Raúl de Tomás perseguindo Acuña na última Supertaça disputada entre Benfica e Sporting, com goleada dos encarnados (Foto: Carlos Vidigal Jr.)

Supertaça: o que Raúl de Tomás tem a ver com isto?

Dérbi será marcado pela nostalgia de quem partiu e de quem não chegou; só agora assistiremos à verdadeira impressão digital de Rui Borges, já o padrão de Bruno Lage parece repetir-se com João Félix na equação

«Ei-los que partem / Novos e velhos / Buscar a sorte / Noutras paragens / Noutras aragens / Entre outros povos / Ei-los que partem / Velhos e novos»

Não será a primeira nem a última vez que aquilo que deveria ser o arranque oficial de uma nova época, com renovadas expectativas e sorrisos largos a vislumbrar o futuro esteja ainda preso a um sentimento de perda. Sem tirar nem pôr, Sporting e Benfica têm esta particularidade de se defrontarem tendo como denominador comum um manto de nostalgia e saudade que irá pairar no Algarve quando a bola começar a rolar ao som da famosa música de Manuel Freire.

No caso dos leões será uma nostalgia do que já não têm; nas águias, a nostalgia do que podiam ter. De um lado, o adeus ainda fresco do melhor avançado que passou no futebol português depois de Mário Jardel, formalizado nesta semana; do outro, o sentimento de homem traído por aquele que poderia ajudar a resolver (na perspetiva do seu treinador e não só) lacunas que ainda são evidentes na equipa.

É um destino que está traçado nos clubes portugueses e do qual não vale a pena fugir, mas que ganha maior expressão na proporção dos respetivos protagonistas. Se os sinais fossem animadores, mais facilmente o pessimismo desapareceria, mas o que se viu até agora permite levantar muitas questões.

No caso do Sporting, não é só perguntar o que fará Conrad Harder ou Luis Suárez (injusto tentar fazer comparações individuais com o panzer sueco), mas fundamentalmente o que fará o treinador. Afinal de contas, é a partir de agora que os verdes e brancos terão uma verdadeira impressão digital de Rui Borges, havendo essa curiosidade de como irá o técnico de Mirandela fazer crescer todos os que ficaram para compensar a perda daquele que partiu.

No Benfica, a discussão é de outro nível: como irá Bruno Lage pôr a sua equipa a jogar depois de um defeso em que foi ele a escolher reforços e não o antecessor Roger Schmidt. Fazia sentido a chegada de João Félix, mas depois de falhada a operação-regresso o clube anunciou a contratação de um ponta de lança de características bem diferentes.

Ainda é cedo e talvez prematuro fazer já uma antevisão do que vai ser a equipa e o plantel das águias, mas não deixa de ser curioso haver aqui uma semelhança com o que aconteceu há seis anos quando saiu João Félix e veio Raul de Tomas, um avançado de área (apesar de ter uma mobilidade maior que Seferovic) que obrigou o Benfica jogar em 4x4x2. Os encarnados venceram a Supertaça frente ao Sporting (ou melhor, golearam por 5-0) mas o tempo mostrou que a escolha de um jogador com um perfil diferente tornou a equipa mais previsível, sem conseguir revalidar o título.

O tempo dirá se a insistência no padrão é a melhor solução. O que se sabe para já é que as virtudes e defeitos de Lage já são conhecidos; já os de Rui Borges só agora serão verdadeiramente expostos.

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