Abel Ferreira já conquistou a Taça dos Libertadores duas vezes com o Palmeiras - FOTO: IMAGO
Abel Ferreira já conquistou a Taça dos Libertadores duas vezes com o Palmeiras - FOTO: IMAGO

Abel Ferreira no Palmeiras: a saga começou há cinco anos

«Não vim aqui para férias, vim para trabalhar, ganhar e ajudar os jogadores a crescer», dizia o treinador português, cheio de convicção, após a contratação, a 30 de outubro de 2020. Na próxima madrugada, na corrida ao 11.º título, orienta o 387.º encontro pelo histórico clube de São Paulo

SÃO PAULO — O que o Palmeiras precisa na próxima madrugada, superar o LDU Quito nas meias-finais da Taça dos Libertadores da América, após uma derrota por 0-3 na primeira mão, só por cinco vezes foi alcançado na história da prova. Neste século, duas. Por clubes brasileiros, jamais. Mas nenhuma equipa está mais preparada para a façanha do que a de Abel Ferreira, o treinador mais parecido com um milagreiro que o clube teve ao longo da história. A lenda começou a ser escrita faz hoje exatos cinco anos.

«Não vim aqui para ter férias, vim para trabalhar, ganhar e ajudar os jogadores a crescer», dizia o treinador dias depois de ser oficializado, a 30 de outubro de 2020, como novo treinador do Palmeiras. Cinco anos depois já levantou 10 taças, fez o clube ganhar 160 milhões de euros nas transferências de jogadores como Endrick ou Estêvão (e o benfiquista Richard Ríos), além de 106 milhões em prémios, e promoveu quase 30 atletas da formação.

«Atravessei o Atlântico para trabalhar, ganhar, ajudar a estrutura, não para conhecer a cidade, estudei o clube e as minhas ambições de agora e de futuro encaixam-se muito bem no Palmeiras», continuava o então ex-treinador do PAOK, da Grécia. «Fiz o meu trabalho de casa, como o clube fez ao apostar em mim, verde e branco são cores que me perseguem como jogador e treinador», acrescentava ainda o antigo lateral do Sporting.

«Naquela altura não sabia nada dele», admite Gian Oddi, jornalista da ESPN Brasil e observador da atualidade palmeirense, a A BOLA. «Mas fiquei feliz pela escolha de um jovem, europeu e de uma escola de muita qualidade como a portuguesa. Claro que não supunha naquele momento que ele se tornaria o maior treinador da história do Palmeiras e muitos dos títulos que conquistou, registe-se, foram com mérito muito específico dele, porque em diversas ocasiões não dispunha do melhor plantel», destaca.

«Eu já o conhecia dos tempos de jogador no Sporting e sabia que estava no PAOK», diz, por sua vez, Paulo Vinícius Coelho, jornalista da Paramount e do UOL, a A BOLA.

«Acompanhei de perto a notícia e gostei da escolha, principalmente depois de falar com pessoas de Portugal e entender que podia dar certo, além disso ele chegou muito bem orientado sobre o clube e a história, a primeira conferência de imprensa já foi impressionante, com um impacto muito rápido», sublinha.

«Do ponto de vista pessoal, as conferências de imprensa dele passaram de aulas, muito interessantes, para discursos um pouco mais amargos e agressivos mas isso é culpa do Brasileirão, o campeonato mais tóxico do planeta», completa Gian Oddi.

Hoje, Abel é o maior vencedor de provas internacionais pelo Palmeiras e único a ganhar competições estaduais, nacionais e internacionais. Detém o recorde de maior número de finais pelo clube, 13, é dono da maior invencibilidade, 18 jogos, e da maior invencibilidade fora de casa, 22 jogos, da história da Libertadores, e é o único treinador alviverde a levantar três troféus numa temporada neste milénio.

Os feitos de Abel são elogiados pela imprensa, reconhecidos pela presidente Leila Pereira, para quem o português «pode ficar no clube enquanto se sentir feliz», e notados por algumas das principais figuras do futebol. Mas também há críticos: para cada Abel, um Caim.

«Desrespeita o nosso país e os nossos árbitros», disse o ex-lateral e hoje treinador desempregado Jorginho, para quem «Abel não inventou o futebol». Cuca, outro técnico sem clube, afirmou que «quando se ganha tudo o que se faz é perfeito, quero ver quando perder».

E, em agosto, a eliminação do Palmeiras da Copa do Brasil aos pés do rival Corinthians motivou protestos até da claque Mancha Verde — «ei Abel, vai tomar no c…», gritaram. «Desde aí, a relação ficou estremecida, agora eles só cantam ‘Abel Ferreira’ mas até aí cantavam ‘Cabeça Fria, Coração Quente, Abel Ferreira é palmeirense como a gente'», lembra Paulo Vinícius Coelho numa alusão ao livro do treinador.

De então para cá, no entanto, o verdão ganhou 12 vezes em 18 jogos, reassumiu a liderança isolada do Brasileirão e eliminou Universitário, do Peru, e o poderoso River Plate, com vitórias em Buenos Aires e no Allianz Parque, na Libertadores.

É na Libertadores o novo desafio, um dos maiores destes cinco anos, de Abel no Palmeiras, com a LDU: «Mas acredito numa noite mágica, acredito e tenho fé, vamos fazer tudo para conseguirmos aquilo em que poucos acreditam — eu acredito.»

A história diz que o melhor é não duvidar.