Rui Borges tem de afastar fantasma de Ruben Amorim
A época 2025/2026 já começa a centrar as atenções. Sejam elas as eleições no Benfica, as contratações no FC Porto ou o fica-não-fica de Gyokeres no Sporting.
Neste último caso, considero que para o futuro dos leões mais importante que a continuidade ou não do goleador sueco é o fantasma de Ruben Amorim.
É verdade que Rui Borges deu o bicampeonato ao Sporting e ninguém lhe pode retirar o mérito. Afinal, foram 19 jogos para a Liga, com 13 vitórias, seis empates e nenhuma derrota. Mais: o treinador recrutado ao V. Guimarães conquistou ainda a Taça de Portugal, devolvendo a dobradinha ao clube de Alvalade 23 anos depois.
Rui Borges marcou, claro, um lugar na história leonina. Contudo, considero que precisa de mais para se afirmar definitivamente. Para muitos, o momento de festa dos leões é devido em grande parte a Ruben Amorim. Foi o atual treinador do Manchester United quem construiu a equipa, que a deixou no primeiro lugar, com 11 vitórias em 11 jornadas — mesmo que Rui Borges já a tenha herdado na segunda posição, depois do erro de casting que foi João Pereira —, que brilhou na UEFA Champions League…
A herança que deixou foi pesada e paira em Alvalade um autêntico fantasma de Amorim. Por isso, Frederico Varandas, mesmo que já seja o presidente mais titulado da história do Sporting, vai ter, para a grande maioria, nova época de… teste. Teste de liderança (lá está a comunicação exemplar de Amorim…), de estrutura (lá está o planeamento de Amorim…) ou capacidade negocial (lá está o carisma de Amorim para convencer os jogadores… e neste capítulo também o conhecimento de mercado de Hugo Viana, que também saiu rumo a Manchester, mas para o City).
Entendo que não será uma época de teste apenas para Frederico Varandas, mas também para Rui Borges. E considero que a posição do treinador não é fácil, mesmo que se apresente, repito, com um troféu de campeão na mão direita e a Taça de Portugal na esquerda.
O treinador assumiu o comando num dia e três volvidos defrontou o Benfica, mudando o sistema. O enraizado e vencedor 3x4x3 de Amorim foi preterido, com Rui Borges de imediato a impor as suas ideias de jogo e a vencer. Contudo, a equipa não manteve depois a qualidade exibicional e no meio de uma série infindável de lesões, que muito limitaram as opções, o treinador fez marcha-atrás e voltou ao 3x4x3, levando a fórmula Amorim até ao fim.
Não poderia o treinador dos leões desejar melhor… para a época que agora terminou, mas em 2025/2026 tudo será diferente e Rui Borges estará mais exposto. Já não terá a atenuante das lesões, adaptar, com sucesso, o central Debast ao meio-campo já não será novidade e lançar João Simões, Alexandre Brito ou Eduardo Felicíssimo já não será tão valorizado.
A fasquia está mais alta e todas as opções serão da responsabilidade dele. Da constituição do plantel, do planeamento da época ou do modelo de jogo preferencial. E é aqui que considero que deveria voltar à sua matriz de jogo, pois só assim conseguiria a afirmação plena no clube.
Se mantiver o 3x4x3, duvido que consiga libertar-se do fantasma de Amorim, por mais sucesso que venha a obter. Esse nunca será um Sporting de… Rui Borges. Será sempre um Sporting criado por Amorim e aproveitado por Rui Borges.
Claro que a opção não é fácil, até porque não depende unicamente do treinador. Há que ter em conta a posição da Administração — leia-se entradas e saídas — e dos jogadores, que, como todos confessaram após o título, tiveram um peso decisivo na inversão estratégica.
E isto tudo sem colocar Gyokeres na equação. Se permanecer, mais de metade dos problemas, como constatámos nestes dois anos, estão… resolvidos. Se sair, como creio que sucederá, o Sporting será, inevitavelmente, uma nova equipa e Rui Borges terá a missão facilitada, tal o efeito-eucalipto do goleador sueco. Também neste capítulo Gyokeres será determinante.