Francisco Domingues: «Moreirense foi o passo correto após 18 anos de Benfica»

O ex-capitão da equipa B dos encarnados destaca-se na Liga como um lateral-esquerdo talentoso e carismático. Aos 23 anos, abraçou com determinação o desafio no Moreirense, onde, sem surpresa, já brilha

Foram 18 anos de águia ao peito do antigo capitão do Benfica B, um dos jogadores da formação mais acarinhados pelos adeptos encarnados. Lateral-esquerdo cheio de personalidade e talento, Francisco Domingues, de 23 anos, ganha créditos numa das equipas-sensação da Liga, o Moreirense. Deixou Lisboa e abraçou a aventura na equipa minhota com a mesma determinação com que luta por cada bola. Está convicto de ter dado o passo certo depois de uma vida dedicada ao emblema da Luz.  

— O Francisco Domingues tem sido titular e parece que se impôs com facilidade no Moreirense 

— Tenho gostado muito, acho que me ambientei muito bem, tanto ao local como à equipa. Os meus colegas têm-me ajudado bastante. Também tenho dado abertura para isso, mas acho que, de uma maneira clara, tem sido bastante positivo.

É de Lisboa e esteve 18 anos ligado ao Benfica. Como foi esta mudança para um ambiente mais pacato?  

— Aqui não nos falta nada, temos tudo, a malta toda é muito profissional. Em termos da cidade para aqui, a diferença é que aqui é mais calmo, mais familiar, o que é positivo. Tenho gostado muito de viver no norte. Não há tanto trânsito, as coisas estão mais perto umas das outras. 

 — Sente ter dado o passo certo, após tantos anos no Benfica 

— Acho que foi o passo correto. O Moreirense é uma equipa muito boa, nas últimas temporadas a equipa ficou sempre bem classificada na Liga e tenho jogado, mas também trabalhei para isso, portanto, foi o passo certo.  

 — Não ficou nenhuma frustração por deixar o Benfica 

— Claro que um jogador que joga no Benfica há muitos anos tem sempre a ambição de chegar à equipa principal, mas há vários caminhos a seguir, e o meu caminho acabou por ser este. Estou a jogar na Liga, numa boa equipa, e estamos a jogar muito bem, a praticar um bom futebol, por isso, estou muito feliz por estar aqui. 

Francisco Domingues num treino do plantel principal do Benfica (Foto: Miguel Nunes)

 — Não acha que podia ter tido uma via alternativa para chegar à equipa principal, através, por exemplo, de um empréstimo simples ao Moreirense? 

— É um bocado relativo, porque na realidade o que interessa é jogarmos, e se tivermos um bom projeto e um clube que nos consiga sustentar bem a nível de tudo o que nos possa oferecer, acho que o mais indicado é mesmo seguir. Claro que podia ter tido um empréstimo e seguido outro caminho, mas segui este, que se calhar foi o mais indicado. 

— Houve solicitações do estrangeiro quando deixou o Benfica 

— Tive alguns contactos no estrangeiro, como é óbvio, mas acho que faltava jogar a Liga, afirmar-me primeiro no futebol português e ganhar arcaboiço. Ouvi também muito a minha família, que me disse para ter calma e que tinha de ganhar minutos e mostrar que era capaz de jogar na Liga, para depois, no futuro, dar um passo um bocadinho maior.  

— Dezoito anos num clube é uma vida. Lembra-se como entrou no Benfica? 

— Lembro -me que fazia anos e o meu tio ofereceu-me um pack para entrar nas escolinhas. A partir daí foi sempre a subir.  

A mensagem de despedida do Benfica (Intagram/kiko_dom11)

— Tinha cinco anos?  

— Exatamente, fazia cinco anos. 

Era capitão do Benfica B e um jogador muito querido dos adeptos. É difícil, mesmo nesse enquadramento de equipa B, chegar ao plantel principal?  

— Treinava muitas vezes com a equipa principal e sentia que lá era outro andamento, realmente via-se que era mais puxado, mais complicado. Mas sinto que muitos dos meus colegas eram capazes de jogar ali. Eu... não é estar a dizer que era capaz ou não, mas talvez se tivesse tido a oportunidade, era capaz de conseguir mostrar ali qualquer coisa. É claro que há sempre uma diferença da Liga para a II, mas há muita qualidade também. É uma diferençazinha, digamos assim. 

 

«Temos um treinador moderno» 

 — Fale-nos um pouco sobre o início de época do Moreirense, muito acima das expectativas. O que sustenta este arranque? 

— A base da nossa equipa talvez seja a união do grupo. Somos uma equipa muito unida, damo-nos todos muito bem, o treinador também consegue passar as ideias e nós conseguimos também metê-las em campo, ou pelo menos tentamos. Temos jogadores com muita qualidade, seja os titulares, seja a malta que entra sempre para ajudar, como se tem visto nos resultados que temos feito, os pontos ganhos, a malta sai do banco e consegue ajudar a equipa, isso também é muito importante. Contamos todos. Isso é o ponto positivo e é o que se calhar nos está a fazer pontuar. 

— Vasco Botelho da Costa parece ser muito direto e assertivo. É um treinador diferenciado como líder? 

— É um treinador moderno. Acho que há a junção das ideias dele com as nossas, que também somos jogadores jovens. Ideias inovadoras e um futebol mais inovador, isso ajuda-nos muito. Não é aquele futebol antigo, é um futebol que acaba por ser muito mais divertido. Além disso, não esconde nada. Diz-nos tudo o que tem a dizer na cara, seja bem ou mal. É para nos ajudar e temos a convicção disso. 

  — No balneário fala-se sobre a possibilidade de atingir um lugar europeu?  

— Temos de ter os pés assentes na terra. Claro que é um sonho, gostávamos muito, mas primeiro focar jogo a jogo, tentar fazer o máximo de pontos que conseguirmos, 35, e garantir o mais rápido possível a manutenção. A partir daí é começar a olhar para cima, para outros patamares e outros objetivos. 

 — Quais são os seus pontos fortes como lateral-esquerdo?  

— Tento deixar tudo em campo, a raça, a ambição que tenho. Não sou um jogador lento. No um para um dou um bocadinho de trabalho. Também faço bons cruzamentos Embora seja um bocadinho mais baixo que muitos dos meus adversários, e um bocadinho mais fininho, dou trabalho nos duelos.  

— E o ponto forte que quer melhorar?

— Se pudesse melhorar um bocadinho de tudo, melhorava um bocadinho de tudo. Ser mais rápido, ser mais forte, falhar menos passes, a finalização também ser melhor. E é nessa base que estou a trabalhar.