Rui Costa: «Vou ser melhor presidente do que jogador»
— Acha que o chumbo do regulamento eleitoral põe em causa a legitimidade das eleições?
— Não sei… Foi uma Assembleia Geral estranha, que não começou da melhor maneira e que levou até à suspensão. Aguardemos aquilo que dirá o Presidente da Mesa, mas isto não vai impedir nada das eleições. Mas não deixou de ser uma Assembleia Geral estranha, desde logo com o chumbo do relatório e contas, que foi do melhor que o Benfica já teve na vida.
— O voto eletrónico tem sido muito discutido, também a falta de sítios para votar.
— Lamento profundamente que nem todos os sócios do Benfica possam votar, mas as Assembleias Gerais servem para discutir essas coisas todas também. Mas não deixo de lamentar o facto de que possamos a estar a impedir muitos sócios do Benfica de contribuírem para a vida do clube.
— Mesmo que vença as eleições, teme que o Benfica possa ficar numa posição ingovernável, se por exemplo os candidatos vencidos tiverem uma percentagem grande? Porque depois nas Assembleias raramente as pessoas presentes são representativas do universo todo.
— São representantes de um candidato ou de outro candidato.
— Houve apenas 665 sócios a votar na última AG.
— A pessoa que ficar na posição em que eu estou hoje, e espero continuar eu, a primeira preocupação que tem de ter é unir a família benfiquista. A família benfiquista não pode ser do grupinho A, do grupinho B, do grupinho C. Por outro lado, os apoiantes de cada candidato terão de ter a consciência de ‘Bom, o Benfica segue em frente, e segue com o Presidente A, B, C ou D, e que tem de ser apoiado’. Esta é a forma como eu e acho que todos os benfiquistas veem a situação. Mas com os novos estatutos isto pode criar de facto um problema grave. Tem de haver uma responsabilidade objetiva dos sócios de perceberem que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu posso ser do candidato A ou B mas não posso prejudicar a vida do Benfica, e a vida do Benfica não pode ser prejudicada porque eu não gosto deste presidente ou desta direção, e portanto vou votar contra o relatório e contas. Tem de haver uma consciência de todos os sócios do Benfica para que isto não seja eleições de seis em seis meses ou de ano a ano. Outra situação é percebermos como é que podemos, ou quem estiver aqui como é que poderá, fazer na altura de se votar [nas AGs]. Votar relatórios e contas e orçamentos de forma a que possa haver uma massa crítica maior a tomar essa decisão, e não só uma parte dos sócios.
— Se houver uma segunda volta fará sentido haver um debate?
— Acho que sim. Havendo uma segunda volta, acho que faz algum sentido.
— João Noronha Lopes é o seu principal adversário?
— Costumo dizer que o principal adversário do Benfica é o Benfica. Portanto, o principal adversário sou eu.
— E porquê?
— Pela dimensão do clube. Mas isto é uma coisa positiva. A frase não é negativa, é no sentido positivo. O principal adversário do Benfica é o Benfica. Porque não olhamos muito para os adversários, olhamos muito para nós. O principal adversário do Benfica somos nós próprios.
— Há alguma candidatura com a qual pudesse alinhar e trabalhar? Numa segunda volta se lá chegar ou mesmo se ficar de fora, oferecendo o apoio?
— Tenho ouvido muito o ‘Rui Costa isto, o Rui Costa aquilo’, é o que tenho visto nas outras candidaturas. E ainda não vi nada em que eu dissesse ‘pá, está aqui uma boa ideia’. Não são cenários que esteja a programar. Sou candidato, mas sou presidente do Benfica. Não posso deixar o Benfica neste período só porque sou candidato, tenho menos tempo do que os outros para fazer campanha.
— São quase 20 anos desde que regressou ao Benfica. Sente que a sua carreira no clube está seriamente em risco?
— Estarei no Benfica até os benfiquistas quererem. Nunca abdicarei pessoalmente do Benfica. O amor que tenho pelo clube e de nunca desistir do Benfica faz com que esteja aqui. Se está a chegar ao fim ou não? Eu acho que não está.
— Vai aceitar o resultado das eleições, seja ele qual for? E os outros candidatos, aceitarão?
— Eu não sou benfiquista de ocasião, mas de corpo e alma. Se há coisa que nunca faria é estar do lado de fora a falar mal do Benfica, a pisar o Benfica. E não só nestas eleições. Isso não é ser do Benfica.
— A insistência de ter eleições em dia de jogo não cria risco adicional?
— Não. As eleições são marcadas pela Assembleia Geral, evidentemente que o presidente está a par, mas não seríamos inconscientes ao ponto de não estarmos precavidos, sabendo que serão as eleições mais concorridas da história do clube. Não há irresponsáveis no Benfica. Há vontade que todos os sócios possam participar na vida do clube.
— Como avalia Rui Costa jogador e Rui Costa presidente? Qual é o melhor?
— Rui Costa teve 20 anos de jogador, tem quatro anos de presidente. Vou ser melhor presidente do que jogador.