Humberto Coelho durante a entrevista a A BOLA (Foto: Breno Barison)
Humberto Coelho durante a entrevista a A BOLA (Foto: Breno Barison)

«Vou ser o vice-presidente para as relações com as instituições»

Em entrevista a A BOLA, Humberto Coelho, candidato a vice-presidente na lista de Rui Costa, desfaz dúvidas sobre as funções que terá, caso seja eleito

– Que balanço faz dos 13 anos em que esteve como vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol?

– Foi muito bom. Ganhámos 18 títulos e construíram-se grandes estruturas, através de uma equipa com pessoas com muita competência, todas elas entusiasmadas e comprometidas com a Federação. Foi o todo e não apenas as partes que fez com que ganhássemos as competições que ganhámos. A Seleção Nacional tem hoje grande notoriedade no estrangeiro e está no primeiro patamar do futebol mundial. Ganhámos o primeiro campeonato da Europa com o futebol de praia e depois o futebol de praia foi a locomotiva para ganharmos os títulos que ganhámos.

– Quando Fernando Gomes não lhe passou pela cabeça tentar ser presidente da Federação ou mesmo candidatar-se a presidente do Benfica?

– Não, nunca me passou pela cabeça. Há muitos anos fui convidado para ser presidente do Benfica, mas não quis. Eu gosto de trabalhar por fora. Um cargo institucional, seja na Federação ou no Benfica, por exemplo, não tem só uma especialidade, tem várias especialidades. É multifacetado. E isso é o que eu gosto. Gosto de ajudar. Ajudei a Federação a crescer nestes 13 anos, o que é fundamental. E é disto que eu gosto. Ganhar é crescer. Tive a oportunidade de trabalhar na Federação e trabalhei sempre com humildade. O meu compromisso sempre foi ajudar as instituições a evoluírem.

– Que análise faz aos quatro anos de presidência de Rui Costa?

O Benfica é um clube sólido e temos muitos projetos, para o presente e para o futuro, que vão ajudar o Benfica a crescer

– Não foi um período complicado, foi um período complicadíssimo, porque o Benfica não estava bem, estava com muitas dificuldades. E agora, quatro anos depois, o Benfica é um clube sólido e temos muitos projetos, para o presente e para o futuro, que vão ajudar o Benfica a crescer. O Benfica cresceu para 400 mil sócios, agora até já tem mais. É extraordinário. Além disso, não se pode dizer que o Benfica não ganhou nada. O Benfica ganhou um campeonato, duas Taças da Liga e ainda a presença constante na Liga dos Campeões. E isso é fundamental. Acho engraçado que as pessoas digam “nós vamos ganhar, vamos ganhar”. Mas como é que vão ganhar? Nunca ninguém diz como é que vai ganhar. Dizem só: nós vamos ganhar. O Benfica teve um período, entre o fim da época passada e o início desta, em que apanhou o primeiro Campeonato do Mundo, teve depois uma pequena preparação para ganhar a Supertaça e depois outra, igualmente pequena, para ganhar nas eliminatórias para a Liga dos Campeões. Tudo em muito pouco tempo. E acho que toda a gente sabe, sobretudo alguns ex-jogadores, que a pré-época é a parte mais importante da preparação para uma época inteira. Porque é, de facto, depois dela que tudo será definido. E isso o Benfica não teve. O Benfica, neste momento, ainda não está na forma que a gente pretende. Tivemos aquele azar de perder com o Qarabag, depois de estarmos a ganhar. Mas agora, nos últimos três jogos, ganhámos os três e marcámos 11 golos e sofremos zero.

– Satisfeito?

– Sim. A equipa está a recuperar, os jogadores estão a adaptar-se e vamos subindo gradualmente para consolidar uma equipa que possa competir neste campeonato.

– Mas estão a quatro pontos do líder.

– Sim, verdade. Mas nós é que ganhámos o primeiro troféu em Portugal. Veja o que estão a passar, em Inglaterra, Liverpool e Chelsea. Estão no sexto e oitavo lugares. Futebol é isto. Importante é continuar a trabalhar e a recuperar pontos aos da frente. É o que vamos fazer.

– Entre o final do seu percurso na Federação e o convite para integrar a lista de Rui Costa, pensou alguma vez que ia calçar as pantufas e descansar?

– Não. Estou sempre disponível para qualquer coisa. Depois, apareceu o convite do Rui Costa.

– Quando apareceu esse convite?

O Benfica foi e é a minha vida. A minha vida foi o Benfica.

– Há pouco tempo.

– Pensou durante algum tempo ou aceitou logo o convite?

– Não pensei duas vezes. Não podia dizer que não. Fiz 716 jogos no Benfica. Ganhei 511, empatei 115 e perdi 90. Marquei 127 golos e ganhei 22 títulos nos seniores e 2 nos juniores. Aliás, ganhámos, pois ninguém ganha sozinho. Portanto, o Benfica está cá dentro. Nunca saiu e vai ficar para sempre. O Benfica foi e é a minha vida. A minha vida foi o Benfica.

– Mourinho, quando foi convidado por Rui Costa para ser treinador, disse que não podia dizer não ao Benfica. É também o seu caso?

– Sim, sim. É igual. Tenho quase 60 anos de Benfica. E vejo como evoluiu o Benfica. É um clube fantástico. Mas não nos podemos esquecer nunca do passado. O Benfica está em mim todos os dias. Desde os seis anos que sou benfiquista, sobretudo por causa das competições europeias. E eu ainda joguei com alguns campeões europeus.

– E o que é que o levou a aceitar o convite? Foi ser Rui Costa? Foi ser o Benfica?

– Era o Benfica e o Rui Costa. Rui Costa foi um jogador extraordinário. Foi meu jogador na seleção. É muito inteligente. Mas, essencialmente, é muito sério. O Rui é uma pessoa que constrói. É uma pessoa que não foge aos problemas. É uma pessoa que vê o presente e vê o futuro. E é isto que faz dele um bom presidente. Além disso, os últimos quatro anos foram muito difíceis para ele. Muito difíceis. Mas ele fez um bom trabalho. O Benfica, hoje em dia, tem infraestruturas. O Benfica, hoje em dia, tem um nome no estrangeiro. O Benfica tem ido a todas as Ligas dos Campeões.

– O Humberto não tem aparecido muito na campanha de Rui Costa por alguma razão especial?

– Infelizmente tive que pôr uma prótese na anca e ainda não me posso deslocar com a facilidade que gostaria. Tenho mais duas semanas de repouso, por ordem do médico. Aproveitando esta oportunidade, gostaria de mandar um abraço a todos os meus companheiros na equipa do Rui Costa pelo trabalho que têm feito, que tem sido extraordinário e de grande intensidade. Estou-lhes grato e peço desculpa por não ter estado muito presente, mas tive que ficar em repouso.

– Numa entrevista a A BOLA, Rui Costa disse que acredita que vai ser melhor presidente do que foi jogador. É uma meta alta…

– Sim, é uma meta alta, porque ele foi um jogador extraordinário. Mas é uma meta que ele pode atingir. É preciso conhecer muito bem o Rui Costa. Há alguns ex-jogadores que falam do Benfica e tal, mas uma das coisas mais importantes é conhecer o clube. E conhecer não é só ver os jogos, mas conhecer por dentro o que é que aquilo vale. Porque o Benfica tem o futebol, tem o futebol feminino, tem as modalidades. E todas elas são importantes para o Benfica. E todas elas têm que ter a mesma mística que se tem no futebol: ganhar, ganhar, ganhar. E isso é muito, muito difícil. Porque é preciso trabalhar de forma intensa, é preciso ter compromisso com o Benfica. Ter contrato não basta. É preciso ter compromisso.

– O Humberto, na Federação, tinha 10 a 15 jogos anuais. Se for eleito, passará para 50 ou 60. Está preparado para essa estafa muito maior?

– Estou preparado. Aliás, estou preparadíssimo. O futebol é assim. Mau era se eu não estivesse preparado ou não quisesse. Isso é que era um problema. Eu quero e estou preparado. Porque não gosto de parar. Ainda tenho capacidade suficiente para ajudar o Rui Costa a ganhar e a crescer. E para ajudar o Benfica a ser cada vez maior. O Benfica hoje em dia é uma grande marca e, essencialmente, tem uma grande massa associativa. Os nossos adeptos são extraordinários. Todos viram, depois do jogo com o Arouca, quando foram as eleições, aquela vibração no Estádio. Fez-me lembrar o antigo Terceiro Anel. Quando aquilo explodia vinha tudo por ali abaixo. Ainda agora, em Guimarães, vimos a alegria daqueles sócios e adeptos. É o que nós queremos em todos os jogos.

– A principal crítica que lhe tem sido feita é de não se perceber muito bem o que é que o Humberto vai fazer no Benfica, pois disse que apenas depois das eleições ficaria tudo completamente definido. Quer explicar o que vai fazer?

– Vou ser o vice-presidente para as relações com as instituições. Mas não vou só ser isso. Vou estar atento a tudo o que se passa no clube. Vou procurar ajudar todos aqueles que precisam e aconselhar o que se tem que fazer. Isto é fundamental para o Benfica. Uma pessoa não pode só trabalhar numa coisa. O Benfica é uma equipa e essa equipa tem que falar, tem de estar atenta a todos os pormenores que apareçam para prejudicar o Benfica ou atrasar mais o Benfica. Temos de estar atentos a isso tudo. E isso é o que eu vou fazer.

– Como vai ser a relação do Benfica, por exemplo, com o Pedro Proença?

– As relações do Benfica com os clubes e com as diversas associações têm de ser institucionais. Os clubes têm de ser parceiros de uma área de negócio que é fundamental para esta indústria. O que o Benfica quer é que as entidades funcionem, mas com transparência e transversalidade a todos os clubes, de forma que possamos acreditar que as coisas estão melhores. Os critérios têm de ser iguais e, por vezes, não são.