Simões 'cagado', revolução no onze e «terramoto» de Varandas: tudo o que disse Rui Borges
NÁPOLES - Depois de conseguir a sua primeira vitória na UEFA Champions League pelo Sporting em casa diante do Kairat Almaty (4-1), Rui Borges foi derrotado em Nápoles (1-2) e analisou a partida em conferência de imprensa, abordando a grande exibição de João Simões e os erros nos golos do adversário.
- Peço uma análise ao jogo.
- Ao longo dos minutos fomos crescendo e ganhando essa confiança para ter bola. Acabámos por sofrer golo numa transição, num ataque quase de três minutos nosso com bola, onde não podíamos, tínhamos de ser um bocadinho mais maduros nesse momento. Podíamos ter matado ali o jogo, no sentido de fazer falta no início da jogada. Mas percebemos ao intervalo que poderíamos estar a dividir o jogo e poder ser mais agressivos no último terço, ser mais simples em algumas ações. Uma segunda parte muito bem conseguida, jogo dividido, repartido, competitivo. Chegámos ao golo do empate, tivemos a oportunidade do Pote para fazer o 2-1, não fizemos e depois eles num lance em que são fortes, e nós sabíamos - cruzamentos - e metem muita gente na área, e fazem o 2-1. O único lance se calhar de área que não conseguimos anular, acabámos por sofrer golo, e depois no último suspiro até, o Morten tem um grande cabeceamento e é uma grande defesa. Por isso, por tudo o que foi o jogo, por toda a resposta da equipa, individualmente e coletivamente, merecíamos sair daqui, pelo menos, com o empate.
- As mudanças tiveram a ver com a exibição no Estoril?
- O mais honesto possível, não teve nada a ver com o jogo no Estoril, como é óbvio. Teve sim a ver uma ou outra coisa de forma estratégica, mas principalmente com alguma gestão que tínhamos de ter obrigatoriamente com alguns jogadores. O Pote, o Trincão, por exemplo, mesmo o Luis Suárez, por tudo o que tem vindo a fazer. Tínhamos de nos precaver de algumas coisas e foi também alguma gestão.
- É um sinal que a prioridade do Sporting é o campeonato?
- Não tem nada a ver com o pensar que o objetivo é o campeonato, esse claramente é o nosso primeiro objetivo. Tem a ver muito com o momento em si, de alguns jogos, de alguma malta com carga de seleções, de lesões, com pequenas queixas em alguns momentos e nós temos de ter algum cuidado, porque todos vão ser precisos, vai ser uma época longa e queremos ter um plantel equilibrado e ter menos lesões do que na época passada. Há muita coisa que temos de ter algum cuidado, mas a certeza de que a equipa deu uma grande resposta, independentemente de quem jogue. Já disse isso e não digo isso para atirar ao ar, treino o Sporting, tenho um plantel com 28 jogadores, se estão aqui é porque são bons. O João Simões com 18 anos encheu o campo, fez um grande jogo, um miúdo que foi muito importante na conquista do bicampeonato e da Taça de Portugal na época passada, o Quaresma igual. O Ioannidis que veio, mas que é um jogador que claramente sabemos aquilo que nos dá, que substituiu numa fase inicial o Luis Suárez. A equipa deu resposta e os jogadores estão ali para dar a resposta, para mim não precisava de dar, porque sei aquilo que eles dão nos treinos. Feliz pela resposta, mas tivemos de fazer uma gestão neste jogo, mas jamais num sentido de.. não, foi um carregar de jogos que me levou a fazer cinco alterações, se calhar no próximo jogo já não faço tanto.
- A mim não me surpreende, a maturidade que eles demonstraram e dei o exemplo do Simões, que este ano não jogou e de repente o mister diz-lhe uma hora antes do jogo que vai ser titular com o Nápoles e a resposta dele... e eu até me ia metendo com ele... 'estás cagado?' no aquecimento, e ele.. 'não'. É um miúdo extraordinário e fez um grande jogo, nada que eu não tivesse à espera, e o Simões foi também de forma estratégica, apesar de termos de gerir também o Morita, porque vem de lesão e, lá está, há coisas que nós temos, que quem está de fora não dá conta, e eu não posso ser o mais honesto e sincero aqui, mas de forma estratégica sabíamos que o Simões podia ser um jogador importante até pela capacidade física que tem e deu à equipa ao longo do jogo.
- Apesar dos elogios, quão difícil é para um treinador engolir isto?
- Há coisas que não controlamos, e eu vou ser o mais honesto possível, como sempre, eu ao intervalo disse que o único lance que não tivemos bem no jogo... sofremos golo. Temos de sofrer falta e não fizemos. E contra estas grandes equipas, têm grandes jogadores que num momento fazem diferença e pagámos caro esse momento. De resto, dei os parabéns à equipa, o que estavamos a precaver do jogo... aconteceu. A equipa manteve-se rigorosa, concentrada, não os vou culpabilizar de nada, faz parte do erro. É saber reagir a ele, soubemos reagir, chegámos ao empate, tivemos oportunidade para o 2-1. E depois num lance em que sabíamos que eram fortes, na única vez em que não fomos eficazes, sofremos golos. É incrível, porque é do outro lado o cruzamento. É duro, pelos jogadores, para mim não é duro, no sentido em que estou orgulhoso do que fomos capazes. É certo que em pequenos pormenores, mas é a competição em que estamos e eles sabem bem disso. Meia distância acaba por nos sair caro e foi o que nos aconteceu um bocadinho. É duro para mim, porque os jogadores mereciam mais. Custa muito ver a frustração deles em sair daqui com zero pontos.
- Pode comentar a expressão do «terramoto» do tricampeonato do presidente Varandas?
- O que o Presidente diz, eu assino sempre por baixo. Por isso, falou bem. Não me quero alongar muito sobre este tema, estou aqui para falar do jogo, só e apenas.
- No fim do jogo do Estoril disse que podia tirar 9 ou 10, este ano tem mais possibilidades para fazer a rotação com a mesma qualidade?
- Diferente, porque na época passada tivemos muitas lesões e a rotação... nós chegámos a uma fase, e bem, em que optámos por claramente focarmo-nos no campeonato, na época passada. Por todos os toques que tínhamos, lesões, tivemos de gerir muita gente, lembro-me que empatámos em Dortmund com mais de metade da equipa B. Optámos mesmo porque achámos que era importante para aquilo que era o desfecho do campeonato e tornou-se realidade. Hoje em si tem muito a ver com a semana em si, o que vem de trás, e conseguirmos gerir algumas coisas. Mas feliz pela equipa sentir que o posso fazer, a mim não me surpreende, e sempre disse isso, a equipa tem muita qualidade individual e coletiva, e não me custa nada mudar os jogadores, sei que vão dar resposta e ainda mais para a frente. O importante é ter toda a gente disponível, Diomande é um jogador que podia ser importante hoje nos duelos, mas só dava para 15, 20 minutos. Vamos ver, é um caso mais específico até porque parou mais tempo do que o normal. Requer algum tempo para voltar à sua melhor forma. O Geny também era um jogador que estava destinado a jogar 45 minutos, porque também vinha de lesão. Há coisas que ainda temos de gerir, espero para a frente não ter de gerir tanto nesse sentido, porque se tiver toda a gente no melhor nível, toda a gente vai dar resposta.
- Insistiu muito nas dinâmicas entre Maxi e Geny no lado esquerdo. O que gostou mais e menos, e o que quis com a entrada de Pote por Geny na 2.ª parte.
- O Geny também foi um pouco inglório, porque ainda não tinha jogado nessa posição, na época passada jogou a cinco, algumas vezes, até pela necessidade da equipa. Hoje optámos por ele, por ter mais maturidade em relação ao Alisson, mas estava um pouco perdido na primeira parte, mesmo em termos de pressão, perdeu alguma noção em alguns momentos, mas faz parte. Não tem jogado lá, sabíamos que podia acontecer, aconteceu um pouco. Na segunda parte já estava melhor, na transição, e o Fotis muito bem nesse aspeto, e o Geny podia dar essa aceleração, é um jogador diferente do Pote. O Pote na segunda parte dá-nos o que é habitual dele, bola, qualidade, leituras muito próprias e diferenciadas, no penálti penso que está envolvido, por isso é um jogador diferenciado. Num primeiro momento quisemos aceleração, Geny foi competente ao máximo que pode, e depois o Pote deu-nos mais bola, mais qualidade de decisão no último terço, já tinhamos também dois avançados com coisas diferentes, mas feliz por tudo o que a equipa foi capaz, todos eles.
- Está a liderar uma das equipas mais jovens, ao contrário do Nápoles, que tem a idade média mais alta nesta Champions.
- A idade não me diz nada. Em alguns pormenores do jogo e do primeiro golo, faltou-nos se calhar dessa maturidade de conseguir anular o contra-ataque do Nápoles. Nesse sentido, pode-nos faltar maturidade comparativamente com o Nápoles que é mais experiente, agora muito feliz por ver miúdos de 18 anos a fazerem grandes jogos na Champions, como foi o Quenda, Simões, Debast com 21. Feliz com a capacidade com tão pouca idade a resposta que dão numa grande competição.