Sidny Cabral, Otamendi e a importância... da Liga 2: tudo o que disse Mourinho
— O Benfica parte para este último jogo do ano com um registo de quatro vitórias nos últimos quatro jogos, zero golos sofridos e golos marcados. Face a este momento da equipa, que jogo espera amanhã [domingo]?
— Difícil. Muito difícil. Mas estamos com a convicção de que estamos num bom momento. Os quatro resultados são bons, mas não só os quatro resultados, muita coisa que fizemos bem e onde melhorámos ou sentimos a evolução em diferentes aspetos do nosso jogo. E por isso temos a esperança de conseguir um bom resultado contra uma equipa que é muito boa, num jogo difícil para nós e para eles.
— Qual a razão que encontra para este grande momento que a equipa atravessa?
— Quando perdemos o Lukebakio ficámos um bocadinho coxos relativamente àquele perfil de jogador. Demos à equipa uma outra dimensão, começámos a ser mais compactos, a pressionar de maneira diferente, a partir de uma base de jogo de grande solidez, a equipa começou a sentir-se muito confortável. Começámos a ter algumas rotinas de pressão que fizeram de nós uma das equipas que pressiona mais em campo adversário. E basicamente é isto, tentar dar continuidade àquilo que de bom temos feito nas últimas semanas.
— O que é que espera do adversário e das dificuldades que o Benfica vai ter?
—A maneira como jogaram contra o Sporting e contra o Porto mostram não só que têm qualidade de um ponto de vista individual, mas a qualidade que têm enquanto equipa. Já sabemos que é a equipa que tem a maior percentagem de posse de bola na Liga. Isso diz muito acerca daquilo que é a filosofia do jogo do treinador e a maneira como a equipa joga. Eu fui ao Estoril [19 de dezembro] ver o jogo porque me dá um feeling e uma perspetiva diferente daquilo que é a análise mais lógica que fazemos com os dados que temos à nossa disposição. Não foi propriamente o melhor jogo do SC Braga, mas foi o suficiente para sentir aquele modo de jogar de uma equipa que atrai o seu adversário, uma equipa que tem posse, obriga o adversário a tomar decisões sobre andar a pressioná-lo ou ficar à espera. Depois também têm individualidades muito boas. Se calhar para eles é importante, entendo que para nós não seja, os últimos anos, os últimos resultados, o feeling de que o Benfica em Braga não consegue bons resultados, será a uma coisa à qual se agarrarão do ponto de vista motivacional. Eu tento que nós ignoremos, da mesma maneira que ignorámos quando fomos ao Moreirense, um estádio onde o Benfica nos últimos anos tinha maus resultados.
— O que é que o Sidny Cabral pode oferecer à equipa do Benfica? Pode ser um jogador importante para jogar à frente?
— O Sidny é daqueles jogadores que beneficia muito a sua equipa pelo facto de ser verdadeiramente polivalente. Porque, mesmo conversando com ele, dá para perceber que é igual, do ponto de vista do prazer e da confiança, jogar à direita, à esquerda, como lateral ou ala. Isso dá à uma equipa uma segurança em termos das opções, um bocadinho à imagem daquilo que dá o Aursnes. Eu diria que, por exemplo, se o Aursnes e o Sidny um dia estiverem no banco, em vez de necessitar de nove jogadores no banco, basta ter cinco, porque aqueles jogadores jogam em quatro posições diferentes. Mas é um jogador que me obriga também a procurar aquilo que é o melhor para ele. Eu sei que ele pode jogar nas quatro, ele está contente de jogar nas quatro, mas das quatro há sempre uma onde o jogador é mais forte. Vou ter que ajudá-lo descobrir, porque ele próprio não sabe muito bem. Mas para uma equipa que joga muitos jogos durante a época, ter este tipo de jogador que depois denota uma condição física e um ADN muito próprio.... Parece-me um jogador muito adaptado a este tipo de calendário.
— Frederico Varandas disse que as provocações dos rivais servem de incentivo ao balneário do Sporting e que o Benfica costuma chegar sempre atrasado no final do campeonato. Esta declaração também serve de incentivo para o balneário do Benfica?
— Não quero comentar as palavras nem do presidente do Sporting e tentarei não comentar as palavras de nenhum dos presidentes. Mas não, não é gasolina para nós. A história do Benfica mostra que algumas vezes chega atrasado, mas na maior parte das vezes não chega atrasado. O Lewis Hamilton não chegou atrasado nos últimos dois campeonatos do Mundo de Fórmula 1, mas se não me engano já ganhou sete. O Lewis não chega sempre atrasado. Chegou atrasado nas últimas duas épocas, mas é o piloto que tem mais campeonatos [empatado com Michael Schumacher].A história do Benfica mostra que algumas vezes chega atrasado, nas duas últimas épocas chegou, mas é o clube que tem mais troféus em Portugal. Não precisamos desse tipo de incentivo. O incentivo que nós temos é o nosso orgulho próprio, sermos profissionais, lutarmos até aos nossos limites e acreditar que a matemática é que decide as possibilidades que existem de ganhar ou não ganhar, de chegar primeiro ou chegar depois. Vamos continuar assim em cada jogo.
— Há algum receio de perder Otamendi neste mercado de janeiro?
— Não tenho medo absolutamente algum, porque o Otamendi não me disse nada, o presidente Rui Costa, Mário Branco, Simão Sabrosa, ninguém me disse absolutamente nada sobre a possibilidade do Otamendi sair. Não tenho motivo nenhum para estar preocupado com uma coisa que, até que algum deles me diga, para mim é inexistente. A minha relação com o presidente é boa, com o Mário e com o Simão, estão aqui todos os dias exatamente os mesmos minutos que eu aqui estou. Com o Otamendi é relação muito aberta. Nenhum dele tocou sobre esse assunto, não tenho motivo nenhum para estar preocupado e estaria preocupado se algum deles me dissesse alguma coisa, que até agora não aconteceu.
— Que mensagem interna é que tem para a equipa, tendo em conta que o Benfica está a voar, mas os adversários também não vacilam?
— O sucesso das equipas também tem a ver com o sucesso ou insucesso das outras equipas. Eventualmente, a continuar a somar pontos como temos feito nas últimas semanas, se as equipas que vão à nossa frente tivessem perdido pontos obviamente que estaríamos mais perto. Com as vitórias das equipas que vão à nossa frente, desde que ganhes não te afastas. A única coisa que depende de nós são os nossos resultados. Temos de fazer o nosso trabalho. O jogo de Braga é uma final, mas os jogos com o Famalicão, Moreirense e Nápoles também eram. A núnica coisa que nós temos feito nos últimos tempos é ter jogado finais. E depois com o Estoril é outra final e depois com o Braga em Leiria é uma meia-final, mas como é a eliminar será também uma final. E este é o mês de janeiro que nos espera, depois de um mês de dezembro ter sido igual.
— Leandro Barreiro e o Tomás Araújo já estão a 100% para ir a jogo?
—100% não direi, mas treinaram ontem com a equipa e os sinais são positivos. Na semana passada, disse antes do treino que o Barreiro estava bem e depois no treino não estava bem. Portanto hoje também existe este risco porque o treino é a seguir. Neste momento estou a contar com ele para treinar normalmente mas não posso garantir neste momento que está para ir a jogo porque tenho receio que possa acontecer alguma coisa daquilo que aconteceu. Aproveito para dizer uma coisa: porque é que a conferência de imprensa foi tão cedo? Tinha preparado uma resposta meio provocadora que era que tinha a esperança que vocês não aparecessem. Mas a realidade é que nós temos reunião a seguir ao treino e partimos mais cedo para o Norte do que o habitual. O treino acaba, reunião, almoço, ir imediatamente para o Estádio da Luz que é de onde nós partimos e tudo isso vai ser muito rápido. Para vir aqui três minutos, ou fazíamos BTV outra vez ou fazíamos antes do treino. Porquê partir mais cedo para o Norte? Perdemos dois dias com o 24 e o 25 que normalmente são dias de trabalho. Mesmo que o treino seja de recuperação estamos juntos, temos reuniões, analisamos o adversário. Perdemos para o bem emocional dos jogadores, dos funcionários, de mim. Temos de chegar mais cedo e ganhar um bocadinho de mais tempo. Normalmente chegamos à hora do jantar, queremos chegar uma hora e meia antes para termos mais tempo.
— Mais quantos reforços é que pretende ou gostaria de ter para ter uma equipa à sua imagem?
— Não se trata de ter uma equipa à minha imagem, trata-se de fazer aquilo que é o melhor para o Benfica hoje e amanhã. Quando digo amanhã digo também o próximo campeonato. Quanto melhor as coisas nós fizermos agora neste mercado, menos teremos de fazer na próxima pré-época. O Benfica teve um investimento económico forte neste verão, obviamente que a intenção é que no próximo verão não haja necessidade tão grande de investimento, de mudar tanto a equipa, tanta gente a sair e a entrar. É preciso estabilidade, é preciso haver um grupo grande de jogadores que continuam de época para época, vão crescendo juntos como equipa. Se comprarmos outros jogadores, é menos trabalho que se tem que fazer no verão e mais equilíbrio. Como hoje estou numa de porreiro vou na direção de algumas coisas que foram ditas que tem a ver: Sidny Cabral tem influência em Benjaqui e em José Neto? Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Se alguém se preocupa com o Benjaqui e com o José Neto é o Benfica. São dois jogadores que há dois meses não tinham um minuto na equipa B. O Banjaqui tinha minutos, mas o José Neto nem sequer lá tinha ido treinar. Neste momento treinam com a equipa principal. Treinar com a equipa principal aos 17/18 anos é um bónus, é a aceleração de um processo de maturação. Cada minuto que estejam no banco com a primeira equipa e que joguem com a primeira equipa é um acelerar do processo de evolução. Mas também precisam de muitos minutos, e os muitos minutos só os têm na equipa B. E não estou só a falar destes dois jogadores, também de outros um bocadinho mais velhos, do Oliveira, dos dois Regos. Por isso existe esta cooperação que existe entre eu e o Veríssimo, Treinar connosco, sim, obrigatório, ter algum tempo de jogo connosco também, mas a Liga 2 é muito importante para estes miúdos para a acumulação de experiências. Há dois meses jogavam com os meninos da idade deles. Hoje ao treinaram connosco e jogarem muito na equipa B contra jogadores de 30 anos e boas equipas de Liga, o Portimonense, o Farense, o Vizela. Não há ninguém que se preocupe tanto com eles. Deixem lá o Sidny, o Zé, o Banjaqui e todos esses garotos em paz.
— A contratação do Sidny pode favorecer a utilização de um sistema de três centrais de forma mais frquente e uma maior flexibilidade tática?
— Não tenho intenção de fazer dos três defesas e muito menos dos cinco defesas o sistema principal do Benfica. Como já fizemos nalgum jogo, por exemplo com o Nápoles nos últimos 10 minutos, ter a equipa preparada para o poder fazer para atingir um determinado objetivo, ótimo. Quando compras um jogador no verão, tens seis ou sete semanas para preparar um jogador. Quando compras em janeiro, normalmente tens um dia ou dois. Portanto tem que ser um processo de adquirir aquilo que é fundamental na nossa equipa. O facto do Sidny jogar a três por um lado ajuda, por outro lado pode eventualmente preocupar. É um rapaz que cresceu com a sua formação nos Países Baixos, que normalmente são escolas de formação importantes e educativas. Acredito que seja um rapaz com cultura tática. Conversei com ele cinco minutos ao telefone e deu para perceber que é um rapaz inteligente, aberto, confiante. Acredito que podemos acelerar o processo de adaptação dele.
— Como explica o atraso na recuperação da lesão do Bah?
— Nem sequer treinou com a equipa principal. Desde que cheguei não tive Bah uma única vez, está atrasado e se está atrasado é porque há coisas que não correram bem. São lesões difíceis. O próprio Manu, apesar de já estar a jogar connosco, é fácil de perceber algum atraso no que é o verdadeiro Manu. Vejo o próprio Bruma um bocadinho mais perto do que o Bah, porque o Bruma já vejo em campo, não a trabalhar com a equipa, mas individualmente a um ritmo e uma intensidade engraçada. O Bah não consigo prever quando vai voltar.
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