O Benfica, presidido por Rui Costa, reforçou a equipa e ainda fechou o mercado com saldo positivo
O Benfica, presidido por Rui Costa, reforçou a equipa e ainda fechou o mercado com saldo positivo — Foto: IMAGO

É tempo de fazer contas

O Benfica não foi ao casino. Foi ao mercado. E no mercado, quem sabe negociar não joga às cegas: pesa, calcula, equilibra. É isso que distingue a aposta irracional da estratégia consciente. Crónicas de bancada é o espaço de opinião de Hugo Oliveira, sócio do Benfica e deputado à Assembleia da República

Com o fim de agosto fechou-se o mercado de transferências, terminou o primeiro ciclo competitivo e foram apresentados os resultados financeiros de 2024/2025. O calendário fechou um capítulo e abriu outro. É o momento certo para parar, olhar para trás e fazer contas no Benfica.

Durante semanas repetiu-se que o Benfica estava em all in. Como se fosse um jogador perdido numa mesa de casino, disposto a empurrar todas as fichas para o centro numa jogada desesperada para salvar o presente e hipotecar o futuro. Essa narrativa encheu jornais, debates televisivos e conversas de café. Repetida tantas vezes, parecia ganhar consistência. Mas, quando o mercado fechou e os números foram analisados com calma, a história revelou-se bem diferente.

O Benfica não foi ao casino. Foi ao mercado. E no mercado, quem sabe negociar não joga às cegas: pesa, calcula, equilibra. É isso que distingue a aposta irracional da estratégia consciente. O Benfica contratou reforços importantes, jogadores com qualidade e ambição para uma época longa. Investimento no presente, mas também no futuro.

Ao mesmo tempo que contratava, o Benfica também vendia. E vendeu bem. Não foram liquidações ou saldos: foram operações que trouxeram receitas relevantes e que superaram o valor investido nas aquisições. O resultado final é simples de enunciar, mas difícil de alcançar: o clube reforçou a equipa e ainda fechou o mercado com saldo positivo.

É aqui que a tese do all in cai por terra. A aritmética é clara: entrou mais dinheiro do que saiu. E, quando os números falam, não há metáforas de casino que resistam. O que parecia risco cego revelou-se planeamento. O Benfica não apostou o futuro numa jogada de desespero. Saiu deste mercado mais forte do que entrou, com a equipa preparada para competir e com as contas em ordem.

Contas em ordem foi também aquilo que revelou o exercício financeiro de 2024/2025 da SAD do Benfica, que registou um resultado positivo de 34,4 milhões de euros. Não é apenas uma linha no relatório: é um sinal de vitalidade que merece ser sublinhado. O clube, tantas vezes avaliado pelo que faz dentro das quatro linhas, mostrou também fora delas a sua força.

O dinheiro veio de onde tinha de vir: da Liga dos Campeões, que continua a ser a maior competição de afirmação internacional e, ao mesmo tempo, uma fonte essencial de receitas. O Benfica sabe que estar na Champions não é só prestígio, é também sustentabilidade. Cada jogo, cada fase ultrapassada, cada noite europeia é um reforço para as contas. Não há outra competição que combine tão bem o coração e a razão: emoção desportiva e robustez financeira.

Veio também do Mundial de Clubes, onde o Benfica marcou presença entre os gigantes do futebol. Essa participação não trouxe apenas projeção mediática e desportiva, trouxe também retorno financeiro. Jogar na montra mundial tem sempre um preço, e o Benfica soube recolher os frutos dessa presença, reforçando o seu nome e a sua posição.

Do mercado chegaram mais recursos. As transferências, cada vez mais inevitáveis num futebol moderno, garantiram ao clube uma almofada importante. Não se trata de vender por vender. Trata-se de um modelo em que a formação, a valorização de jogadores e a capacidade de negociar se transformam em músculo financeiro. Mas não foi só isso. A marca Benfica, viva e poderosa, é também uma máquina de gerar receita. A camisola vermelha não é apenas um símbolo de identidade: é um ativo comercial capaz de atrair patrocinadores, mobilizar multidões e alimentar a economia do clube.

Tudo isto, somado, explica o resultado final. Não é um acaso, não é um golpe de sorte, não é um número solto. É a consequência direta de estar presente nas grandes competições, de ter uma estratégia clara no mercado e de manter viva a força da sua marca.

O que fica desta fotografia é a ideia de que o Benfica não se limita a competir no relvado. Compete também nas finanças, na gestão da sua marca, na capacidade de gerar receita e na forma como transforma cada desafio em oportunidade. Os resultados são positivos porque houve Champions, porque houve Mundial, porque houve mercado e porque há uma marca que continua a ser motor de pertença. É esta soma de forças que permite ao Benfica não apenas sobreviver, mas crescer, num futebol cada vez mais exigente e global.

No fundo, é a confirmação de que o Benfica é mais do que um clube de futebol: é uma força que se expressa nas vitórias, mas também nas contas. E esta vitória, fora das quatro linhas, merece ser celebrada com a mesma intensidade com que se celebra um golo no Estádio da Luz. Porque cada número positivo é também uma forma de vitória, menos visível mas igualmente decisiva.

São resultados financeiros destes que permitem, no futuro, continuar a conquistar os objetivos a que o clube se propõe, tal como aconteceu no primeiro ciclo competitivo da temporada, em que o Benfica cumpriu, com rigor, tudo o que tinha definido. Conquistou a Supertaça frente ao rival, ultrapassou duas eliminatórias exigentes de acesso à Liga dos Campeões e somou três vitórias em três jogos do campeonato. É um arranque limpo que mostra desde cedo a ambição e a preparação da equipa para uma época longa.

Estes números acrescentam corpo e contexto ao balanço do primeiro mês oficial de competição. Enquanto dentro de campo a equipa soma vitórias, fora dele o clube apresenta contas equilibradas, uma estratégia definida e sinais claros de vitalidade. O Benfica mostra, assim, que sabe competir em todas as frentes: no relvado, no mercado, nas finanças e na afirmação da sua identidade. É a conjugação de resultados desportivos e de solidez institucional que dá confiança aos adeptos e garante que o futuro se constrói com bases firmes.