O último golo do Tondela em casa foi apontado por Ivan Cavaleiro a 31 de agosto, no jogo frente ao Estoril - Foto: Paulo Novais/LUSA
O último golo do Tondela em casa foi apontado por Ivan Cavaleiro a 31 de agosto, no jogo frente ao Estoril - Foto: Paulo Novais/LUSA

Se é para ser assim, têm de distribuir comprimidos (crónica)

Emoção, quatro golos e descontos loucos. Seguem ambas sem ganhar, mas ambas mereciam... ganhar

Confesso que no passado o jeito não era muito, mas certo é que na atualidade a idade (e especialmente a condição física...) já não me permitiria ser jogador de futebol. Mas, coisas da vida, sou jornalista. E tenho a felicidade de fazer o que mais gosto: trabalhar num diário desportivo, ainda para mais da magnitude de A BOLA. Mas não se pode falar em trabalho (ou em obrigações profissionais) quando temos o gosto de assistir a partidas desta qualidade e delas sermos os olhos dos leitores.

Após o preâmbulo, vamos... à bola. Que jogatana! Houve de tudo. Intensidade nos limites, parada e resposta constante, oportunidades em catadupa, golos e emoção a rodos. E num relvado a meio gás...

Estrategicamente, o Estoril assumiu, numa fase inicial, as despesas do encontro, mas as aproximações à baliza contrária - quase sempre através de remates de meia distância - raramente incomodaram Bernardo Fontes. Por esta altura, o Tondela tentava estar organizado no terreno de jogo e explorar, sempre que possível, as transições. Já depois de Kévin Boma (13'), André Lacximicant (19') e João Carvalho (21') tentarem a sua sorte, Miro introduziu mesmo a bola na baliza dos canarinhos (24'), mas o ponta de lança dos auriverdes estava em posição irregular e o lance foi (bem) invalidado.

João Carvalho fez brilhar Bernardo Fontes (36') e Bebeto tirou tinta à barra (38'). Era uma pena ainda não haver golos...

Mas apareceram e em força. Ainda antes do descanso, André Lacximicant fugiu pela direita, deixou Brayan Medina pelo caminho e o ofereceu a felicidade a Yanis Begraoui, que agradeceu. Pedro Maranhão e Maviram ainda tentaram o empate, sem sucesso.

Na etapa complementar manteve-se o espetáculo, mas houve (ainda) mais Tondela. E Tiago Manso fez o 1-1, na conversão de um penálti a castigar falta de Kévin Boma sobre Brayan Medina.

Mas o melhor ainda estava por vir. Xabi Huarte atirou à barra e, já nos descontos, Ivan Cavaleiro (em estreia absoluta pelos tondelenses) encostou para o 2-1, na recarga a um remate de Yefrei Rodríguez ao poste.

No lance seguinte, Rafik Guitane acreditou e resgatou um ponto para o emblema da Linha.

Tondela e Estoril continuam sem triunfar nesta Liga, mas a jogarem assim vão ganhar várias vezes.

Todos agradecemos a jogatana, mas se é para ser assim têm de distribuir daqueles comprimidos que se colocam debaixo da língua...

O melhor em campo: André Lacximicant (Estoril)
Nem sempre marcar golos é sinónimo de distinção individual. É o caso. O camisola 19 dos canarinhos não picou o ponto - ainda que tenha feito por isso... -, mas realizou uma exibição de grande nível e, acima de tudo, em prol do coletivo. E foi num desses lances que Begraoui foi feliz, a terminar a primeira parte: André mascarou-se de empregado de mesa e ofereceu o golo em bandeja... de ouro.
A figura: Tiago Manso (Tondela)
Teve a frieza necessária para cobrar com êxito o pontapé de penálti — guarda-redes para um lado, bola para o outro, como mandam as regras —, sendo que, nessa altura, não só apontava o primeiro golo dos auriverdes na presente edição da Liga, como devolvia a esperança à equipa, que estava em desvantagem. Além disso, foi sempre uma flecha no corredor, a defender e a atacar.

Reação dos treinadores:

Ivo Vieira (Tondela):

Julgo que a nossa equipa trabalhou muito, os jogadores entregaram-se ao jogo e merecíamos mais do que um ponto. Defrontámos uma equipa difícil, mas os jogadores perceberam o plano de jogo. Infelizmente, já na compensação, sofremos um golo de saída de bola, algo que não deveria acontecer. Mas o resultado acabou por ser este e temos de aceitá-lo. O caminho é fazer sempre melhor do que temos feito e potenciar ainda mais os jogadores. Hoje tivemos um grande apoio à equipa e quero agradecer, em nome do grupo, a todos os nossos adeptos. Ajudaram a que tivéssemos virado para 2-1, mas, infelizmente, acabámos por sofrer o empate. Mas é óbvio que jogar em casa é muito melhor. Disse aos jogadores para continuarem a acreditar, eles seguem o processo e vamos ser felizes no futuro. Relvado? É verdade que não estando no melhor estado não beneficia equipa nenhuma nem o futebol, mas já vi jogos com relvados idênticos ou até piores. Uma palavra para quem trabalhou para que este jogo pudesse ser em nossa casa.

Ian Cathro (Estoril):

«Não gosto de falar de justiça, isso não é para mim. Sinto que tivemos êxito, mesmo sem ganhar o jogo, porque fazer 90 minutos neste relvado e não termos nenhuma lesão é um grande sucesso. Se vamos permitir jogos da Liga num relvado assim, vamos ter jogos com muitos erros técnicos. Hoje parecia um jogo de futebol escocês. Não percebo como é que este jogo foi disputado neste relvado. E também percebi na reunião que eles vão agora trocar o relvado. Sem entrar em questões políticas, se fosse contra outra equipa qualquer não sei se o jogo ia acontecer neste estádio. Vou ser muito claro, se fosse com o FC Porto, com o Sporting ou com o Benfica o jogo não era aqui.

As notas dos jogadores do Tondela:

As notas dos jogadores do Estoril:

Notícia atualizada às 19h08