Benfica e a dinastia do penta ou a hora da revolução na Liga
Será que alguém, ou melhor, serão Sporting e FC Porto, os outros dois principais candidatos, que também revolucionaram os respetivos plantéis, capazes de travar o ciclo de títulos do Benfica na Liga Betclic? Impedir que chegue ao raríssimo penta e 32.º do seu historial? Esta é a grande questão que se coloca quando, hoje, véspera do Dia da Implantação da República, arranca o campeonato 2025/26 sob o domínio absolutista dos tretracampeões nacionais, que recebem na Luz a Oliveirense, às 15h00.
Época que tem como novidades o histórico e campeão da Proliga Vasco da Gama, de regresso volvidos 30(!) anos e vencedor em três ocasiões (1941/42, 1947/48, 1950/51), e a estreia do SC Braga. Ocupam as vagas deixadas pelas descidas de divisão de Póvoa e Galomar. Formações que se aguentaram no mais elevado nível do basquetebol cinco e duas temporadas, respectivamente.
Mas é igualmente o campeonato em que não competirá qualquer clube das ilhas. Ao contrário de há dois anos, desta feita com a descida do Galomar não houve o regresso do CAB Madeira — as duas formações madeirenses nunca atuaram na Liga em simultâneo — e já desde 2024/25 que o Lusitânia dos Açores não se aguentou.
Será ainda uma jornada onde apenas V. Guimarães e Sporting entram em ação amanhã (15h00), enquanto o confronto do Galitos do Barreiro com SC Braga foi adiado para 26 de outubro devido à necessidade de mais tempo para regularizar autorizações de residência/trabalho de alguns basquetebolistas estrangeiros, sempre com maior problema para os americanos. Questão que, na época transata, levou ao adiamento das duas primeiras rondas para todos.
«Vai ser o melhor campeonato dos últimos anos»
«Penso que vai ser o melhor campeonato dos últimos anos. Além dos chamados três grandes, temos a Oliveirense que não tenho grandes dúvidas que se irá intrometer também na luta pelo campeonato. O Sporting de Braga, por exemplo, considero que tem um bom projeto também, portanto, acho que vai ser a melhor Liga. Vamos precisar da energia dos nossos adeptos nos momentos mais complicados, vão existir jogos muito difíceis de ganhar», declarou o treinador Norberto Alves aos meios de comunicação do Benfica sobre a edição em que pode chegar ao tetra.
E no caso pessoal, ao sétimo título de campeão na carreira, juntando os dois à frente da Oliveirense (2017/18 e 2018/19).
Facto curioso. Entre os 12 treinadores, apenas dois já foram campeões: Luís Magalhães (8) e Norberto Alves. Estes são responsáveis pelas últimas sete conquistas na Liga Betclic. É necessário recuar a Carlos Lisboa em 2016/17, pelo Benfica, para encontrarmos outro técnico campeão.
O penta que terminou em hepta
Para as águias, é também o desafio de atingirem o penta. Feito apenas concretizado na modalidade em duas ocasiões e pelo Benfica: entre 1960/61 e 1964/65; e 1988/89 e 1993/93, mas neste caso estendendo-se até 1994/95 que originou o heptacampeonato conduzido por Mário Palma num conjunto onde brilhavam Carlos Lisboa e Jean-Jacques Conceição.
Ninguém prolongou tanto a dinastia criada que ajudou à conquista de 10 títulos em 11 temporadas. Apenas interrompido pela Ovarense (1987/88) de Luís Magalhães onde pontificava o futuro tricampeão da NBA Mario Elie, Dwayne Johnson e Mário Leite.
Note-se que, mesmo conseguir chegar ao tetra foi um feito só concretizado em quatro ocasiões: quatro pelos encarnados e uma pelo Carnide (1934/35-1937/38).
A diferença deste Benfica para o das duas últimas épocas? A renovação de metade do plantel. Norberto sentiu que chegou a altura em que máxima: em equipa que ganha não se mexe, podia já não resultar, até por causa do compromisso e desgaste da Liga dos Campeões. Ainda assim, manteve oito elementos do seu principal grupo, casos dos veteranos Aaron Broussard (35 anos), Makram Ben Romdhane (36) e o quarentão João Betinho Gomes e os internacionais Diogo Gameiro e Daniel Relvão. Para ajudar à ambição das novas conquista estão agora Rasaq Yussuf, Justice Sueing, Kobe McEwen e o polaco Aleksander Dziewa.
Leão no Querido Mudei a Casa
Mas, se os campeões fizeram uma forte remodelação, então o Sporting levou a Alvalade o Querido Mudei a Casa. Da época passada sobreviveram apenas os internacionais Diogo Ventura e André Cruz, regressou João Fernandes, ligado às várias conquistas com Magalhães no retorno dos verdes e brancos à Liga, e foram buscar Francisco Amarante após dois anos deste na LEB Oro, em Espanha.
«Temos uma boa equipa, uma excelente equipa. Esta época tivemos oportunidade de, com tempo, construir o plantel, e estou muito satisfeito porque são muito trabalhadores, excelentes profissionais e estão bastante empenhados», comentou Luís Magalhães à comunicação dos leões após a vitória no Troféu Stromp e tendo em conta a contratação do ex-Oliveirense Malik Morgan, promete entusiasmar as bancadas com os seus triplos. Malik Bowman e o belga Stephen Swenson estarão igualmente os mais produtivos.
FC Porto com trabalho a fazer
Para fechar o lote dos candidatos, que muitas vezes deverão apresentar cinco iniciais apenas com estrangeiros, Fernando Sá também fez mudanças. Segurou seis elementos do núcleo principal: Miguel Queiroz, Wesley Washpun, Tanner Omlid, Gonçalo Delgado, Miguel Maria e João Guerreiro. «Neste momento, temos consciência de que muito trabalho está ainda a ser desenvolvido, tendo em conta o elevado número jogadores novos e a ausência de outros por lesão. Temos que nos unir e ultrapassar com empenho e dedicação os confrontos que se aproximam», disse Fernando Sá à comunicação dos dragões.
A criar enorme expectativa está a aquisição do poste ex-Imortal Javien Davis, eleito MVP da Liga em 2024/25. Alguém de quem muito se espera num clube, o segundo com mais títulos de campeão (12), mas que não ganha o campeonato desde 2015/16 e foi finalista vencido em seis das últimas oito edições, inclusive a última.
Para ajudar nessa missão está de regresso o internacional Vlad Voytso, também ele depois de dois anos em Espanha, e a contratação de Jhonathan Dunn e do francês Axel Toupane, campeão da NBA pelos Bucks (2020/21).
Oliveirense e Ovarense na luta
Aos três grandes, que contam com outras estruturas, experiência e capacidade financeira para substituir apostas que não resultaram ou lesões, seguem-se Oliveirense e Ovarense. Clubes que integram a elite do basquete português e que apostam em chegar à fase final de qualquer competição para ganhar. Tal como aconteceu à turma de Oliveira de Azeméis na passada época na Taça Hugo dos Santos contra o FC Porto.
Mais difícil, mas não impossível, será surpreender os candidatos no play-off com três rondas, as duas últimas à melhor de cinco. Será o V. Guimarães capaz de se juntar a este grupo? Tem o SC Braga, até pelas apostas que fez no defeso, nível para garantir a segunda fase? Conseguirá o Galitos do Barreiro voltar a ser a equipa sensação? São algumas das questões que vão começar a ser respondidas a partir de hoje. Bola ao ar!
'Betinho' Gomes na luta aos 40 anos
Se notar que em muitos jogos, sobretudo nos mais importantes de Benfica, FC Porto e Sporting, que os cinco iniciais são compostos só por estrangeiros, não se admire. Vai ser natural. Até porque estes três, devido à presença das águias na Liga dos Campeões e dragões e leões na Taça Europa, vão necessitar deles para poderem ter alguma aspiração em passar da fase de grupos.
São 90 os basquetebolistas não portugueses no arranque, com o contingente americano a ser o maior (52), seguido do canadiano (8), angolano, brasileiro, ambos com três. E nacionalidades menos habituais, casos de Suécia, Bélgica, Hungria, Polónia ou Letónia. O tunisino Ben Romdhane (Benfica) já é da casa.
Quanto ao mais velho, aos 40 anos (faz 41 em fevereiro) João Betinho Gomes vai lutar pelo oitavo título de campeão no Benfica. Mas ainda há os jovens Felizardo Ambrósio (Vasco da Gama), que celebra o 38.º aniversário em dezembro, Arnette Halman (Queluz), Fábio Lima (Imortal) e Pedro Pinto (V. Guimarães), todos com 37.