Mourinho e o Benfica: um filme quase igual 25 anos depois
A 20 de setembro de 2000, José Mourinho era apresentado como treinador do Benfica. Seria a primeira experiência como treinador principal da carreira e foi recebido com muitas dúvidas pelos adeptos. Durou dois meses e meio, entretanto o Benfica foi a eleições e mudou de presidente. E o resto é história.
O filme parece familiar? É. As circunstâncias que devem devolver o treinador à Luz são muito parecidas com as da primeira passagem, há 25 anos. A maior diferença está provavelmente no currículo do treinador, que depois dessa primeira experiência no Benfica levou o FC Porto e o Inter a conquistar a UEFA Champions League, o Chelsea a sagrar-se campeão inglês pela primeira vez em 50 anos e o Real Madrid a bater o recorde de pontos, vitórias e golos numa época na LaLiga.
A saída de Heynckes
O Benfica iniciara a época 2000/2001 com Jupp Heynckes no banco, apesar da desapontante temporada de estreia do treinador alemão, que fora campeão europeu com o Real Madrid um ano antes de chegar à Luz.
Contratado em maio de 1999 por Vale e Azevedo para substituir Graeme Souness, afastado na reta final da temporada anterior, Heynckes não foi além do 3.º lugar no campeonato em 1999/2000, atrás do Sporting, campeão 18 anos depois, e do FC Porto. No campeonato, o Benfica somou 21 vitórias, 6 empates e 7 derrotas. Na Taça foi eliminado em casa pelo Sporting, mas o maior embaraço aconteceu na Taça UEFA, com derrota em Vigo, frente ao Celta, por 7-0.
Ainda assim, o alemão começou a época. A perder no Estádio das Antas, frente ao FC Porto, na jornada inaugural. Depois, empate em Leiria e derrota na Suécia, contra o Halmstads, deixaram o treinador fragilizado, com apenas uma vitória nos quatro primeiros jogos. A 18 de setembro, na receção ao Estrela da Amadora, ouviu sonoros assobios e viu lenços brancos, antes e após bis de Van Hooijdonk (88 e 89 minutos) valer reviravolta e a vitória.
No final do jogo, Jupp Heynckes acusou a opinião pública de estar manipulada pelos jornalistas e atirou: «Assim vou-me embora, não aguento isto!». E foi. No dia seguinte, Vale e Azevedo reuniu-se com Toni, mas não convenceu o treinador. Dois dias depois, Heynckes rescindiria mesmo o contrato e o presidente das águias apresentava José Mourinho.
Escolha surpreendente e afirmação
Mourinho tinha sido adjunto de Bobby Robson e de Louis Van Gaal, mas não tinha qualquer experiência como treinador principal. Foi recebido, por isso, com reservas pelos adeptos. Em pano de fundo, as eleições para a Direção, com Manuel Vilarinho já com candidatura anunciada.
O reinado do treinador, ainda longe de se tornar o special one, não começou da melhor maneira: derrota no Bessa, com o Boavista (que viria a ser campeão nessa temporada), por 0-1, a 23 de setembro. Cinco dias depois, empate na estreia na Luz, frente ao Halmstads (2-2), valeria a eliminação da Taça UEFA.
Só à quarta partida conseguiu a primeira vitória (1-0 em casa frente ao Belenenses), entalada entre empates com SC Braga e Paços de Ferreira. E depois de ganhar ao Campomaiorense, cairia na Madeira frente ao Marítimo, com derrota pesada (0-3). Nos primeiros 7 jogos, 2 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. E muitas polémicas.
Sabry e Poborsky, duas das estrelas da equipa, deixaram de aparecer com regularidade no onze. Sabry, aliás, foi protagonista involuntário de uma das conferências de imprensa mais duras do treinador, que rebateu ponto por ponto as queixas que o egípcio fizera, um dia antes, em entrevista a A BOLA, chegando ao ponto de dizer que demorou oito minutos a apertar as botas antes de entrar.
Calado perdeu a braçadeira de capitão e Dani enfrentou processo disciplinar, embora contra a vontade do treinador. Paulo Madeira e Ronaldo deixaram de ser opção, Fernando Meira e Diogo Luís, que foi buscar à equipa B, passaram a titulares. Apostou noutros jovens, como Miguel, Carlitos e Maniche.
E, ao oitavo jogo, começou a ganhar. Triunfos contra Farense, Vitória de Guimarães e Campomaiorense (para a Taça) entusiasmaram antes de dérbi com o Sporting, na Luz. Que o Benfica venceria por 3-0 (penálti de Van Hooijdonk e bis de João Tomás).
Saída explosiva
A vitória sobre o Sporting, no entanto, marcaria o fim da linha de Mourinho na Luz, apenas dois meses e depois de entrar.
A 27 de outubro, com o Benfica de Mourinho com apenas um triunfo em cinco jogos, Manuel Vilarinho venceria as eleições, destronando Vale e Azevedo.
Na campanha, o novo presidente prometera o regresso de Toni ao clube. Ainda assim, foi aguentando Mourinho.
Mas após a vitória no dérbi, a quarta seguida, o treinador exigiu renovar contrato, que terminava no final da temporada, precisamente devido à sombra de Toni, que continuava a pairar na Luz, apesar da melhoria do rendimento desportivo. A nova Direção considerou a pressão de Mourinho inaceitável e o técnico respondeu: «Tenho de pensar noutras opções.»
No dia seguinte, 5 de dezembro de 2000, Augusto Inácio era despedido do Sporting e José Mourinho rescindia com o Benfica, precisamente para rumar a Alvalade. Mas Luís Duque voltaria atrás, devido à pressão dos adeptos.
No Benfica, Mourinho somou 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. Pegou na equipa no 7.º lugar do campeonato, deixou-a em 6.º (chegou a cair para 10.º), precisamente o lugar em que terminaria a prova, já com Toni no banco, na pior classificação de sempre.
Semanas depois de bater com a porta na Luz e de ver a de Alvalade fechar-se, Mourinho entraria na União de Leiria. Seguir-se-ia o FC Porto e a História.