Rui Costa deixa promessa: «Passivo inferior ao que agarrei»
Presidente do Benfica desde 9 de julho de 2021, depois da demissão de Luís Filipe Vieira, e eleito para um primeiro mandato completo a 9 de outubro desse ano, Rui Costa recandidata-se e apresenta em A BOLA os seus planos para o futuro.
— Por que razão quer continuar a ser presidente do Benfica?
— Essencialmente, porque do Benfica não se desiste. Tenho usado isto como lema, não só da campanha, mas da minha própria vida. Não desisto do Benfica, sei aquilo que fiz nestes quatro anos, de bem e de mal, e entendo que tenho todas as condições para continuar à frente do clube. Tenho um projeto para acabar e tenho muita ambição para este clube, são as principais razões da minha candidatura. E estou mais forte e entusiasmado do que nunca.
— Tem algum trunfo para apresentar antes das eleições do Benfica?
— Não. Tenho trabalho para apresentar, honestidade para continuar a dar ao Benfica. Não há truques, nem trunfos, há a construção de uma equipa que está a ser formada que me dá todas as garantias para fazer um bom trabalho. Sou candidato, sim, mas continuo a ser presidente e o trabalho do dia a dia tem de se ir mantendo como se nada fosse.
— Além do Benfica District, há mais projetos em carteira caso seja eleito?
— Tivemos neste mandato o cuidado de privilegiar a parte desportiva, mas não deixar as infraestruturas de parte. Tivemos uma primeira iniciativa que era algo de que sentíamos muita falta, que era aumentar os nossos espaços de formação. Fizemos o projeto na Cidade Universitária para dar mais condições e ter mais espaço para as nossas escolinhas. Houve uma promessa que não foi cumprida, e que tenho para o próximo mandato, que é a Cidade do Benfica. Não foi cumprida não porque tivesse sido esquecida, mas apenas não porque não encontrámos o espaço ideal para o fazer, quer em dimensão, quer em localização. Depois temos o Benfica District, que será um marco para o futuro do Benfica. Não é um projeto apenas para ser bonito, é um projeto muito funcional. Por dentro já fizemos as modificações que entendemos fazer para melhorá-lo. Falta a parte exterior, que vem pelo Benfica District, que além de dar muito melhores condições aos nossos adeptos, é uma experiência desportiva completamente diferente e vai dar melhores condições às nossas modalidades. Estão previstos dois pavilhões, mais uma arena que servirá para as finais e para espetáculos também. Vai criar os 80 mil lugares no estádio e é um projeto que vai rentabilizar na ordem dos 40 milhões de euros anuais e que vai servir para aquilo que é o nosso grande objetivo, chegar aos 500 milhões de receita anual. Estamos a caminhar para lá, temos aumentado tudo o que é receitas, a forma de chegar aos 500 milhões de euros está muito bem identificada. Estes 40 milhões [anuais] do Benfica District vão dar-nos muito melhores condições financeiras. E quanto melhores condições financeiras o Benfica tiver, menos dependente está de ter de vender jogadores.
— O seu mandato ficou, de certa forma, marcado por exercícios negativos.
— Ou não.
— O último exercício foi positivo, 34,4 milhões de euros. Afirmou recentemente que o Benfica é financeiramente o clube mais estável em Portugal, mas, por exemplo, o FC Porto acaba de apresentar contas do exercício também com quase 40 milhões de euros positivos. Isso contraria de alguma forma as suas palavras?
— De todo, porque quando digo que o Benfica é o clube com melhores condições financeiras não me baseio só no exercício deste ano. Baseio-me nas contas do clube. E se olhar para as contas do Benfica e se olhar para as contas do Porto, não há comparação possível.
— Mas também já admitiu que as contas de Luís Filipe Vieira estavam melhores do que no seu mandato.
— Pois claro que sim. Se o passivo aumentou, é evidente que o passivo anterior era menor. Há razões para isso. E não são razões de descalabro financeiro, não são razões de não sabermos o que é que estamos a fazer, antes pelo contrário. Toda a gente se lembra da data em que entrei como Presidente, e em que estamos a sair do Covid. Ainda assino o papel de máscara… O Benfica tinha tomado uma posição, na altura do Covid, em que não retirou um euro que fosse aos jogadores, aos funcionários. Essa fatura foi paga mais tarde. Foi paga no meu mandato. Parte desse passivo é aumentado nessa medida. A outra parte tem a ver com obras do estádio e com a remodelação que fizemos no futebol. Eu, em 13 jogadores titulares do Benfica, ganhei zero. Tive de fazer essa reestruturação. E disse sempre aos sócios do Benfica, e atenção, isto não é de uma forma desmesurada em que não saiba o que estou a fazer, mas tinha dito sempre aos sócios do Benfica que na minha gestão o desporto estaria sempre à frente da área financeira. Assumi que o Benfica naquele momento não tinha de preocupar-se com o aumento da dívida, mas sim com a reestruturação que tinha de fazer. Quer no futebol, quer nas modalidades. Tudo foi pensado, estruturado e a pensar na área desportiva do Benfica. Assim como as obras do estádio, que também tiveram de ser pagas. O último exercício representa a inversão deste circuito. O aumento de receita vai fazer com que esse passivo seja diminuído rapidamente. E é meu objetivo, daqui a quatro anos, ter um passivo inferior.
— É uma promessa que faz aos sócios do Benfica?
— É uma promessa que faço, ter um passivo inferior àquele que eu agarrei. Tudo isto não é um descalabro.
— E consegue quantificar quanto é que pode reduzir o passivo do Benfica em quatro anos?
— Aquilo que temos programado é que no próximo mandato o passivo do Benfica seja ao nível, e possivelmente até inferior, àqueles que nós, quando entrámos, tínhamos.
— Estamos a falar de 300 milhões de euros?
— O que temos apontado é uma diminuição na ordem dos 100 milhões de euros. Para isso, e também é importante que se diga, quando se fala nas contas do Benfica fala-se muito da diminuição dos custos, mas nós apontamos muito para o aumento de receita. Foi aquilo que fizemos no ano passado e aquilo que vamos continuar a fazer no futuro. O Benfica, para crescer, tem de aumentar a receita. E se é verdade que aumentou o custo, na ordem dos 5,6%, também aumentou a receita na ordem dos quase 11%. É evidente que quero um clube estável financeiramente. A pior coisa que podia fazer a mim próprio, enquanto benfiquista, era deixar o clube numa situação dramática. E posso garantir a todos os sócios do Benfica que jamais iria fazer uma coisa do género. As contas do Benfica estão muito estáveis para aquilo que é a realidade do futebol português e estão com projetos que lhe dão ainda mais estabilidade para os anos vindouros.
— O Benfica, no futebol profissional, investiu este verão quase 140 milhões de euros em jogadores, muitos deles aproximando-se da fasquia dos 30 milhões de euros. A SAD tem capacidade para chegar a esses valores?
— O mercado está louco e isso foi visto em toda a Europa. Portugal bateu o recorde de transferências este ano e não foi só o Benfica que contribuiu para isso. Os custos dos jogadores aumentaram muito. Já havia os ingleses, já havia os tradicionais top-5, mas há aqui dois mercados que vieram inflacionar muito os jogadores, o turco e o árabe. Provavelmente transferências que há um ano ou dois eram na ordem dos 10, 12, 15 milhões de euros passaram a ser de 18, 20, 25 milhões. E nós não conseguimos fugir a isso. Mas se o Benfica fez, é porque pôde fazer, não seria irresponsável. E vendeu também para poder fazer isso. Entre as compras e as vendas, o próximo exercício da SAD ficou praticamente resolvido, e não temos de andar no final da época ao tio ao tio, ou a vender ao desbarato, para poder cumprir. Até essa vantagem também deixei dentro da casa.