José Mourinho considera que a equipa encarnada tem características diferentes da formação portista

«O nosso objetivo é o Marquês»: tudo o que disse José Mourinho

Técnico do Benfica repartiu pragmatismo com Farioli, elogiou primeira linha de pressão encarnada e confessou conversa com Villas-Boas

-Que análise é que faz à partida?

-Uma equipa chegou a ganhar tudo e a jogar bem e com grande empatia com os seus, sem nenhum tipo de pressão em relação à classificação porque sairia daqui sempre líder. Do outro lado, uma equipa que não vive o melhor momento, que tem acumulado jogos de dificuldade elevada, ainda esta semana tivemos um jogo de Champions enquanto o Francesco teve a oportunidade de mudar a equipa toda na Europa League, e com a pressão da diferença pontual. Era fundamental tentar ganhar, mas era muito importante não perder. Eles respeitaram-nos e não arriscaram nada e nós a partir do momento que sentimos que gente fresca estava a ganhar, Mora, William, Gul, e nós numa situação de alguma fadiga, gerimos para não perder. O Benfica joga para ganhar, mas o Benfica joga para ganhar o campeonato. Às vezes para ganhar o campeonato tem de se jogar para o ponto. Hoje era o dia em que se joga para ganhar, mas que se sabe que não se pode perder. Os jogadores tiveram um comportamento fantástico ao nível da organização, concentração, capacidade emacional, não levámos amarelos, fomos inteligentes. Foi um bom jogo de futebol, sem o perfume do golo, ninguém é culpado, mas a responsabilidade é do Benfica e do FC Porto.

-O Benfica mais que sobreviver deu mais alguns passos rumo a sensações mais positivas?

A equipa cresce a diferentes niveis, em quatros dias jogar com o Chelsea e com o FC Porto fora. Um é campeão do mundo, o outro é líder incontestado até agora. São duas equipas com muita gente rápida e intensa, somos um perfil diferente. Deu-me prazer decifrar o Porto, analisá-lo enquanto adversário, são uma boa equipa com bom treinador e boas dinâmicas. São uma equipa que deve ter utilizado todos os minutos deste o inicio da pré-época para melhorar a todos os níveis. São uma boa equipa que está no topo do seu potencial. Nós não, temos muito para melhorar. Sair daqui a quatro pontos do FC Porto e a um ponto do Sporting tendo ainda dois jogos com o Sporting e o FC Porto em casa... Colocámo-nos numa boa posição, os jogadores mereciam qualquer coisa, garanto que ninguém está a festejar no balneário, ninguém está extra-feliz, estão mais contentes com o que meteram no jogo do que com o resultado. Aqui não festejamos empates, só nas competições europeias quando nos dão alguma coisa.

-Ao anular o FC Porto, não anulou o Benfica?

-Não, acho que o Benfica tem as suas características. O FC Porto tem jogadores com muitos cavalos, com capacidade de atacar o espaço, não temos esse tipo de jogador, tínhamos de criar perigo e não deixar o jogo partir. Neste momento, a equipa sofre com pouca confiança, encontrei três, quatro, cinco jogadores em crise de autoestima. Uma coisa é precisares de concentração em termos táticos, outra é precisares de inspiração para algo mais, disse aos jogadores que no banco senti o que sentiram em campo, queremos ganhar mas não podemos perder. Quando estás num jogo com este tipo de pressão sobre ti, não é fácil de gerir, pensar e tomar decisões- O FC Porto não tinha essa pressão e mesmo assim não correram riscos. Trocaram jogador por jogador e só podiam ir de quatro para sete pontos positivos, nós podiamos ir de quatro para sete negativos em relação ao FC Porto. Isto é um grande handicap do ponto de vista emocional. Eu como treinador cumpri, se não me engano cumpri o jogo 1200 oficial e mesmo um treinador com 1200 jogos está analisar e a pensar que se perdes vais para casa a sete, era uma limitação. Não podíamos sair daqui a sete pontos. Não é o resultado que queríamos, mas é uma boa situação. É só pena que durante 15 dias não veja os jogadores. Depois na Taça podia-nos ter calhado o Sintrense, o Águias da Musgueira, o Atlético, e toca-nos o Chaves. Era o ultimo presente que precisávamos antes da viagem a Newcastle.

-Quando foi apresentado disse que os jogadores precisavam de morder mais. Hoje não era jogo para morder?

-Não era, era jogo para jogar zonalmente, podes defender zonalmente ou ao homem. Ao homem corres mais riscos, de faltas, de cartões, zonalmente conseguimos com dois [Pavlidis e Sudakov] matar três e posicionalmente controlámos o jogo. Conheço bem os dois centrais do FC Porto, um estava em Itália quando treinei em Itália [Kiwior], o outro em Inglaterra quando estava em Inglaterra [Bednarek] as coisas boas, as limitações. O Enzo e o Ríos fizeram um excelente jogo a controlar o Froholdt que hoje que não se viu por culpa nossa, a mesma coisa com o Gabri. Não criaram situações de perigo na área. Eles têm uma grande oportunidade com o Rodrigo, mas se tivesse eu na baliza em vez do Trubin durante os 90 minutos era a mesma coisa, que o Trubin não tocou na bola. A equipa jogou muito bem.

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-Como é que se sentiu como técnico do Benfica numa casa que tão bem conhece e onde foi tão feliz?

-A história não muda, a minha gratidão ao FC Porto não se altera. Tive um jogo absolutamente tranquilo, focado no meu trabalho, em ajudar a minha equipa, já tinha jogado aqui com o Chelsea, não posso dizer que tive algum sentimento especial. Aquilo que o Presidente [André Villas-Boas] disse antes do jogo é normal. Como devia ser recebido? Como um treinador do Benfica. Depois do jogo encontrei-o no corredor como amigos, um abraço e a vida continua.

-Acha que os adeptos compreendem o discurso de que às vezes é preciso ser pragmático e tempo para construir?

-Quando se vai ao Marquês [de Pombal]não se recorda nada e o nosso objetivo é o Marquês. Não nego que em condições normais, em vez de estar a quatro pontos, que teríamos uma abordagem diferente. Falámos ao intervalo que se o FC Porto se desmontasse... não se desmontou nunca. Não foi só o Mourinho que foi pragmático, o Francesco [Farioli] também foi pragmático. Seguramente também dirá 'podíamos ir a sete, fomos a quatro, continuamos na frente'. Se disserem que uma equipa tentou ganhar e outra não, não estou de acordo.