Quatro jogos, quatro vitórias, 12 pontos
Quatro jornadas apenas. Dir-me-ão alguns que, num período tão curto, numa competição tão longa como a Liga portuguesa, não é ainda o tempo de juízos concludentes, e estão certos. Se numa prova com 34 jornadas se pretender retirar ilações definitivas ao fim de quatro, estar-se-á provavelmente a incorrer no pecado da precipitação, exercício que se dispensa. Ainda assim, o que é que não estaria a ser dito, comentado e escrito sobre o projeto desportivo e as opções estratégicas do FC Porto se, ao invés, dos 12 pontos conquistados em resultado das quatro vitórias alcançadas, o FC Porto apresentasse um score de pontos modesto e uma posição envergonhada na tabela classificativa? Pois!
O período de competição está a iniciar-se, as equipas técnicas trabalham ainda para melhorar os índices físicos dos jogadores, aprimorar e consolidar os processos técnico-táticos, sendo que só agora, depois de concluído o mercado de transferências, as administrações e os respetivos staffs técnicos podem almejar alguma tranquilidade, ainda que na Arábia Saudita e na Turquia se possam estar a fazer contas de cabeça. É, pois, também tempo de balanço sobre o entra e sai de jogadores, sendo que as estruturas diretivas e as comissões técnicas sabem, finalmente, com que linhas se poderão coser até janeiro. Uns respiram de alívio e miram satisfeitos o cash entretanto realizado, outros, porventura, suspiram, desiludidos e/ou conformados com as agruras do mês de agosto. Business as usual, com o mercado de transferências a ditar as regras.
Ainda assim, volvidos os primeiros quatro jogos e a janela de negócios encerrada, aproveitaria, numa retrospetiva breve, o ensejo para sublinhar o magnífico jogo que Sporting e FC Porto proporcionaram. Intenso, vivo, bem jogado. Oportunidades de golo para ambos os lados, jogadores motivados a querer demonstrar argumentos num estádio José Alvalade repleto de adeptos. Todos os ingredientes imprescindíveis para uma extraordinária noite de futebol, que veio a confirmar-se.
E que bem jogou o FC Porto. Os sinais de pujança competitiva, de competência tática e de esforço solidário foram evidentes. Esta equipa azul e branca faz corar de embaraço aquela outra que há meia dúzia de meses se fazia arrastar pelos relvados nacionais. Sem acerto e sem chama!
Este FC Porto entusiasma, anima. Adeptos e adversários. É intenso, pressionante, desafiador. A pressão homem a homem, a ocupação dos espaços, a avidez em retirar a bola ao adversário, impedindo-o de assentar o seu jogo e progredir. A solidez defensiva, com Bednarek a liderar um quarteto onde até Nehuén Pérez parece ter renascido e reconciliado com a bola. Alberto Costa e o sprint de mais de 30 metros para recuperar a posição e impedir que Pedro Gonçalves conseguisse finalizar com sucesso. Esta gente, estes jogadores, demonstram respeito pelo emblema que envergam ao peito.
E sobre aquele meio campo, que dizer? Froholdt e 90 minutos de consistência tática e disponibilidade física. Não se rende, não se esconde, não evita um duelo. Comprometido no processo defensivo e sempre presente no momento em que a equipa precisa de chegar com bola à grande área adversária. Que contratação é este menino de 19 anos! Alan Varela parece outro jogador, concentrado, cirúrgico na recuperação, assertivo a entregar. A chamada à seleção argentina vem confirmar este seu ressurgimento.
A verticalidade de Borja Sainz, jogador repentino sempre ativo no jogo. E William Gomes? Que golo magnífico, que toque na bola aprimorado. Luuk de Jong a usar toda a sua experiência para dificultar, e muito, a vida aos centrais do Sporting, de costas para a baliza a permitir triangulações e a dar linhas de passe no espaço a quem chega de trás. A estreia a marcar com um golo pleno de oportunidade num movimento típico de um ponta de lança que não desvia o olhar das redes do adversário.
Francesco Fariolli, já o escrevi, tem condições para se tornar um caso muito sério no futebol português. Trabalhador, meticuloso, exigente e preparado técnica e taticamente. Alia a uma comunicação eficaz e assertiva. É, pois, motivo de júbilo notar que o FC Porto conseguiu reunir um grupo de atletas que faz do respeito pelo emblema e o compromisso com o trabalho diário cartões de visita. O FC Porto está aí para a luta.
Artigos Relacionados: