Golo de Kelvin frente ao Benfica, ao minuto 90+2, a 11 de maio de 2013 - Foto A BOLA

Desde o golo de Kelvin que não se via um FC Porto-Benfica assim

Há 12 anos que as duas equipas não chegavam sem derrotas ao clássico no Dragão. Esta é a oitava vez em que acontece, em 92 edições do campeonato

FC Porto e Benfica defrontam-se este domingo no Dragão, a partir das 21h15. E chegam ao clássico sem qualquer derrota no campeonato. Normal? Pelo contrário.

Aliás, em 92 anos de História do campeonato nacional, esta é a segunda vez em que se encontram mais tarde na casa dos portistas sem terem perdido qualquer jogo — em igualdade com 1955/56, em que o clássico no norte também teve lugar à 8.ª jornada.

Para encontrarmos um duelo que tenha acontecido com a Liga mais avançada, não é preciso recuar muito — até maio de 2013, na verdade. Essa foi a última vez em que o FC Porto-Benfica do campeonato teve frente a frente duas equipas que ainda não tinham perdido. Foi também a vez em que aconteceu com a prova mais adiantada, à 29.ª e penúltima jornada.

Foi, está claro, o jogo do golo de Kelvin, que na prática deu o título aos dragões. O Benfica de Jorge Jesus chegou ao Dragão com 23 vitórias e 5 empates, o último deles comprometedor, dias antes, em receção ao Estoril — um triunfo perante os canarinhos teria permitido às águias perder o jogo com o FC Porto sem perder o primeiro lugar e depois serem campeãs com vitória em casa, sobre o Moreirense, na última jornada. Assim, com o FC Porto de Vítor Pereira com 22 vitórias e 6 empates — a dois pontos do rival na classificação, portanto —, o Benfica precisava de não perder na casa do rival para continuar em primeiro na classificação (teria sido logo campeão se vencesse).

Para os dragões as contas também eram simples: vencer os dois jogos que faltavam para conquistar o título. Qualquer ponto perdido seria, quase seguramente, fatal.

O Benfica até entrou a ganhar, com golo de Lima aos 19’, mas autogolo de Maxi Pereira sete minutos depois reporia a igualdade.

O golpe de teatro ficou guardado para o fim: aos 90+2’, Kelvin fugiu pela meia esquerda, lançado por Liedson, e disparou para o 2-1 final, que catapultou o FC Porto para o 1.º lugar — o título chegaria uma semana depois, com vitória por 2-0 em Paços de Ferreira.

A capa de A BOLA no famoso jogo do golo de Kelvin (A BOLA)

Vítor Pereira e Mourinho

Este século, e até ao clássico de amanhã, só por mais duas vezes, além da do golo de Kelvin, FC Porto e Benfica se tinham defrontado a norte (Antas e Dragão) sem derrotas.

Em 2011/2012, o clássico aconteceu à sexta jornada. FC Porto e Benfica chegaram lá igualados no comando (13 pontos em 15 possíveis) e de lá saíram de braço dado, após um 2-2. O FC Porto, na primeira época de Vítor Pereira, viria a ser campeão com apenas uma derrota, em Barcelos, com o Gil Vicente.

Em 2003/2004, o ano da consagração definitiva de José Mourinho no Porto — seria a época em que venceria a Champions —, a receção dos dragões ao Benfica teve lugar na quinta jornada. O FC Porto já tinha perdido pontos (um empate), tal como o Benfica (dois empates), e o Marítimo era líder isolado com quatro vitórias em quatro jogos. A equipa de Mourinho triunfaria por 2-0 e partiria para um campeonato tranquilo — a gerir para a fase decisiva da Champions, deu-se ao luxo de não ganhar qualquer das últimas quatro deslocações, somando aí as duas únicas derrotas na prova, perante Gil Vicente e Rio Ave.

Ainda mais raro no século XX

Se apenas quatro clássicos no Porto com equipas sem derrotas este século parece pouco, que dizer do século passado? O campeonato disputa-se desde 1934/35 e nessas 67 edições do século XX só aconteceu quatro vezes.

A primeira foi logo na edição inaugural, na jornada 3. FC Porto e Benfica chegaram ao duelo no Estádio do Lima com uma vitória e um empate nas duas primeiras jornadas. Os dragões impuseram-se por 2-1 e viriam a conquistar a primeira edição da Liga (o Benfica foi 3.º, também atrás do Sporting), com duas derrotas em 14 jogos. Curiosamente, houve mais três duelos na jornada 3 (1935/36, 1965/66 e 1984/85), mas já sem que os rivais estivessem ambos invictos, apesar da fase inicial da prova...

Depois, em 1943/44, o FC Porto-Benfica teve lugar na quinta jornada. Os dragões faziam parte do trio de líderes, com Atlético e Sporting, após três vitórias e um empate, enquanto o Benfica vinha logo atrás, com dois triunfos e dois empates nas quatro primeiras rondas. O 2-2 manteve as duas equipas sem perderem, mas no final do campeonato a festa seria do Sporting — nas 13 jornadas seguintes as águias averbariam três derrotas e os dragões cinco.

Em 1955/1956 temos então o outro clássico sem derrotas mais tardio — como agora, na jornada 8. Mas ao contrário do que acontece agora, com o Sporting à frente do Benfica, na altura dragões e águias seguiam no topo da classificação — o FC Porto com cinco vitórias e dois empates, o Benfica com quatro e três. Já no novo Estádio das Antas, o dragão impôs-se por 3-0, mas o campeonato foi disputado até ao fim. O FC Porto foi campeão com os mesmo pontos do rival, e com uma derrota contra duas. Na segunda volta, na Luz, empataram 1-1.

Finalmente, em 1978/79, temos o único FC Porto-Benfica à 2.ª jornada, onde os dois clubes chegaram depois de triunfos por 1-0 na ronda inaugural — outras cinco equipas tinham entrado na prova a ganhar. O FC Porto venceu por 1-0 e viria a sagrar-se campeão com apenas uma derrota e mais um ponto que o Benfica.

Bom prenúncio para o FC Porto

E é tudo. Houve mais sete duelos sem que as equipas tivessem perdido, mas eram inevitáveis — aconteceram na primeira jornada, mais recentemente em 2000.

O histórico é favorável ao FC Porto: nos sete clássicos em casa com os dois rivais invictos, nunca perdeu, somando cinco vitórias e dois empates. E nessas ocasiões, foi campeão em seis — só falhou em 1943/44, quando o título iria para o Sporting…