Portugal nunca é realmente bom
Desde Luiz Felipe Scolari não houve um selecionador nacional que gozasse de amplo consenso ou, no mínimo, fosse objeto de simpatia e muito menos empatia por parte dos adeptos portugueses. Sobretudo os que seguem em permanência o futebol — a verdade é que a Seleção congrega à sua volta muita gente que não se desunha semanalmente por mais um bom resultado, mas gosta de ver Portugal. Esses sim, são por norma mais simpáticos e empáticos, mas o mais provável, por maioria de razão, é que não estejam a ler este texto num jornal desportivo.
Carlos Queiroz, homem com lugar mais que reservado na divisão da história entre um antes e um depois no futebol português de seleções, já se sabe que nunca foi o mais bem-amado dos treinadores.
Paulo Bento terá sido o mais neutro em termos de emoções do adepto. Era recorrente a crítica de um futebol nem sempre vistoso, mas há um Europeu que podia ter-se tornado inesquecível e isso não foi tão valorizado como as meias-finais de Scolari ou de Humberto Coelho.
Fernando Santos viveu o período mais romântico do futebol português e era figura venerada após a conquista do Euro-2016. Mesmo assim tinha infinitamente maior tração entre o tal adepto da Seleção do que entre os mais atentos e dezenas ou centenas de experts. Não acabou em alta, como sabemos, embora ninguém lhe tire o lugar no coração dos portugueses.
Veio depois Roberto Martínez, e mesmo a falar Português desde o primeiro dia demorou a conquistar as massas. Ainda demora, aliás.
Referiu, ontem, que Portugal joga muito e bem. Já conquistou troféus, mas como qualquer treinador tem dificuldades em transpor autocarros como o que a Irlanda estacionou em Alvalade no sábado passado.
Tem razão, porém: Portugal, regra geral, joga muito e bem. Mas, se não chega a deslumbrar, já não convence os índios e os especialistas.
A principal razão para isso, escrevo-o e digo há uns anos, é que antes de jogar nos achamos, invariavelmente, um bocadinho melhores do que realmente somos e depois de jogar achamos, quase sempre, ter sido piores do que realmente fomos em campo. O 8 e o 80, eis o adepto português.