Gianni Infantino, presidente da FIFA, exibindo a bola oficial do Mundial-2026 - Foto: IMAGO

Mundial com 64 equipas: bizarro ou nem por isso

Já se pode começar a fazer contas. Teoricamente, os clubes poderiam ser beneficiados com mais descanso dos seus internacionais na qualificação. Mas as surpresas estão sempre ao virar da esquina

As atenções voltam a centrar-se por estes dias para a qualificação rumo ao Mundial-2026, mas há notícias insistentes de que a grande novidade está aí para rebentar: a possibilidade de o Campeonato do Mundo em 2030 passar para 64 seleções (!), o dobro das equipas que estiveram na última edição da prova, no Qatar, em 2022. Atravessamos uma era em que o que seria considerado uma bizarria há 20 anos é encarado como algo possível, exequível e com argumentos válidos. Senão, vale sempre a pena recordar: alguma vez o leitor acreditava que iria ver um Mundial em dezembro, a meio das temporadas desportivas europeias (Qatar)? Ou um Mundial de Clubes com 32 equipas no verão, em substituição das pré-épocas?  Ou mesmo uma UEFA Champions League sem grupos e com única fase de liga? São apenas três exemplos que evidenciam uma tendência que não tem travão: as competições macro vieram para ficar, criando novos hábitos e expectativas nos adeptos. Os atores do jogo é que têm de mudar e adaptar-se, não o contrário.

Vale a pena antecipar o que se pode esperar já em 2026 (EUA, Canadá e México), com o alargamento para 48 seleções: desde o dia do jogo de abertura (o único em que haverá apenas uma partida) até ao último dos oitavos de final haverá 96 jogos em 27 dias (sem o tradicional dia de descanso). Isto significa que haverá dias com três, quatro ou mesmo seis jogos. É muito? Não na perspetiva da FIFA: são esperadas receitas na ordem dos 9,5 mil milhões de euros para a prova que irá decorrer no continente americano (cujos preços dos bilhetes estão a suscitar críticas de todo o lado). Daí que não causará surpresa se a proposta dos países da América do Sul for aprovada, com um Mundial realizado em seis países: além de Portugal, Espanha e Marrocos, Paraguai, Argentina e Uruguai também teriam um quinhão maior de jogos, provavelmente com as respetivas seleções anfitriãs a jogarem a fase de grupos na América do Sul e não na Península Ibérica ou Norte de África.

Vale a pena também imaginar como ficaria (ficará) a qualificação. Se já todos achamos que o modelo para o Mundial-2026 é uma formalidade para seleções como a portuguesa (a crise de Itália é a exceção), o reforço de todos os contingentes poderia reduzir o número de jogos. Em boa verdade, e por absurdo, as equipas nacionais de topo até poderiam receber um wild card à imagem do que acontece no ténis (ou eventualmente a Liga das Nações ganhar ainda mais peso nas contas na Europa), o que teoricamente reduziria a carga das seleções em momentos como o atual (datas FIFA em setembro e outubro) o que no caso europeu permitiria maior descanso aos clubes porque teoricamente não haveria necessidade de o top 10 das  seleções do Velho Continente terem de fazer tantos jogos - o mesmo aplicando-se aos sul-americanos, porque as 10 que disputam a atual qualificação regional estariam automaticamente apuradas.

Esta seria, talvez, a grande vantagem de um Campeonato do Mundo cheio de esteróides: para ter tantas seleções numa prova multicontinental poupava-se na qualificação. Mas porque a surpresa está sempre ao virar da esquina, nunca se sabe se em 2030 não haverá mudanças no próprio calendário do Mundial, ocupando praticamente um verão inteiro. Para já está previsto mês e meio (8 de junho até 27 de julho), mas ainda sem contemplar 128 jogos (!)...