João Félix: só não resulta se não quiser
O Benfica tem alimentado neste século a sua veia sebastianista, que se traduz num desejo de regresso dos seus heróis de outra era. Este saudosismo tão português é uma das características do trajeto de Rui Costa no cargo de presidente do clube, até porque ele foi protagonista na primeira pessoa quando finalmente voltou a pôr no peito o seu emblema de sempre. É certo que já noutro estádio e numa fase descendente da carreira, mas ainda a tempo de mostrar, no intervalo das lesões, o veludo que lhe saía das botas.
Foi o responsável pelo regresso de Di María, tentou que Bernardo Silva viesse já neste verão e tudo fez para que João Félix entrasse Estádio da Luz adentro. Acredito que serão poucos os benfiquistas que não gostassem de ver um ou outro (ou ambos) de volta. Bernardo acabou por decidir ficar e cumprir o último ano de contrato no Manchester City e João Félix foi desviado para a Arábia Saudita, onde espera-o um contrato milionário de dois anos. Veremos se é possível assistir à volta do novo capitão dos citizens em 2026 e de Félix em 2027, já como jogador livre e com dinheiro para assegurar o bem estar da sua família para cinco gerações.
Para os adeptos, que chegaram a acreditar em ter os seus ídolos de volta, é uma daquelas constatações a que já estão habituados: há sempre alguém mais poderoso que lhe rouba os sonhos. E é por causa desta força maior que pouco ou nada se pode apontar ao Benfica neste processo: tentou ir o mais longe que pôde, mas, prudente, não embarcou numa deriva que poderia pôr em causa a estabilidade financeira da SAD, hoje por hoje sujeita a uma enorme pressão de custos. Nenhum jogador vale esse risco.
Quanto a Félix, limitou-se a ceder. De nada lhe servia insistir numa transferência para a Luz se o clube que detinha o seu passe não aceitava moedas quando pedia notas. Sempre poderia optar por outros alegados interessados na Europa, mas as últimas experiências não foram positivas. Rumando ao Al Nassr, encontrará um contexto que talvez se enquadre com aquilo que precisa neste momento da carreira: ter pessoas à sua volta com quem pode realmente aprender. E crescer. A começar pelo capitão Cristiano Ronaldo, um exemplo do que deve ser um futebolista de elite no que respeita à regularidade, consistência e atitude competitiva; e Jorge Jesus, daqueles de quem se costuma dizer que será dos poucos capazes de pôr Félix ao nível que mostrou no passado. De bolsos cheios e rodeado de carinho e tanta qualidade, só não dará certo se não quiser.