Recado a selecionador, irritação com pergunta e o desejo de ver o plantel feliz (tudo o que disse Mourinho)
— Como está equipa depois dos casos de virose?
— Estamos todos bem de saúde, treinámos todos hoje, está tudo bem. Não há ninguém impedido de viajar e jogar. Esperamos que de hoje para amanhã seja só para melhorar. Vamos todos.
— Como vai blindar o balneário em período eleitoral? Equacionou pedir o adiamento deste jogo? Estanha o FC Porto ter marcado a conferência de imprensa para depois da sua?
— O Porto ter marcado a conferência de imprensa para depois da nossa, acho que é uma prática comum, muitas vezes sem nenhuma intenção, outras porque se prefere reagir à conferência de imprensa do treinador adversário, não vejo nenhum problema nisso, também já o fiz. Blindar o balneário, não existe uma estratégia, simplesmente existe o bom senso, que é tentar passar não diria ao lado, mas olhar para um momento importante da vida do clube com respeito, mas ao mesmo tempo tentar pensar naquilo que é a nossa missão. Eu e todos os que trabalhamos no clube, e fundamentalmente os jogadores, tentar não pensar muito, não dialogar, perder tempo com coisa que não podemos dominar. Neste grupo gigante de gente haverá seguramente gente que é sócio e terá a possibilidade de exercer o seu direito nas eleições, mas isto e só isto. Não há estratégia para blindar. Não pensei em adiamento. Aquilo começou em Londres, com um jogador que acho que é o grande culpado [risos] não vou dizer o nome, mas brinco com ele, depois saí eu em segundo lugar e mais alguns, foi preocupante em alguns momentos, no dia seguinte a chegarmos, mas hoje toda a gente treinou. Já ninguém do staff afetado com máscara, equacionámos viajar para o Norte separados, mas não, vamos todos juntos e a tendência, esperemos que não erremos, é que amanhã estaremos melhor ainda, mas nunca equacionámos pedir o adiamento.
Não pensei em adiamento. Aquilo começou em Londres, com um jogador que acho que é o grande culpado [risos] não vou dizer o nome, mas brinco com ele
— A virose vai provocar mexidas, surpresas no onze inicial?
— Não, nada daquilo que aconteceu teve implicação a esse nível, não passou de ses. O dia de hoje era muito importante para saber como os jogadores se sentiam. Nunca esteve em causa ir a jogo, mas também eu quis saber como me sentia e senti-me perfeitamente normal, os jogadores estão bem, desde que não haja marcha-atrás em algum caso, posso tomar livremente as minhas decisões, independentemente destes dois dias em que tivemos alguns medos. Nada que esteja diretamente relacionado com mais tosse, menos ou mais vómito condiciona as minhas decisões.
— As equipas estão em momentos diferentes, parte em desvantagem? Até pela virose.
— A virose para mim não entra em equação e depois do jogo não quero falar em virose nenhuma, a não ser que perca dois ou três jogadores fundamentais, ou tenham de se apresentar com dificuldades. O treino decorreu normal, jogadores sem sintomas. Estamos em momentos diferentes óbvios. O Porto tem muito trabalho por trás. O treinador entrou, tiveram pré-época, não jogaram play-offs, qualificaram-se diretamente para as competições europeias, tiveram muito tempo, muitas semanas, muitas horas de trabalho, e quem analisa a equipa como eu, há muito trabalho ali. A equipa está bem, tem uma estrutura, dinâmicas bem adquiridas, os resultados, penso que tudo é consequência de muito trabalho, que nós não temos. Estou aqui há mais ou menos duas semanas, hoje foi dos poucos treinos em que tive a equipa toda para trabalhar um bocadinho com eles, com o handicap de haver jogo e não poder haver grande intensidade. O trabalho é muito na análise, do jogo anterior, do adversário, do jogo anterior e tentar fazer a equipa a crescer. Esta é uma diferença fundamental. O FC Porto tem uma excelente equipa, com ideias do treinador, muito claras e objetivas e nós ainda não. Mas, antecipo, por isto o FC Porto é favorito? Digo, não.
— Há estratégia para condicionar Victor Froholdt?
— Muito bom jogador. Um jogador que conhecia, não muito bem, mas tinha-me passado pelos olhos. Capacidade física fantástica, tem chegada na área, é perigoso a todos os níveis e uma aquisição muito feliz do FC Porto. Muito bem integrado na dinâmica da equipa, que lhe permite projetar-se no espaço, é um jogador com o qual teremos cuidado, mas o FC Porto tem uma estrutura muito boa, jogadores muito bons e temos de ter preocupações com todos.
— Rui Costa diz que o Benfica não sairá do Dragão com 7 pontos de atraso. Que impacto teria uma derrota?
— Podemos sair a um ponto. A quatro. E se sairmos a um? Também pode acontecer.
— O que tem falta ao Benfica? Que comentário tem às declarações do selecionador da Noruega, que diz que Schjelderup precisa de jogar 90 minutos.
— A situação é simples, para mim, e acho que basta olhar para a coisa com um bocadinho de ética, que estaremos todos de acordo. Pode ser que ele não esteja, mas a maioria dos selecionadores estará, pela forma como olho para jogador de clube, jogador de seleção. Quando os jogadores do Benfica forem para as seleções, não farei um único comentário. Se está contente, se devia ter jogado mais... Um único. O selecionador é soberano, que corra tudo bem, que não voltem lesionados. Agradecia que da outra parte, quando jogadores do Benfica estiverem no Benfica, que eles não interfiram e estejam sentadinhos no seu local de trabalho. Não consigo compreender como um selecionador se atreve a fazer qualquer tipo de comentário sobre um jogador que é de um clube. Não significa que não possamos comunicar, estarei sempre à disposição de qualquer seleção, mas agradecia que houvesse este respeito quando o jogador é do clube, ou está emprestado às seleções. O que tem faltado à equipa? Trabalho, tempo para trabalhar.
— Disse em Londres que dissera no balneário que o Chelsea era superior ao FC Porto. Surpreendido pela frase ter sido tão comentada? Sente que ela pode motivar o adversário?
— Quando se perde, tens de te agarrar a qualquer coisa de positivo ou motivador, e fazer com que gente que está sentada a olhar para o chão te possa olhar nos olhos e receba qualquer coisa de positivo. Não me parece ter sido uma frase com intenção ou conotação negativa sobre o FC Porto. Elogiei muito o FC Porto, gosto muito da equipa do FC Porto, mas também não me parece que haja aqui qualquer drama. O Chelsea é o campeão do mundo, que joga para ganhar a Premier League, que joga na Champions League, e outra coisa é jogar para ganhar a liga portuguesa. Um clube que fez um fantástico investimento para a realidade portuguesa e outra um clube que gastou mil milhões no último par de anos. Portanto, estamos a falar em contextos diferentes. A minha equipa fez um ótimo jogo contra esta equipa superpoderosa a todos os níveis... tentei relativizar o peso da tristeza de uma derrota tentando dizer que o Chelsea é melhor que o FC Porto e, se jogámos assim em Stamford Bridge, porque é que não podemos jogar no Dragão? Simplesmente isso, sem qualquer outra intenção.
— Alguma peça fundamental na equipa do FC Porto? João Diogo Manteigas [candidato a presidente do Benfica] disse que Mourinho foi contratado também como diretor de comunicação, merece-lhe algum comentário?
—Não, não comento declarações de presidente do Benfica ou de candidatos, não me parece correto. Mas obviamente que sou só treinador, nada mais que isso. Relativamente ao FC Porto, tem grandes individualidades, não há grandes equipas sem grandes individualidades, mas acho que fundamentalmente são uma equipa forte, com treinador com ideias muito claras, que deve ter aproveitado cada minuto para trabalhar, gosto muito da equipa deles.
— Fez algum trabalho diferente para os jogadores, principalmente os mais novos, entenderem a importância deste jogo?
— A nível tático, do trabalho de capo, tivemos hoje um dia que permitiu trabalhar bem as nossas ideias, embora com intensidade baixa. Ao nível emocional é importante tanta gente nova perceber bem o contexto. Para um treinador que já esteve do lado de lá e agora está do lado de cá, é mais fácil interpretar cenários e ajudar jogadores que jogam pela primeira vez um clássico em Portugal.
— Mourinho não é um treinador barato, teme não ter tempo para ter sucesso no Benfica? Quando vão aparecer os bons resultados?
— Eu acho que você e alguns dos seus colegas estão doidinhos para saber quanto é que eu ganho. Quanto é que você ganha? Quer dizer-me? Ah, não vai dizer... Então não fale do meu. Está a dizer que sou muito caro, barato, quanto é que ganha, quanto é que não ganha... O Ríos tem nas costas 25 ou 30 milhões, vocês são um bocado obcecados com números. Não me está a faltar ao respeito e eu também não, mas parece que há uma curiosidade brutal quanto ao que ganha o vizinho do lado... a sua pergunta começa exatamente com o... é caro... [quando começam as vitórias?] Olhe, se calhar começámos a ganhar amanhã. O futebol é isto mesmo e por vezes os resultados são contextualizados do trabalho que se faz, outra vez consequência do trabalho que se faz, outras descontextualizado, o que posso dizer é garantir é que estamos a trabalhar muito e nem sequer estou a pensar em mim, estou a pensar nos jogadores, preocupado com eles, acho que os jogadores merecerem alegria, não merecem o carimbo que às vezes lhes colocam de ‘ganham bem, quando perdem, não passa nada, a vida é boa’... a vida não é boa, não é para os adeptos quando perdem, imaginem para quem vive disto e sente a responsabilidade dessa derrota. O treinador também. Não estou muito preocupado comigo, mais importante que o curricúlo são os meus anos de experiência, mas mais importante são os jogadores, que merecem felicidade, merecem alegria e neste momento não estão a conseguir. Entrei num mmento difícil para eles, sentimos isso quando jogamos em casa com o Rio Ave, mesmo ganhando ao Gil Vicente continuámos a sentir, o momento não é fácil, e a minha preocupação não é estar a pensar em mim. Estou a pensar neles e por consequência nos adeptos. Considero-me um grande treinador, desculpem a falta de modéstia, que tenho um staff bem preparado e que estamos a trabalhar muito. Quando começaremos a ver resultados? Se calhar amanhã, mas não podemos prever. Contra o Chelsea o resultado poderia ter sido um bocadinho diferente e mais de acordo com o rendimento da equipa, que considero bastante aceitável... Vamos ver.
Artigos Relacionados: