Wi-Fi para falar mal
O tema tinha sido abandonado há cerca de 20 anos com a construção dos estádios para a realização do Euro-2004. O país desportivo passava a ter equipamentos de última geração, alguns deles desnecessários, é certo, mas que traziam ventos de modernidade para o futebol português, capaz de se apresentar junto das mais altas instâncias desportivas nas mesmas condições dos mais bem apetrechados na Europa e cuja capacidade foi reconhecida em plena pandemia Covid-19 quando a UEFA encontrou nos recintos e organização nacionais um porto seguro para acolher duas finais da Champions (Luz em 2020 e Dragão em 2021).
Tal como aconteceu no resto do País, as grandes obras passaram para segundo plano porque em boa verdade já muito tinha sido feito. Mas a condição de organizador do Mundial-2030, a par de Espanha e Marrocos, vai seguramente recolocar o betão na ordem do dia, ainda que numa escala muito menor porque as restantes infraestruturas já existem. Mas não é coincidência que os dois grandes de Lisboa tenham nos seus planos profundas remodelações nos seus estádios. No Benfica, o assunto tem sido de certa forma transversal em todos os candidatos à presidência, destacando-se o projeto de expansão do Estádio da Luz apresentado por Rui Costa e a proposta ainda mais arrojada de Luís Filipe Vieira de erguer um novo recinto por falta de capacidade de crescimento do atual face à enorme procura de bilhetes anuais.
No Sporting, os cerca de €200 milhões anunciados ontem por Frederico Varandas para a transformação total do complexo de Alvalade traduzem a necessidade de os clubes acompanharem hábitos de adeptos cada vez mais exigentes e seguirem tendências que vão marcando o futebol mundial, com obras que parecem de outro tempo: o novo Bernabéu, o novo Camp Nou, o novo Old Trafford ou as construções disruptivas previstas para a Arábia Saudita no Mundial-2034.
Mas quanto mais desenvolvidos são os projetos de tecnologia e engenharia, maior é o paradoxo a que se vai assistindo: de manhã, os presidentes falam em leds, nova acústica, lugares premium, experiências inovadoras para o adepto/cliente; à tarde assumem o queixume e subscrevem comunicados que parecem saídos do tempo da máquina de escrever. Talvez nunca sairemos disto porque bem lá no fundo o mesmo adepto que pede Wi-Fi de última geração no estádio é aquele que usa a internet para acusar os dirigentes de serem frouxos por não se atirarem aos árbitros. Todos fazem parte do circo.