primeira Supertaça, já esteve numa final da Taça de Portugal, também numa final da Taça da Liga. Era um objetivo para si também, enquanto árbitro, poder estar num grande jogo de uma Supertaça? E é o quinto encontro entre o Benfica e o Sporting que vai dirigir na carreira. É especial pelo facto de ser entre duas equipas grandes e que têm aqui um grande historial de rivalidade?
- A Supertaça é sempre um jogo grande. Qualquer árbitro, quando tira o curso, tem sempre o objetivo em mente de fazer grandes jogos. E eu não fujo à regra. A Taça de Portugal é um grande jogo, a Supertaça também é um grande jogo. E, respondendo à segunda pergunta, já fiz várias vezes o Benfica-Sporting e este vai ser mais uma vez, mas tem um carácter especial, porque é o primeiro jogo da época e espero começar bem para que a época seja positiva para a arbitragem portuguesa.
- É um tema incontornável, o Benfica fez um comunicado onde deixou algumas críticas ao seu trabalho. Como é que encara isso, é algo que o deixa, de certa forma, até magoado, e se acaba, nem que seja no seu subconsciente, por o afetar?
- Não. Relativamente a comunicados eu não tenho nada a comentar, mas não me deixa magoado.
- É inevitável também, incontornável falar deste tema, porque, de facto, foi um comunicado dirigido a si, de que beneficiou o Sporting e prejudicou o Benfica, falou-se em erros graves de arbitragem da sua parte. Pedia-lhe que reagisse e perguntava-lhe também que impacto têm estas declarações à porta da Supertaça e se condiciona de alguma forma o seu trabalho e também, devido ao último encontro entre estas duas equipas na Taça de Portugal e toda a polémica que houve à volta da arbitragem, que preparação é que necessita fazer para este jogo, sobretudo psicológica?
- A preparação psicológica é igual como todos os jogos. Nós preparamos, estudamos as equipas, temos também sempre em atenção os últimos encontros entre as próprias equipas e, neste caso especial, também por ser o primeiro jogo da época, também temos que ter isso em linha de conta, porque também os jogadores ainda não estão na sua melhor fase de forma. Mas o que é importante também para nós não são essas coisas, porque isso são tudo fatores externos que não devem influenciar a equipa de arbitragem. O que é importante é que o jogo vai ser visto por muitas pessoas aqui no estádio, vai estar cheio, muitos turistas do Algarve, imigrantes que estão cá de férias. Isso é o mais importante, e no final ninguém falar da equipa de arbitragem, que é aquilo que se espera sempre.
- Temos a possibilidade de ouvir um árbitro antes de um jogo grande e de um troféu, mas para si, não sendo de certa forma que estão a colocar em causa o seu carácter e o seu profissionalismo enquanto árbitro, um árbitro internacional que já com tantos jogos, o facto de haver um comunicado destes onde se afirma que beneficia um clube e prejudica o outro, não o afeta e não o ataca acima de tudo como ser humano e também como profissional?
- Como eu já disse, não faço comentários sobre comunicados.
- É normal aquela conversa antes do apito inicial com os dois capitães de equipa? O que é que lhes vai dizer e pedir amanhã?
- Vou-lhes desejar boa sorte, vou-lhes pedir para respeitarem a regra do capitão, vou-lhes relembrar que este ano há alteração dos oito segundos na regra do guarda-redes e vou-lhes pedir colaboração, porque são os líderes das equipas e têm uma responsabilidade acrescida no clube que representam.
- Já está preparado para adotar ou para pôr em prática as novas cinco diretivas que foram anunciadas para esta nova temporada? Está preparado para aplicar e sente que são medidas que são necessárias e vêm em boa altura?
- Estou preparado, porque também sou obrigado, não é? Tenho de fazer cumprir as leis de jogo e isto é uma prova oficial, tenho de aplicar as leis de jogo. Tudo o que é feito de novas alterações às leis de jogo foi estudado, foi posto à prova por as entidades que regulam o futebol mundial e acho que é para melhorar o jogo e eu concordo com elas.
- Às vezes não temos muito essa consciência, dúvidas, curiosidades e gostaríamos de saber, por exemplo, quando marca uma falta tenta explicar ao jogador por que é que assinalou essa infração. Quando se dirige aos jogadores acaba por ter alguma proximidade, chega a tratá-los pelo nome, dá até abertura para que discutam consigo as faltas. Como é que faz essa gestão dentro de campo?
- Depende sempre do jogador que está envolvido na situação, no incidente. Há jogadores que não conversam com os árbitros, não falam com os árbitros, eu também não dou uma abertura, eu também não tento invadir o espaço deles. Mas quando eles me questionam de algo eu tento explicar de uma forma pedagógica.
- Estes jogos são muito quentes, já se sabe entre adeptos, Benfica e Sporting, dois dos maiores clubes do campeonato português, vai haver um clima, se calhar, também quente nas bancadas. Que mensagem, gostaria de deixar também aos adeptos para que tudo corra bem, para que haja fair play, porque muitas vezes o inimigo comum é o árbitro...
- A mensagem que eu gostaria de deixar é que apoiem os seus respetivos clubes de uma forma positiva, com o máximo fair play, por respeito pelos intervenientes, quer os seus próprios jogadores, porque às vezes também os adeptos não são corretos com a própria equipa, como também a equipa adversária e a equipa de arbitragem. E, no fundo, também que respeitem o futebol e as pessoas que estão a ver.
- Foi jogador de futebol antes de ser árbitro, de que forma é que isso ajuda a olhar para o jogo e para o jogador, se faz com que tenha uma visão diferente por ter andado lá do outro lado? Já que falámos das novas diretrizes, mas também agora vocês trabalham num novo espaço, a Cidade do Futebol, que agora junta todos os árbitros da zona de Lisboa e arredores. Como é que tem sido também trabalharem todos juntos num espaço preparado a pensar em vocês?
- Relativamente à primeira questão, efetivamente eu joguei futebol desde o tempo que fui para a escola primária até aos 19, 20 anos. Já era árbitro e jogava futebol. E isso também me dá uma sensibilidade extra para perceber o que é natural, o que é que não é natural, o que é cavado, o que é que não é cavado. Também às vezes para ter mais condescendência com certas frustrações dos jogadores, porque eu sei que eles estão... Eu quando jogava à bola também achava que nunca fazia faltas. E eles também muitas vezes estão tão imbuídos na disputa de bola, tentam ganhar os lances, que não aceitam, não percebem que efetivamente fizeram as faltas. E o facto de eu ter jogado a bola dá-me conhecimento do jogo e dá-me ali umas competências de perceber certas situações que acontecem a só quem passou por aqueles momentos consegue identificar. Relativamente à sua segunda questão, é verdade que nós temos um novo espaço e agradecemos muito o esforço que têm feito para receber a arbitragem como a 30ª seleção nacional na cidade do futebol. E é o que tenho a dizer sobre isso, estamos contentes.
- Na arbitragem e num jogo de futebol utiliza-se muito a palavra critério, se o critério é mais largo, se é mais rigoroso, para um jogo desta importância onde está um título em jogo como é que é feito esse trabalho?
- Nós nunca podemos ir com estereótipos nem coisas pré-definidas para dentro do jogo. Podemos fazer um estudo das equipas, mas depois temos que adaptar o nosso critério às circunstâncias que vão acontecendo. O jogo tem 90 minutos e também tem a ver com a abordagem dos próprios intervenientes ao jogo e vamos adaptando o nosso critério. Há alturas que podemos ter um critério mais largo, outra vez temos que estreitar o critério e é assim que funciona.
- Que significado tem para a arbitragem portuguesa e também para o Fábio [Veríssimo] ver João Pinheiro nomeado para dirigir a Supertaça europeia?
- Para mim é um grande orgulho, porque é um amigo meu, é um colega, é português, está a representar Portugal e poucos conseguem atingir esse feito e penso que é o princípio de coisas muito boas que vêm num futuro próximo.