Viaja nove mil quilómetros, paga mil euros por bilhete e... fica à porta
A Premier League é talvez o campeonato mais seguido do mundo, e há quem faça de tudo para poder cumprir o sonho de assistir a um jogo ao vivo. É o caso de James, adepto que viajou da Coreia do Sul até Brighton, para assistir à receção ao Tottenham, no passado dia 20 de setembro.
Além da viagem de quase nove mil quilómetros, James pagou ainda cerca de mil euros por um bilhete, adquirido num site não autorizado de revenda. Quando chegou a hora de entrar no American Express Stadium, o sistema não reconheceu o ingresso e os torniquetes não se mexeram: entrada recusada.
O primeiro instinto foi ir até à bilheteira, onde foi informado de que o bilhete que havia comprado por pouco mais de mil euros era ilegal. «Estou desiludido. Não conhecia esta regra», disse James, à BBC Sport. «Disseram-me para tentar reaver o valor do bilhete», acrescentou.
De acordo com a investigação da BBC, mais de 200 adeptos viveram a mesma situação de James só nessa partida, que terminou empatada a duas bolas. O modus operandi está estabelecido: os intermediários utilizam ferramentas sofisticadas, desde software de bots a identidades falsas, para adquirir centenas de bilhetes, que depois são vendidos a preços exorbitantes. O resultado é que os verdadeiros adeptos ou pagam valores desproporcionados ou ficam sem um bilhete válido.
«Os adeptos que vêm de konge não têm hipótese de conseguir bilhetes, porque as agências secundárias compram em grande quantidade», alertou Tom Greatrex, presidente da Associação de Adeptos de Futebol. Segundo ele, este é um fenómeno que se espalha por todo o futebol.
Brighton adota medidas rigorosas
O Brighton decidiu agir. O clube está a utilizar novas tecnologias e, no início da temporada, contratou um investigador de vendas de bilhetes, Joseph Sells. Esteve de serviço durante o jogo ante o Tottenham.
«Detetámos centenas de bilhetes não autorizados e impedimos transações no valor de cerca de 100 mil libras [115 mil euros], que de outra forma teriam ido parar às mãos de vendedores não autorizados», revelou Sells, à BBC.
Segundo o responsável, o Brighton está a investir significativamente na luta contra o mercado negro. Além de utilizar software de ponta, colabora também com outros clubes. O programa consegue avaliar comportamentos de risco, como por exemplo, se alguém compra um bilhete na Estónia com um cartão emitido nos Emirados Árabes Unidos. Esse tipo de transações são automaticamente assinaladas pelo sistema. «O modelo aprende diariamente a reconhecer outras anomalias», acrescentou Sells.
Joseph Sells deu outro exemplo: «Há duas semanas, uma família veio com seis bilhetes para o jogo com o Manchester City. Pagaram um total de seis mil libras [cerca de sete mil euros]. Claro que foi muito desagradável. Mas é por isso que repetimos constantemente: os bilhetes devem ser comprados exclusivamente através do clube.»
O Brighton tem também uma solução preparada para os adeptos cujos bilhetes não autorizados não são aceites. Recebem uma carta explicativa e a recomendação de contactar o banco ou o emissor do cartão. O clube oferece-lhes então os lugares vagos que restarem, seja de bilhetes de época libertados ou de secções destinadas a convidados VIP.