Mourinho: 26 títulos em 25 anos, mas só 1 nos últimos 8
José Mourinho está de regresso à Luz, onde tudo começou — há 25 anos, a 20 de setembro de 2000, era oficializado como novo treinador do Benfica, primeira aventura como técnico principal, após experiências como adjunto de Bobby Robson (Sporting, FC Porto e Barcelona) e de Louis Van Gaal (Barcelona).
A carreira, já se sabe, é dourada, com muitos troféus — 26, em 25 anos. Mas tem estado em fase descendente: ganhou apenas um nos últimos oito.
No Benfica
A experiência no Benfica foi curta: apenas dois meses e meio. Foi escolhido por Vale e Azevedo, que um mês depois perderia as eleições para Manuel Vilarinho. O novo presidente prometera a contratação de Toni durante a campanha, mas assumiu que Mourinho ficaria até ao final do contrato, que terminava no fim dessa época, em junho de 2001. Mas após bater o Sporting por 3-0, o treinador pediu mais um ano de ligação. Vilarinho recusou e Mourinho deixou a Luz a 5 de dezembro de 2000.
Para trás ficaram 11 jogos, com 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, em todas as competições – aproveitamento de 63,6 por cento, contabilizando três pontos por vitória e um por empate. No campeonato, pegou na equipa no 7.º lugar e deixou-a em 6.º. Na Taça continuava em prova, mas caíra na Taça UEFA às mãos do Halmstads (empate caseiro, 2-2, depois de derrota na primeira mão na Suécia, ainda com Heynckes no banco).
Na União de Leiria
Mourinho saiu do Benfica com acordo para pegar no Sporting, mas, pressionado pelos sócios, Luís Duque voltou atrás. O treinador ficou então sem trabalhar até ao final da época. No início de 2001/2002, tomou conta da União de Leiria, mas também não terminou a temporada. Após a 19.ª jornada e eliminação na Taça de Portugal, rumou ao FC Porto.
Para trás ficaram 20 jogos, com 9 vitórias, 7 empates e 4 derrotas. Aproveitamento de 56,7 por cento. A União de Leiria seguia no 4.º lugar do campeonato.
No FC Porto
Chamado a um FC Porto em crise – estava no 5.º lugar, com menos um ponto que a União de Leiria –, a 23 de janeiro de 2002, para substituir Octávio Machado, Mourinho viveu um primeiro ano de adaptação. Mas deixou logo uma promessa: «Tenho a certeza de que na próxima temporada seremos campeões!» Ainda levou o FC Porto ao 3.º lugar, mas caiu na Champions sem glória (uma vitória e três derrotas). Mas o melhor ainda estava para vir.
Em 2002/2003 chegaram os primeiros títulos. Os dragões fizeram, aliás, o pleno: ganharam Liga, Taça de Portugal e Taça UEFA.
A temporada seguinte foi ainda mais fantástica. É verdade que a Supertaça Europeia escapou (derrota 0-1 com o Milan), assim como a Taça de Portugal (derrota com o Benfica na final do Jamor), mas Mourinho venceu a Supertaça, de novo a Liga (título garantido a cinco jornadas do fim), e a UEFA Champions League.
Mas o apelo dos milhões de Abramovich seria demasiado forte. Logo a seguir à conquista da Champions, a 2 de junho, Mourinho era anunciado como novo treinador do Chelsea. Para trás, no FC Porto, ficavam 127 jogos, 91 vitórias, 21 empates e 15 derrotas – aproveitamento de 77,2 por cento. E seis títulos: dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira, uma Taça UEFA e uma UEFA Champions League.
No Chelsea
«Não me chamem arrogante, por favor, mas sou campeão europeu e acho que sou especial.» Com esta frase, Mourinho deu-se a conhecer a Inglaterra, e depressa ganhou a alcunha de Special One.
Em campo, depressa viria a comprová-lo. Na primeira época, venceu logo a Premier League, pondo fim a 50 anos de jejum do Chelsea, com recorde, à época, de pontos (95) e de menos golos sofridos (15). Venceu também a Taça da Liga e na Champions avançou até às meias-finais, caindo às mãos do Liverpool, por causa de golo controverso.
Em 2005/2006, a temporada começou com a conquista da Supertaça inglesa e houve novo título de campeão, o quarto seguido para o técnico português.
Em 2006/2007, porém, começaram as tensões. Sobretudo após a indicação de Avram Grant para o cargo de diretor de futebol, ao mesmo tempo que Shevchenko, contratação bandeira de Abrahmovic, amargurava frequentemente no banco em jogos importantes, preterido por Drogba. Na Premier League, o Chelsea baqueou na reta final, acabando em 2.º, atrás do Manchester United. Mas Mourinho juntou mais dois troféus ao currículo, a Taça de Inglaterra e, novamente, a Taça da Liga.
O início da quarta época no Chelsea, porém, mostraria sinais de saturação, do treinador português mas também dos dirigentes. E depois de empate frente ao Rosenborg, para a Champions, com Abramovich nas bancadas, Mourinho seria despedido pela primeira vez, a 20 de setembro de 2007.
Deixou o Chelsea, nessa primeira passagem pelo clube, após 185 jogos oficiais, com 124 vitórias, 40 empates e 21 derrotas – aproveitamento de 74,2 por cento. E com mais seis títulos: duas Premier League, uma Taça de Inglaterra, duas Taças da Liga e uma Supertaça Inglesa.
No Inter
Mourinho ficou sem trabalhar até final da época, mas a 2 de junho de 2008 foi anunciado como novo treinador do Inter, sucedendo a Roberto Mancini.
A primeira época ficou marcada pela conquista da Serie A, com mais dez pontos que o Milan, e da Supertaça, mas também por uma UEFA Champions League dececionante, que incluiu derrota caseira com o Panathinaikos, empate no Chipre com o Anorthosis e a eliminação nos oitavos de final às mãos do Manchester United.
Mas 2009/2010 seria a temporada da consagração: pela primeira vez em Itália, um clube conseguia o tri – campeonato, Taça e UEFA Champions League, garantida com vitória por 2-0 sobre o Bayern na final, após épica meia-final frente ao Barcelona.
Apesar de ter mais um ano de contrato, Mourinho voltaria a deixar um clube após levá-lo ao título europeu, seduzido por proposta do Real Madrid.
No Inter, fez 108 jogos, com 67 vitórias, 26 empates e 15 derrotas – 70,1 de aproveitamento. Títulos foram mais cinco, em dois anos: a UEFA Champions League, mais duas Serie A, uma Taça de Itália e uma Supertaça.
No Real Madrid
José Mourinho foi apresentado como novo treinador do Real Madrid a 31 de maio de 2010, 11.º técnico dos merengues em sete anos.
A primeira temporada ficaria marcada de forma clara pela goleada (0-5) sofrida em Camp Nou, frente ao Barcelona, em novembro de 2010. Serviu a Mourinho de lição. O Real Madrid não conseguiu vencer o campeonato, mas conquistou a Taça do Rei frente ao grande rival – vitória por 1-0. Na Champions, após seis eliminações consecutivas nos oitavos de final, o Real chegou às meias, mas foi travado pelo Barcelona, com derrota na primeira mão, no Bernabéu, que teve expulsão de Pepe.
A segunda temporada no Bernabéu foi de recordes: o Real Madrid foi campeão com máximo de pontos (100), vitórias (32) e golos marcados (121), terminando com mais nove pontos que o Barcelona. Mas voltou a cair nas meias-finais da Champions – nos penáltis, contra o Bayern.
2012/2013 começaria com a conquista da Supertaça espanhola, frente ao Barcelona, mas a época foi de polémicas – o incidente com Tito Vilanova, em que espetou um dedo no olho do treinador do Barcelona, ou a difícil relação com Casillas, sobretudo, e Sergio Ramos – e de insucessos. Na LaLiga, o Real terminou em 2.º mas a 15 pontos do Barcelona; na Champions, nova eliminação nas meias-finais, diante do Dortmund; e depois da derrota com o Atlético de Madrid na final da Taça do Rei, clube e treinador chegaram a acordo para a rescisão dum contrato que tinha sido renovado, um ano antes, até 2016.
No Real Madrid, Mourinho fez 178 jogos, com 128 vitórias, 28 empates e 22 derrotas – 77,2 por cento de aproveitamento. Mas baixou o ritmo de conquista de títulos – apenas três (campeonato, Taça e Supertaça de Espanha) em três anos.
De novo no Chelsea
Mourinho deixou o Bernabéu a 20 de maio de 2013 já com o regresso a Londres alinhavado. A 3 de junho, era oficializado como treinador do Chelsea, com contrato de quatro temporadas.
O regresso, porém, não começou como desejaria. A primeira temporada, que classificou como «de transição», acabou sem títulos, com um 3.º lugar na Premier League e eliminação nas meias-finais da Champions, às mãos do Atlético de Madrid.
Em 2014/2015, em todo o caso, Mourinho reencontraria a felicidade em Stamford Bridge. Apesar da «vergonha», como a classificou, da eliminação na Taça de Inglaterra pelo Bradford, do terceiro escalão, o Chelsea conquistaria a Taça da Liga em março, batendo o Tottenham na final, e a Premier League no início de maio, a três jornadas do fim, e com apenas três derrotas no campeonato. Mas na Champions a regra dos golos fora atirou os blues para fora da competição nos oitavos de final, frente ao PSG.
Mourinho renovou até 2019 no arranque da época seguinte, mas ficou apenas mais quatro meses no Chelsea. A 17 de dezembro, depois de 9 derrotas nas primeiras 16 jornadas da Premier League (com a equipa em 16.º lugar, um ponto acima da linha de água), e já eliminado da Taça da Liga pelo Stoke, o português era despedido do clube pela segunda vez.
Em duas temporadas e mais quatro meses na segunda passagem pelo Chelsea, Mourinho fez 136 jogos, com 80 vitórias, 29 empates e 27 derrotas – aproveitamento de 65,9 por cento. E ganhou mais dois títulos: Premier League e Taça da Liga.
No Manchester United
A 27 de maio de 2016, José Mourinho era oficializado como novo treinador do Manchester United, sucedendo a Louis Van Gaal, de quem tinha sido adjunto em Barcelona 18 anos antes.
Os diabos vermelhos tinham falhado o acesso à Champions (5.º lugar no campeonato no ano anterior) e Mourinho, na Premier, fez ainda pior – acabou em 6.º. Compensou-o com a conquista da Supertaça, da Taça da Liga inglesa e, em maio, da UEFA Europa League, com triunfo por 2-0 sobre o Ajax na final.
A segunda temporada correu melhor no campeonato, mas acabou sem troféus: 2.º lugar na Premier League (melhor classificação do United depois da saída de Ferguson), derrota na final da Taça de Inglaterra contra o Chelsea e na Supertaça Europeia contra o Real Madrid e eliminação prematura na Champions, nos oitavos de final, pelo Sevilha.
Tal como acontecera três anos antes, com o Chelsea, o início da terceira temporada ditaria o fim do percurso no Manchester United. E tal como em Stamford Bridge, aguentou apenas até dezembro – foi afastado no dia 18, com o United em 6.º lugar mas a 19 pontos do líder Liverpool, após apenas 7 vitórias em 17 jogos.
No United, José Mourinho somou 144 jogos, com 84 vitórias, 32 empates e 28 derrotas – aproveitamento de 65,7 por cento. Conseguiu mais três títulos: UEFA Europa League – último troféu europeu dos diabos vermelhos -, Taça da Liga e Supertaça inglesa.
No Tottenham
Quase um ano depois, a 20 de novembro de 2019, José Mourinho assinou pelo Tottenham, substituindo Mauricio Pochettino, afastado com os spurs em 14.º lugar na Premier League, com 3 vitórias em 12 jogos.
O técnico português melhorou o rendimento da equipa, mas não conseguiu o apuramento para a Champions – o Tottenham terminou a época 2019/2020, afetada pela pandemia de Covid-19, no 6.º lugar. Na Champions, caiu nos oitavos de final frente ao RB Leipzig.
Em 2020/2021, a esperança de que iniciar a época pudesse trazer sucesso parecia poder concretizar-se, com os spurs na liderança da Premier League no início de dezembro, após vitória sobre o Arsenal, e já depois de terem goleado (6-1) o Manchester United em Old Trafford. Mas o rendimento da equipa começou a cair, a participação na UEFA Europa League ficou muito aquém do esperado e a 19 de abril de 2021 Mourinho seria despedido, com o Tottenham no 7.º lugar da Premier League, a cinco pontos da última posição de acesso à Champions.
Pela primeira vez desde a União de Leiria, Mourinho deixava um clube sem qualquer troféu – foi despedido a uma semana da final da Taça da Liga, que o Tottenham, com Ryan Mason no banco, viria a perder para o Manchester City. Em 86 jogos, o treinador português conseguiu 44 vitórias, contra 19 empates e 23 derrotas – taxa de aproveitamento de 58,5 por cento.
Na Roma
A 4 de maio de 2021, José Mourinho foi anunciado como treinador da Roma para a época 2021/2022, sucedendo a Paulo Fonseca.
Tudo começou bem, mas o final de setembro começou a trazer resultados dececionantes – derrota no dérbi com a Lazio e depois, já em outubro, humilhação na Noruega frente ao Bodo/Glimt (1-6) e derrota caseira contra o Milan, primeira na Serie A, após 43 jogos. No campeonato, a Roma não foi além do 6.º lugar, apenas um acima (e com apenas mais um ponto) do que Paulo Fonseca fizera na época anterior. Mas a temporada acabou por ser um sucesso com a conquista da primeira edição da UEFA Conference League frente ao Feyenoord – primeiro troféu da Roma em 11 anos e primeiro título europeu de um clube italiano depois de… Mourinho ter erguido a Champions com o Inter em 2010.
A segunda temporada foi muito similar à primeira: objetivo de conseguir o apuramento para a Champions falhado, com novo 6.º lugar na Serie A; e novo sucesso europeu, com Mourinho a guiar a Roma à final da UEFA Europa League – na qual cairia nos penáltis frente ao Sevilha, a sua primeira derrota em seis finais europeias (exceto Supertaças).
A continuidade para a terceira época foi posta em dúvida depois de várias declarações contraditórias entre Mourinho, que considerou a época anterior um milagre depois de investimento de apenas 7 milhões de euros em contratações, e os dirigentes, desiludidos com novo falhanço no apuramento para a Champions. E como nas passagens anteriores por Chelsea e Manchester United, Mourinho sairia da Roma a meio da terceira temporada – foi afastado a 16 de janeiro de 2024, com a equipa no 9.º lugar.
Dois anos e meio, 138 jogos, 68 vitórias, 31 empates e 39 derrotas – taxa de aproveitamento de 56,8 por cento – depois, Mourinho deixava a Roma. Com o seu único troféu dos últimos oito anos, a UEFA Conference League.
No Fenerbahçe
A 2 de junho de 2024, José Mourinho foi confirmado como novo treinador do Fenerbahçe, da Turquia, uma tentativa do clube de combater a hegemonia do Galatasaray, para quem perdera os dois títulos anteriores. O Fener, diga-se, não é campeão desde 2014.
E por entre muita polémica e constantes críticas à arbitragem, Mourinho bateu-se pelo título quase até ao fim, mas acabou por repetir o 2.º lugar do Fenerbahçe das três épocas anteriores – e com mais pontos perdidos do que em 2023/2024. Na Europa, também falhara o acesso à Champions e na UEFA Europa League foi eliminado nos oitavos de final.
2025/2026 começava com um grande objetivo – conseguir a entrada na fase de liga da Champions. A épica eliminação do Feyenoord, com vitória em casa por 5-2 na segunda mão da terceira pré-eliminatória, dava esperança, mas no play-off o Benfica de Bruno Lage provou ser um adversário demasiado duro de roer. E com dois pontos perdidos no primeiro jogo do campeonato e as críticas à direção pelo atraso na chegada de reforços, que não permitiu que fossem inscritos a tempo de jogarem com o Benfica, Mourinho acabou por rescindir, no passado dia 29 de agosto.
Após 62 jogos, 37 vitórias, 14 empates, 11 derrotas – taxa de aproveitamento de 67,2 por cento – e zero títulos.