Rui Borges soma 11 jogos esta época, sem que tenha ganhado nenhum com os... grandes, e já começa a ser questionado pelos adeptos — Foto: IMAGO
Rui Borges soma 11 jogos esta época, sem que tenha ganhado nenhum com os... grandes, e já começa a ser questionado pelos adeptos — Foto: IMAGO

Rui Borges obrigado a dar passo atrás

Nos jogos grandes, os tais que o treinador do Sporting não ganha, voltar ao sistema de três centrais seria a melhor opção. Este é o 'Livre sem barreira', espaço de opinião de Hugo do Carmo

Vida a complicar-se para Rui Borges no Sporting. O treinador chegou a Alvalade a meio da época transata, num período difícil para os leões, e terminou-a como campeão e ao título nacional ainda juntou a Taça de Portugal.

A dobradinha, que há mais de 20 anos escapava ao clube, não foi, contudo, suficiente para reforçar os créditos de Rui Borges. Para muitos os méritos têm de ser repartidos com Ruben Amorim, que deixou a máquina bem oleada, bastando ao treinador limpar a areia que João Pereira permitiu que entrasse na engrenagem, para outros há dedo decisivo da estrutura erguida pela equipa liderada por Frederico Varandas.

Se antes Rui Borges era elogiado por não ter perdido nenhum jogo — a derrota com o Benfica na final da Taça da Liga não era contabilizada por ter sido nos penáltis, assim como os dois desaires na Champions, com RB Leipzig e Dortmund, já que as grandes prioridades eram as provas internas —, agora é criticado por não ganhar nenhum jogo frente aos grandes. E já se questiona mesmo se é treinador para um… grande!

O futebol é assim mesmo: cru e injusto. Os resultados ditam leis e toda e qualquer análise não consegue fugir ao imediatismo. Coloca-se uma linha onde dá mais jeito para reforçar a argumentação e vamos lá a factos. Não há volta a dar. Sempre foi assim e sempre assim será.

O Sporting leva 11 jogos, com sete vitórias, um empate e três derrotas, e Rui Borges é unicamente avaliado pelos quatro jogos que não ganhou. Indiscutivelmente, foram os quatro testes mais difíceis e o saldo é bem penalizador para os leões. Perda da Supertaça para o Benfica, derrota e empate caseiros com, respetivamente, FC Porto e SC Braga para a Liga, e desaire em Nápoles para a Champions. Os outros jogos? Ganhou-os, obviamente, como era… obrigação.

Rui Borges escolheu o caminho mais difícil em Alvalade. Abandonou o sistema tático há muito enraizado no clube e começou a criar uma equipa com uma identidade própria. Preferiu pensar pela cabeça dele, no que considero que ter sido a melhor opção, como, aliás, defendi aqui neste mesmo espaço, ainda bem antes de a época começar. Mas, lá está, tudo tem custos. Vai precisar de tempo e da proteção da Administração. Não é justo comparar-se o trabalho de três meses com os cinco anos da era Amorim. Até porque, e foram os próprios jogadores que o confessaram, todos no clube se sentiam mais confortáveis na fórmula antiga.

A estas condicionantes junto ainda mais dois nomes: Farioli e Mourinho. Sim, as comparações são inevitáveis e Rui Borges arranjou companhia de peso. Não lhe chegasse a herança de Amorim, agora ainda tem concorrência de luxo. O italiano, qual alquimista, transfigurou de um momento para o outro o FC Porto.

Depois do desastre Anselmi, todos sabemos que não era difícil fazer melhor, mas Farioli só no último jogo, no clássico com o Benfica, permitiu que se vislumbrassem algumas limitações nos dragões.

Mas nem isso beneficiou Rui Borges, já que então o demérito não foi de Farioli, mas sim mérito de… Mourinho.

Ninguém quer saber de estratégias, do ADN do clube, se se usou ou não o autocarro. O Benfica não podia perder e não ter perdido só pode ter sido uma vitória. Como Mourinho argumentou após o jogo e com o qual concordo absolutamente.

Aqui está outro problema de Rui Borges: a sala de imprensa. O treinador do Sporting não tem a fluidez de discurso dos homólogos e neste campo da capacidade oratória, que é cada vez mais importante neste novo mundo em que vivemos, há um nome que a todos nos deixou enormes saudades, a começar pelos sportinguistas, Ruben Amorim, obviamente.

Por este e outros motivos, o atual treinador do Manchester United continua ainda bem presente no seio leonino e considero que Rui Borges deveria ir ao encontro dele. Não digo que deveria abandonar a ideia de jogo, até porque o seu 4x2x3x1 já proporcionou belos espetáculos neste início de época, mas considero que o 3x4x3 poderia ser a solução para muitos dos problemas do atual Sporting.

É evidente, para mim, que em determinados momentos os leões se sentem inseguros, nomeadamente quando têm de defender vantagens mínimas — e Rui Borges é acusado de encolher em demasia a equipa —, e em muitas ocasiões os jogadores, principalmente os mais desequilibradores, se sentem desconfortáveis, como divididos entre atacar ou defender.

Considero, pois, que em determinados jogos, os tais jogos grandes…, a aposta no 3x4x3 poderia ser uma boa solução para dar maior tranquilidade e segurança à equipa e, até, surpreender os adversários. De resto, a maioria dos jogadores está rotinada naquele sistema e para mudar bastaria apenas uma alteração na equipa-tipo e isto com a introdução de quem está há muito habituado a tal. Bastava juntar Debast ou Eduardo Quaresma aos centrais e pedir a Geny Catamo ou Quenda para fazer toda a ala direita. O sacrificado? O jogador menos rotinado no modelo: Vagiannidis.

Aproxima-se já mais um jogo… grande, na quarta-feira, em Alvalade, e considero que o duelo com o Marselha seria uma boa oportunidade para Rui Borges dar o passo atrás a que está obrigado.