O discurso

Na Câmara de Lisboa, Frederico Varandas proclamou uma nova República do bem disposta a lutar e a vencer as forças do mal

F REDERICO VARANDAS rompeu o longo silêncio que, religiosamente, foi mantendo desde os momentos de decisão em que o Sporting se tornou, aos olhos de todos, o mais sério candidato ao título. Ele próprio confessaria que, depois daqueles dois empates comprometedores, que fizeram esbanjar quatro preciosos pontos na vantagem, antes, confortável, todos, em Alvalade, foram invadidos pelo medo de falhar e não conseguir chegar à praia, ali tão perto. No entanto, com uma coragem militar em campo de combate, todos foram heróis e, por isso, todos mereceram a suprema consagração de uma vitória que Varandas considerou, e bem, histórica.
É muito curioso que Varandas tenha trazido para o futebol o comportamento e a atitude de um militar leal e comprometido com a sua pátria leonina. Por isso, o inimigo não é ficcional, existe e tem nomes próprios. Chamam-se Benfica e FC Porto; e se é verdade que o mundo do desporto os trataria civilizadamente por adversários, para Frederico Varandas a sua formação militar também não o deixa diminuir a ideia essencial de que um inimigo não se odeia, antes se respeita, especialmente na hora em que é derrotado.
O discurso do jovem presidente do Sporting na Câmara Municipal de Lisboa foi, um pouco, a sequência histórica da proclamação da República, que prometia uma Pátria finalmente liberta de vícios e de corrupção. Daí que tenha louvado o que chamou a «vitória do bem» contra os exércitos do mal, onde manifestamente incluiu um Benfica com desculpas de mau pagador, vitimizado pela consequências da pandemia e, pior, um FC Porto comandado por quem qualificou os festejos dos sportinguistas como a «vergonha de Lisboa» e que Varandas matou numa rajada impiedosa, lembrando que vergonha é ouvir a sua própria voz em escutas sobre corrupção.
Não foi, como já amplamente se percebeu, um discurso de paz e de mão estendida a uma qualquer aliança de poder. Foi um discurso de um comandante militar que acabou de ganhar uma batalha que, antes, se chegou a pensar inacessível, que homenageou os seus combatentes e prometeu dedicação para lutar pela glória.
Com pouco mais de quarenta anos de idade, Varandas tem uma mentalidade assente numa memória secular. Chega a parecer ingenuidade, aquilo que, nele, é uma convicção. E de tal forma que me atreveria a dizer que a maior das expectativas perante o discurso e o comportamento deste comandante em chefe é saber se, neste mundo viciado e vicioso do futebol (não apenas o português), Varandas será capaz de manter a coerência e a dignidade moral.
Outro aspeto fundamental do discurso de Varandas foi o da abertura, que muitos comentadores não valorizaram, ao «regresso a casa» dos «sócios anónimos», sobretudo os mais jovens, que têm tido ligações às várias fações das claques leoninas. É um significativo convite. Varandas abre espaço à unidade, sem ceder um milímetro no que respeita ao estilo e ao comportamento das claques.
Por fim, mas não menos importante, o futuro. Varandas tem a noção de que o Sporting venceu o campeonato, mas ainda não tem as condições necessárias para garantir uma hegemonia estável no futebol português. Ele próprio lembrou que, este ano, o Sporting foi campeão com 25 por cento do orçamento de um rival e 50 por cento do outro. Calculou em dois a três anos o tempo necessário para fazer do Sporting um líder frequente e consistente. Mais uma vez se mostrou intolerante com as falsas expectativas. E tudo isto é algo de profundamente novo no futebol português. Valerá a pena seguir o seu percurso.


PEDRO GONÇALVES NO EUROPEU

Fernando Santos não é, e nunca foi, um treinador dado a experimentalismos. Daí que a estreia de Pedro Gonçalves na convocatória para a Seleção Nacional, e logo para o Campeonato da Europa, tenha um significado muito especial. Chamada justa de um jovem (22 anos) que tem características invulgares. Avançado móvel, com extraordinário sentido de golo. Preciso e forte no remate. Leitura perfeita dos espaços abertos na defesa contrária. Um jogador que está sempre perto do golo e que pode resolver qualquer jogo.  


AS ESCOLAS

Foi publicado o ranking das escolas em Portugal. Misturaram-se colégios privados, com exclusividade de pedigree, com escolas públicas dos lugares onde Deus perdeu as botas. Não se trata, necessariamente, de uma banalidade, mas o assunto deve ser visto de forma enquadrada, com critério e desde que a conclusão não seja tão linear como a lista publicada. As escolas são, aliás, como os clubes. O Manchester City, o Real Madrid ou o Bayern de Munique lideram rankings. Desgraçados daqueles que tentam ganhar lá no seu bairro...