Aaron Broussard: «A Champions é um desafio»
Na Liga dos campeões pela quarta época consecutiva, única equipa portuguesa a conseguir disputar a prova, e desta feita com uma inédita qualificação directa, o Benfica defronta, hoje (20h30), os espanhóis do Gran Canaria, a contar para o Grupo H. Entre os homens de confiança de Norberto Alves, está o americano Aaron Broussard, 35 anos. Letal atirador que tem em Stephen Curry, Anthony Edwards e no retirado Carmelo Anthony exemplos e que só não celebra os triplos batendo com os dedos na cabeça como o último porque prefere ser discreto.
— Em setembro foi anunciado que tinha renovado contrato por dois anos, até 2026/27. Esta será a sua quinta época no Benfica. Nunca jogou tanto tempo, até mesmo na universidade [Seattle Redhawks], num só lugar. Como é que tem sido? Está a ir além daquilo que esperava quando chegou pela primeira vez [2021/22]?
— Sim, naquela altura tinha assinado um contrato de dois anos. Não se consegue pensar além disso. Estava a tentar concentrar-me apenas em cada dia, em cada temporada. Depois continuamos a progredir, surgem novos objetivos, conseguem-se novas conquistas a cada época e tenta-se manter o corpo capaz. Tem sido, realmente, uma experiência única dentro e fora de campo. Por isso foi muito confortável para nós voltarmos para continuar a construir.
— Mas permanecer no país por pelo menos seis anos, com certeza que já é mais do que só jogar basquetebol. Provavelmente gosta da comida, do País, das pessoas… A sua família está cá consigo. O que é que existe além do court? A razão pela qual diz: não é só basquetebol?
— É verdade, realmente eu e minha família gostamos do país. Do país e do clube. As relações são mais como uma família neste momento. Gostamos de ser parte do Benfica. Os meus filhos praticam desporto, jogam voleibol e basquetebol. Têm as suas próprias identidades com a equipa, têm também as camisolas. É difícil quebrar isso. Quando se está feliz em algum lugar, é difícil ir embora. Por isso vamos apreciando e aqui estamos.
— E os seus três filhos [Aiden, 13; Maiya, 10; Mason, 8] também jogam no Benfica?
— Sim.
— E são adeptos e gostam de ir aos jogos de futebol e tudo isso?
— Não temos ido a muitos jogos de futebol, honestamente. Na verdade, eles quase não têm tempo para vir para alguns dos meus jogos porque estão realmente ocupados todos os fins de semana, têm competições. Treinam a semana toda e isso mantém-nos a todos ocupados. Diria que são quase como cinco épocas numa só porque todos os miúdos têm o seu calendário e por isso andamos um bocado atarefados com isso. Faz parte e nós gostamos.
—A temporada está apenas a começar, mas o que é que pode dizer sobre a equipa, porque metade dela é nova. Está a tornar-se num veterano do Benfica, quase que apenas o Betinho [João Gomes] está cá há mais anos do que você. O que pode dizer sobre isso? E quais são suas ambições com esta equipa?
— Acho que iremos ser bastante ambiciosos. Queremos repetir a época anterior, obviamente, como terminamos. Mas também há outros troféus que não conseguimos ganhar no ano passado. Por isso, espero que agora, com este grupo, consigamos alcançar esses objetivos. Até agora, penso que todos os sinais apontam para uma época de sucesso. Estou animado com os novos jogadores e por todos nos estarmos a tornar numa equipa e continuarmos a construir uma química. Dia após dia vamos alcançar alguns objetivos.
— Vai começar a disputar novamente a Liga dos Campeões. Qual é a diferença? O que se pode ter nesta competição que não tem no país. Qual é a grande diferença?
— Equipas com muito mais experiência. Com jogadores que atuaram em várias ligas fortes. A intensidade e a velocidade podem ser algumas diferenças, por isso é importante usarmos cada encontro para alcançarmos esse nível no jogo e tentar continuar a tornarmo-nos numa equipa como as que vamos enfrentar na Liga dos Campeões. É uma boa oportunidade para continuarmos a crescer e ver onde estamos. Para nós é um bom desafio.
— E o que sabe sobre o Gran Canaria?
— [risos] Não muito ainda. Obviamente, com um tempo tão curto entre jogos [jogaram no sábado com a Oliveirense], mas estudamos rapidamente. Sei que têm bons jogadores, é um bom conjunto. Fizeram um jogo equilibrado com o Real Madrid [81-71], só podemos esperar que será difícil.
— Já referiu o que alcançou na última temporada e nos anos anteriores. Até agora tem: quatro campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e uma Taça da Liga. O que está a faltar?
— Acho que aqueles em que só tenho um. Eles precisam de mais alguns. Além disso, não sei.
— E sonha em ganhar os três no mesmo ano? Ou quatro?
— Sim, quatro. Quatro em um ano seria a única coisa que ainda não fizemos, acho. Então, vamos lá a isso.
— Sabe o que é o penta?
— Penta?! Não. Ah, como cinco, não é? Sim, sim…
— Então, já ganhou quatro campeonatos consecutivos. O penta apenas aconteceu duas vezes no campeonato em Portugal [1960/61-1964/65 e 1988/89-1992/93]. Ambos foram conseguidos pelo Benfica. Vocês falam na equipa sobre isso, alcançar o penta? Porque este ano pode ser o penta.
— Acho que esse assunto ainda não surgiu. Não falamos sobre ele, mas, obviamente, o nosso objetivo é ganhar. Como isso vem com as vitórias... Mas, sim, tenho a certeza que o tema surgirá aqui e ali. Por agora estamos apenas focados em cada jogo e em cada objetivo até o final da temporada.
— Mas posso ver um brilho nos seus olhos quando fala sobre ganhar esse penta.
— Sim, claro que sim. Isso está no fundo do meu cérebro. Mas, por enquanto, vamos focar-nos no que temos à frente.
— Uma vez, o Benfica venceu sete campeonatos consecutivos [de 1988/89 a 1994/95]. Isso significa que terá de assinar por mais um ano para também poder ganhar sete seguidos...
— [risos] Depois deste contrato, não é sobre onde irei estar a jogar. Será mais no ponto: será que ainda estarei a jogar. Por enquanto estou no campo e vamos ver o que acontece.
— E a que é que ainda não se adaptou em Portugal desde que cá vive?
— A língua, com certeza.
— Sim? Apenas isso?
— Acho que apenas isso. Esta é uma cidade grande, é difícil estarmos familiarizados com todas as zonas. Mas, acho que mais do que isso, sinto-me cada vez mais e mais como se, de certa forma, estivesse em casa. Mas, sim, diria a língua.
— É de Washington, [cidade Federal Way], o estado. Era um fã dos [Seattle] Supersonics?
— Sim, sim.
— Era a sua equipa ou tinha outra na NBA?
— Na altura era a minha equipa. Porque, localmente, é a que víamos. Podíamos ir ver os jogos. Foram bons tempos. E, quando eles se foram embora [Oklahoma City Thunder] passei mais a acompanhar individualmente jogadores que gostava de ver.
— Quais?
— Stephen Curry, Carmelo Anthony, antes de ele se retirar. Dos novos jogadores, diria o Anthony Edwards. Agora, estando em Portugal, com as diferenças horárias, é muito difícil acompanhar. Mas, os Supersonics serão sempre a minha equipa. Espero que eles regressem.
— Essa é a questão: duas equipas, duas cidades, vão ter direito a terem um clube. Seattle tem de ser uma delas?
— Tem sido discutido ao longo de tantos anos que pensamos que vai acontecer, mas, até que suceda, não desisto das minhas esperanças. Espero que sim.