A festa lusa nos EUA - Foto: FPF
A festa lusa nos EUA - Foto: FPF

Portugal deu um pontapé na história e venceu os EUA pela primeira vez

O golo aos 32 segundos norte-americano antecedeu um recital de resiliência, bravura e muita classe. Diana Gomes foi a autora do primeiro golo de sempre contra uma seleção histórica no futebol feminino, antes de Fátima Pinto selar um triunfo épico

Já passava das duas horas da manhã em Portugal Continental, quando a Seleção Nacional pintou história em movimento na Pensilvânia, nos Estados Unidos. A equipa das Quinas foi a casa de um dos pesos pesados do futebol feminino surpreender tudo e todos e conquistar a primeira vitória de sempre contra a segunda seleção melhor classificada no ranking da FIFA.

Como em todas as histórias de bravura, as heroínas foram postas à prova. Rose Lavelle, com toda a classe do mundo, finalizou uma transição rápida venenosa das norte-americanas, 32 segundos após o apito inicial. Thompson ançou Macario na corrida, a avançada brasilo-norte-americana bailou sobre a defesa lusa e estendeu a passadeira vermelha para o golo inaugural da média de 30 anos.

O golpe inicial desorientou a equipa lusa que só não chegou aos dez minutos de jogo a perder por dois golos de diferença pois Lavelle, isolada, perdeu o duelo contra a enorme Inês Pereira. A guarda-redes do Deportivo segurou a turma das Quinas e espoletou a reação.

A estreante Carolina Santiago era a referência ofensiva da turma das Quinas, mas a batuta de cada jogada lusa no meio-campo adversário estava no pé direito de Kika Nazareth. A criativa do Barcelona geria os ritmos, acrescentava nota artística à ideia de jogo portuguesa e era letal na marcação de lances de bola parada.

Catarina Amado podia ter aproveitado a genialidade da antiga colega de equipa no Benfica para fazer o gosto ao pé em duas ocasiões, mas não conseguiu desviar a bola da rota da guarda-redes Tullis-Joyce, aos 24' e ficou a centímetros de um golaço acidental aos 37'.

Portugal crescia no jogo contra a campeã olímpica em título, à boleia da criatividade de Kika. A média do Barcelona colocou Tatiana Pinto na cara do golo com uma abertura esplêndida, mas Tullis-Joyce voltou a ser decisiva, aos 40'. Na sequência do canto, ainda assim, Portugal fez mesmo história.

Kika Nazareth levantou uma bola cuja tensão foi aliviada por Diana Gomes que escreveu um novo capítulo na história ascendente da Seleção Nacional. A defesa central do Benfica, através de um cabeceamento na pequena área, marcou o primeiro golo de sempre luso contra os Estados Unidos.

Ao 13.º jogo, Portugal fintou o muro norte-americano e rubricou o empate que se verificava ao intervalo. Os Estados Unidos, que venceram 17 dos 20 jogos que disputaram sob o comando técnico de Emma Hayes desde maio de 2024, entraram ligados à corrente na segunda parte, mas a entreajuda lusa e a atenção de Inês Pereira fizeram a diferença.

Portugal sacudiu a pressão norte-americana, começou a demonstrar atrevimento ofensivo depois da hora de jogo e ganhou, definitivamente conforto na partida, após a saída de Catarina Macario, a principal ameaça ofensiva da equipa da casa.

Dizia a história que Portugal só não tinha perdido dois dos 12 jogos já disputados contra os EUA, mas Kika Nazareth e Lúcia Alves não se contentaram com o terceiro empate da história. A criativa do Barcelona voltou a marcar um pontapé de canto de forma exímia, a defesa norte-americana não conseguiu aliviar e Fátima Pinto rematou um penálti em movimento para o fundo das redes de Tullis-Joyce, aos 72'.

Os últimos 20 minutos de jogo refletiram a entreajuda e resiliência da turma lusa, que no primeiro jogo após a prestação desapontante no Campeonato do Mundo, voltou a surpreender. Tatiana Pinto foi pronto-socorro, Inês Pereira foi um muro e Maísa Correia a segunda personagem nova num filme digno de Óscar.

O apito final selou a primeira vitória lusa contra os Estados Unidos, o segundo triunfo em dez jogos disputados em 2025 e um novo fulgor para uma história que tem muitos capítulos por contar.