Num poema de Camões pode-se explicar um jogo (crónica)
O poema de Luiz Vaz de Camões é ancestral mas pode muito bem explicar um jogo de futebol e sem grande dificuldade. «Erros meus, má fortuna, amor ardente». Assim começa um dos mais belos sonetos de um dos maiores poetas da portugalidade.
Os erros meus aplicam-se na perfeição ao Alverca, ou melhor, à forma como os ribatejanos abordaram o lance do segundo golo sofrido, com a defesa completamente em sono lento profundo a deixar Begraoui completamente solto na área, este a fazer uma belíssima receção e a bater sem dificuldade André Gomes.
Quanto à má fortuna é ainda mais simples de entender na perspetiva dos visitantes. Na jogada do primeiro tento dos estorilistas, João Carvalho faz uma incursão pela meia-esquerda, rematou de pé direito em arco, a bola ia para um sitio recôndito do estádio, mas Meupiyou colocou-lhe o pé e encaminhou-a para a baliza ribatejana sem que André Gomes algo pudesse fazer para evitar o golo, isto após um período em que a equipa de Custódio Castro até tinha disposto das melhores oportunidades, por Lincoln (13’) e Chissumba (25’).
Mas como os deuses do futebol quando viram as costas a alguém são incrivelmente cruéis, o francês ainda viria a fazer mais um autogolo (no quarto golo) e colocar o resultado numa goleada. A juntar a esta noite azarada dos alverquenses, há ainda o caso de Marezi, que entrou ao intervalo e saiu pouco depois por lesão.
O amor ardente do soneto pode-se aplicar ao Estoril na pessoa de Begraoui pelos dois golos marcados que demonstram um faro apuradíssimo pelas balizas adversárias e de um modo geral à turma de Ian Cathro, que após um período de alguma inconstância conseguiu a segunda vitória consecutiva.
Mas também no Alverca houve um amor ardente — o de Alex Amorim pelo futebol fantástico que executa, coroado com um golo a roçar a perfeição.
Entre Alverca e o Estoril são mais ou menos 45 quilómetros de distância mas na Amoreira houve um milhão de metros de distância na sorte e no azar, ou seja, naquilo que muitas vezes define um jogo.
Ian Cathro conseguiu aquilo que pretendia, e que passava por consolidar o ciclo de vitórias do Estoril, e estava tão bem-disposto que até chegou a segurar o guarda-chuva à jornalista da Sport TV, enquanto Custódio Castro bem diz que é imperativo o Alverca ficar na Liga mas a distância para o primeiro abaixo da linha-de-água continua nos quatro pontos. A igualdade com que os dois se apresentaram para esta jornada ficou desfeita…
As notas do Estoril: Joel Robles (7); Pedro Carvalho (6), Felix Bacher (6) e Boma (7); Pedro Amaral (6), Holsgrove (7), Orellana (6) e João Carvalho (7); Guitane (7), Marqués (5) e Begraoui (8); Tsoungui (5), Pizzi (6), Tiago Parente (5), Peixinho (—) e Lominadze (—)
As notas do Alverca: André Gomes (4); Julián Martínez (5), Naves (4) e Meupiyou (3); Nabil Touaizi (4), Alex Amorim (7), Sabit Abdulai (5) e Chissumba (5); Lincoln (7), Sandro Lima (6) e Nouozzi (4); Marezi (4), Tiago Leite (4), Davi Gui (4), Felipe Lima (4) e Sergi Gómez (4).
AS REAÇÕES DOS TREINADORES
Ian Cathro (Estoril)
Trabalhamos sempre para conseguir um jogo competente. Produzimos o suficiente para ter sempre o controlo da partida. A minha ideia é ter sempre algo muito estável, pelo que dou muito crédito a estes jogadores pelo que fizeram até agora, tendo em conta que jogámos em Tondela num campo que dava para as vacas e numa data FIFA. Agora é trabalhar todos os dias
Custódio Castro (Alverca)
Estivemos bem nos primeiros 30/35 minutos mas depois aconteceu aquele golo do Estoril. Pouco minutos depois, há o segundo golo que nos manda completamente abaixo. No entanto, resta-nos crescer com estas incidências. O Marezi parece que fez uma entorse, mas ainda não sei muito mais