Ricardo Quinteiro, José Miguel Saraiva e Afonso Couto voltam a juntar-se no estúdio para continuar a prova de que… no 90+3, o futebol nunca para no apito final.

Rui Vitória: «Acho que não tive o devido reconhecimento no Benfica»

Treinador esteve à conversa no Podcast 90+3 e recordou o tempo ao comando das águias

Rui Vitória foi o convidado desta semana do podcast 90+3 e recordou os tempos no Benfica, onde conquistou os últimos dois títulos do tetra. O treinador admite que não lhe foi dado o devido reconhecimento pelo seu trabalho nas águias.

«Eu não vivo muito obcecado com isso. Passados estes anos, acho que não [tive o devido reconhecimento no Benfica]. É o futebol, estou mais do que vacinado. Aquilo que nós fizemos em 3 anos e meio, não só os títulos, mas a aposta que fizemos na formação… Hoje é muito giro olharmos e vermos que FC Porto, Sporting e SC Braga apostaram depois, mas foi o Benfica naquela altura que abriu este paradigma da formação. Tivemos rendimento desportivo e financeiro. E foram vários [jogadores], quase todos os que puxámos saíram depois por quantias muito interessantes. Quem teve este desempenho em títulos… Mas também não estou a cobrar nada. Mas já tenho idade para dizer o que penso. A posteriori, muitas vezes não se dá o devido reconhecimento, tanto a mim como outras pessoas noutros clubes.»

Questionado sobre a altura em que chegou ao Benfica, por convite de Luís Filipe Vieira, Rui Vitória chamou a si a mudança de paradigma e aposta nos jovens.

«Tinha uma vontade muito grande de fazer essa aposta e percebi com o presidente [LFV] que estávamos alinhados. Há uma riqueza tão grande de valor na formação… No Benfica não havia aposta na altura. Hoje é fácil falarmos de Nélson Semedo, Lindelof, Ederson, mais à frente do Renato Sanches e do Guedes. Naquela altura nenhum era um craque que disséssemos ‘está aqui uma estrela’. Tinham era um potencial para ser desenvolvido.»

Sobre os primeiros tempos no Benfica: «Não pensei muito nas coisas. As contas foram simples: vamos a isto. Os meus passos foram sendo progressivos. Quando chego, nos primeiros tempos com uma ilusão muito grande de ser treinador, andei fascinado com tudo isto, mas a realidade foi diferente. As coisas não começam a correr logo bem, comecei a ter de pensar em mais coisas. Tudo tinha um peso muito grande. Quando entramos ali é um mundo diferente. Fui um treinador com muito mais conhecimento depois do Benfica. Foi com o tempo que fomos jogando com o que havia. Houve dificuldade inicial de lidar com o mundo mediático, depois houve um exercício de resiliência e humildade. E as coisas correram bem.»

Renato Sanches «era um cavalo à solta»

«Nós precisávamos de um 8 que colasse a equipa. E o Renato é um jogador fantástico, adoro-o. Tenho uma ligação com ele. Na altura, o Renato significava aquilo que as pessoas na bancada, mais velhas, apreciavam num jogador dos tempos passados. Irreverente, pega na bola e dribla. Havia médios já naquela altura que só passavam para o lado. Ele tinha o que eles não tinham. E era altamente comercial, destacava-se. Era quase um cavalo à solta. Os outros à volta davam-me organização. Mas ele precisaria talvez de um segundo ano mais cerebral, tático, mais corretivo. Para filtrar, para lhe dar mais conteúdos que eram importantes naquela idade. Mas percebi que não íamos conseguir travar o negócio. Acho que não foi a melhor opção de clube e país. Ia ser só mais um no Bayern, não ia ser tratado com delicadeza que nós tratávamos.»

E ainda sobre João Félix: «Há negócios e momentos que temos dificuldade em travar. O Benfica não podia recusar 120 milhões. Mas a ideia era mais ou menos a mesma [do que com Renato]. Mas 120 milhões… se tiver que ir vai, seja para que lado for.»