André Villas-Boas, António Salvador, Frederico Varandas e Rui Costa (segunda fila) - Foto: ANDRÉ CARVALHO
André Villas-Boas, António Salvador, Frederico Varandas e Rui Costa (segunda fila) - Foto: ANDRÉ CARVALHO

Futebol português transformado numa história de bonecos animados

A nova geração de presidentes dos grandes vinha para romper com o passado, vinha para ser lufada de ar fresco, mas parece estar aí para deixar tudo na mesma... Este é o 'Nunca mais é sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo

André Villas-Boas, 47 anos, treinador que conduziu o FC Porto não apenas às conquistas internas mas também à da Liga Europa em 2010/2011 e que assumiu, corajoso, a mudança num clube que viveu 40 anos de sucessos nacionais e internacionais mas também de muita controvérsia; Rui Costa, 53, jogador que pelo Benfica foi glória, vencedor de títulos nacionais e internacionais com a Liga dos Campeões (quando jogou em Itália) à cabeça e que enquanto presidente dos encarnados também já foi campeão; Frederico Varandas, 46, antigo diretor clínico do Sporting que em 2018, no verão quente da saída de Bruno de Carvalho com o clube em ebulição, avançou sem medos para eleições, venceu e já ganhou três títulos de campeão nacional, mais do que os verdes e brancos tinham conquistado em 40 anos anteriores.

Por ordem decrescente desde que assumiram funções, eis os presidentes dos três grandes clubes portugueses em 2025, uma lufada de ar fresco há muito esperada, uma nova geração de dirigentes que iria inaugurar uma nova era do futebol nacional, descomplexada, mais limpa, aberta e respirável. Saudável.

Depois o despertador tocou e acordámos do sonho cor de rosa. E bem cedo despertou esta época para mal dos nossos pecados. Não estamos ainda em abril, altura de decisões que apela aos mais básicos instintos de sobrevivência na luta pelos títulos e por isso pródiga em polémicas, acusações e pressões; não chegámos sequer ao Natal, nem ao Verão de São Martinho… estamos apenas no início de outubro e a gritaria é já tanta que mais parece um daqueles programas de TV com os famosos comentadores afetos aos clubes a esbracejarem e a caminho do impropério. Mas são os presidentes…

De repente, uma viagem no tempo aos mais recônditos cantos da memória dum futebol português que se queria no passado mas do qual não nos livramos. E talvez o mereçamos mesmo. Afinal, parece que do que gostamos é da polémica à segunda-feira, do lance de arbitragem visto 450 vezes no domingo à noite e mais 550 no dia seguinte, com um novo ângulo de uma câmara que não tinha sido divulgado anteriormente. E levamos horas, dias nisto. Pelo andar da carruagem, esta época vamos levar o ano inteiro.

A nova geração de presidentes parece estar aí para deixar tudo na mesma. Primeiro um em época eleitoral a lançar a confusão mal disfarçada em forma de comunicados; depois outro a responder, outro ainda a acusar, todos não podem ser comidos por parvos — o povo incentiva, não se pode ser anjinho, e aplaude. E como não podia deixar de ser, até o candidato a grande, dirigido por um dirigente que até está na casa dos 50 mas que migrou da era anterior, não podia ficar para trás, reclamando, em bicos de pés (também sou grande) o estatuto e por isso também queixinhas… Não admira por isso tantas referências ao Calimero, afinal de contas, até parece que querem transformar este futebol português numa história de bonecos animados.