Sporting conquistou ponto precioso em Itália com exibição muito competente - Foto: IMAGO
Sporting conquistou ponto precioso em Itália com exibição muito competente - Foto: IMAGO

Velha senhora quase não resistiu a um novo e sedutor leão (crónica)

Ainda não foi desta que o Sporting quebrou o enguiço em solo italiano mas assinou exibição competente e um precioso ponto. Entrada deslumbrante, gestão perfeita e um sofrimento que pareceu inevitável e quase fatal

TURIM - Ainda não foi desta. Não foi desta que o leão colocou um ponto final no enguiço italiano. Mas a 20.ª visita do Sporting em solo transalpino deixou boas indicações e, mais importante ainda, um precioso ponto num terreno difícil e adverso. Nota de destaque? A grande entrada, destemida e personalizada, da equipa de Rui Borges.  

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Com o leão a vestir o fato da famosa ‘vecchia signora’. Para os menos identificados este mítico nome ao clube italiano vem da elegância e sofisticação quando a família Agnelli, proprietária da FIAT, comprou o emblema transalpino na década de 20. A imagem de uma ‘velhinha’ evocava o estilo sofisticado dessa elite rica que adquiriu a Juventus. Um apelido que ficou até aos dias de hoje. Transportando isso para este jogo foi assim que o Sporting entrou no Allianz Stadium. Elegante, sedutor e com uma forte personalidade. Mas já lá vamos...    

No onze de Rui Borges uma novidade e outra... meia novidade. A principal, e mais inesperada, com a aposta em Ioannidis como principal referência ofensiva – sinais de que Luis Suárez necessita de descanso – e a entrada (desta vez) de Quenda para o lugar de Geny Catamo em mais uma das rotações entre estas duas peças consoante o adversário. E que se deveu, sobretudo neste jogo, para que o jovem internacional luso pudesse funcionar (como funcionou) muitas vezes como lateral, recuando no corredor pela direita, transformando os leões, em várias ocasiões durante a partida, numa linha de cinco a defender.  

Maxi Araújo abriu o marcador num belo desenho ofensivo do leão - Foto: IMAGO

Uma ideia que funcionou nos primeiros minutos. Com os laterais leoninos a serem verdadeiras setas e desequilibradores (e vibrantes) nos leões. Com Quenda e Pedro Gonçalves a procurarem o jogo interior, privilegiando o apoio aos médios (João Simões e Hjulmand) nos intensos duelos com Thuram e Locatelli no miolo. Assim davam a Vagiannidis e Maxi toda a largura e lançarem o pânico na defesa transalpina. Com muito espaço pois Mckennie e Cambiasso, no 3x4x3 de Spalletti, estavam sempre projetados nas alas e poucas vezes recuavam a fechar a linha de três defesas do conjunto italiano. Foi num desses desequilíbrios que surgiu o golo leonino.

Numa jogada perfeita dos leões a começar na direita e terminar na esquerda. Vagiannidis dá para Ioannidis, que combina para Trincão que ‘convida’ a entrada de Maxi na esquerda para atirar forte e cruzado um remate de belo efeito para o golo. Perfeito. 12 minutos e um senhor leão que, dois minutos depois, em mais uma subida de Vagiannidis dá para a entrada de Trincão que atira à trave. 14 minutos e um senhor leão ainda maior. E se o jogo terminasse ali era nota 10. Para todos. Mas ainda havia muito mais para contar.  

E a partir daqui a Juventus cresceu. E tornou-se muito mais ameaçadora. Com 10 minutos eletrizantes onde valeu Rui Silva com duas defesas que fazem equipas ganhar jogos. Ambas a Vlahovic, num golpe de cabeça e outra num forte remate de pé direito. Um avançado que ligava toda a equipa e que o leão sentia imensas dificuldades em anular. O leão assustou-se com esses avisos. E de que maneira. Deixou de fazer o que tinha feito. E sofreu. Recorrendo a maior contenção de forma a criar ansiedade na equipa italiana, surpreendida pela entrada de leão do Sporting. Um recuo penalizado, de forma justa aliás, pelo golo do inevitável sérvio que não deu descanso a Diomande. Num ligeiro desvio após o desequilíbrio de Thuram no corredor esquerdo surgiu o empate. E se o leão já estava tremido... pior ficou com o golo que fez o Allianz Stadium entrar em ebulição. Em cima do intervalo, já com o Sporting a implorar o descanso, foi mesmo Gonçalo Inácio a ser bombeiro e a desviar um remate que levava selo de golo de Francisco Conceição.  

Itália ficou a conhecer ainda melhor Hjulmand que fez enorme jogo em Turim - Foto: IMAGO

Intervalo foi bálsamo para o leão

O descanso foi bálsamo para uma equipa que precisava de se reorganizar. E voltar a encher o peito. E o regresso para a etapa final mostrou mesmo um leão com nova cara. Mais eficaz a congelar o golo, menos arrojado, mas a respirar muito melhor com bola (que jogaço do ‘velho’ Hjulmand), incansável e muito competente a cair nas zonas de pressão e a obrigar a Juventus ao erro. Sem nunca entrar em ‘modo de empate’ - isso só haveria de acontecer a cerca de 15 minutos do final – o Sporting foi anulando os focos de maior perigo da Juventus (que também começou a acusar fadiga) e as poucas ocasiões foram surgindo com remates de meia distância que Rui Silva foi segurando.  

O tal ‘modo empate’ transformou-se em ‘modo sofrimento’ à medida que a Juventus passou a jogar com o coração. As mexidas de Rui Borges devolveram fôlego, com Eduardo Quaresma e Geny Catamo a serem importantes, mas o recuo no terreno, à medida que o relógio ia passando, era inevitável. E aqueles minutos de compensação foram terríveis. Com Rui Silva a dizer presente e a segurar ponto precioso com defesa espantosa (mais uma) a David. O Sporting, que há muito havia deixado esse fato elegante, foi obrigado a ser operário. De esforços redobrados. Mas foi compensado com um empate que premiou uma equipa muito competente.