Nuno Moreira: «Tenho qualidade para ter sido aposta dum grande»

Deixou o Casa Pia por €3,5M e aos 26 anos está brilhar intensamente do outro lado do mundo, no Gigante da Colina, o Vasco da Gama, pelo qual em 43 jogos marcou oito golos e sete assistências, conquistando a crítica e os exigentes adeptos do cruz maltino. Esta é uma viagem guiada duma estrela resplandecente que ilumina o Rio de Janeiro, essa Cidade Maravilhosa que já o 'contagiou' para um certo sotaque de português do Brasil

— Como está a correr a experiência no Vasco da Gama?

— Tem corrido super bem. Desde o primeiro dia que cheguei aqui, tanto a nível profissional como pessoal, as coisas têm-me corrido bem. Adoro a cidade. Eu e a minha namorada temo-nos adaptado bem também, ao que é viver aqui no Rio de Janeiro. E em termos profissionais também, tenho tido a sorte de ter conseguido fazer boas exibições, estar a conseguir contribuir com golos e assistências. De facto, estou muito feliz aqui.

— Qual foi o segredo para se ter imposto tão depressa?

­— O meu melhor amigo no Casa Pia era o Cassiano, que é brasileiro. Já consumia muito o que são as vivências do Brasil, a fala, e ele falava muito do Brasil. Foi uma pessoa também que me aconselhou a vir para aqui, e que me ajudou muito nessa fase. Nesta perspetiva, acho que passou um bocado por aí.

Nuno Moreira com a namorada Inês Afonso (DR)

— É público que a sua transferência para o Vasco deu-se por cerca de €3,5M, verba ao alcance dos grandes de Portugal. Julga ter qualidade para jogar nesse patamar?

— Acredito que já tinha a qualidade, já estava maturado o suficiente como pessoa e como jogador para jogar num clube grande, não surgiu a oportunidade, e eu também estou muito feliz aqui. Portanto, não são coisas que me tirem o sono.

— Qual é o segredo para ser tão consensual num contexto normalmente de crítica tão feroz?

— Tem a ver com as primeiras exibições. Realmente, consegui adaptar-me muito rápido à equipa, ao futebol, e depois também consegui contribuir com golos e assistências, o que facilitou que as pessoas gostassem de mim.

— O Vasco está atualmente em 11.º lugar no Brasileirão. Qual o objetivo para esta temporada?

­— Desde que o Fernando Diniz chegou é muito ir pensando jogo a jogo. Estamos em 11.º, mas, por exemplo, no último jogo com o Vitória, se perdêssemos, iríamos para perto da zona de rebaixamento. É tentar ganhar todos os jogos e melhorar a cada um deles. E depois, no fim, faremos as contas.

— Como é ser treinado por Fernando Diniz, que já foi selecionador do Brasil e conquistou a Libertadores em 2023?

Fernando Diniz assumiu o Vasco da Gama em maio deste ano (Foto IMAGO)

— É uma pessoa que gosta muito de futebol, com emoções muito fortes, não nos deixa descansar um segundo, e desde que ele chegou temos melhorado muito; não só coletivamente, mas também individualmente, todos os jogadores têm dado um step up nas suas exibições. Estou muito feliz por isso.

— Mesmo aos 33 anos, Philippe Coutinho continua a ser um jogador diferenciado?

­— Muito. Sempre que tenho oportunidade, falo que é um prazer para mim jogar com ele.

— A bola chega sempre 'com açúcar'...

— Passa sempre a bola nas melhores condições possíveis, e é um jogador realmente é diferente. Não é por acaso que esteve num nível mais alto da Europa. É um prazer jogar com ele.

Phillipe Coutinho jogou na Europa em clubes como o Liverpool e o Barcelona (Foto IMAGO)

— Léo Jardim passou em Portugal por clubes mais pequenos, Rio Ave e Boavista, mas é um enorme ídolo por aí...

— O Léo Jardim foi uma pessoa que me recebeu muito bem, também por ter vindo de onde vim. É realmente um guarda-redes de um nível muito bom. Fala-se que também pode estar prestes a ir para a seleção e merece, porque realmente ele é muito bom. É boa pessoa e um grande profissional. Deve ser o jogador mais profissional que vi aqui no Vasco da Gama. Não me surpreende que contribua com boas exibições.

Léo Jardim é ídolo para os adeptos do Vasco (Foto IMAGO)

— Quais as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o português?

­— As equipas aqui estão todas mais niveladas, não há tanta diferença, como em Portugal entre os grandes e os outros. E depois temos que olhar para o calendário do Brasil, pois jogamos sempre domingo-quarta-domingo-quarta. O tempo aqui no Brasil é muito mais quente que em Portugal, mas ainda assim acho que o nível aqui é muito bom, os jogadores. Em todas as equipas, o nível é muito elevado, o que torna os jogos muito competitivos. E fora isso também, aqui no Brasil há muita rivalidade entre as equipas, o que também torna os jogos ainda mais específicos, com mais pressão social, o que não existe em Portugal, não é? Então acredito que aqui é um pouco mais difícil de jogar, por conta dessas situações.

— É voz corrente de que há um défice de qualidade dos atuais jogadores brasileiros. É mesmo assim?

— São tempos diferentes. O futebol tem mudado muito e o Brasil também tem que perceber esse aspeto, porque em termos de qualidade, qualidade, não sei se há um défice de qualidade. Sinto é que o jogo mudou um pouco, e se calhar para o jogador brasileiro pode ser um pouco mais difícil de se adaptar, mas hoje nós continuamos a ver brasileiros nos melhores clubes do mundo. Portanto, se calhar em termos de seleção, não tem ganho tanta coisa como ganhavam há uns anos atrás, mas em termos de jogadores, se formos olhar um por um, o nível pode ser parecido.

— Quem é o principal candidato a vencer o Brasileirão. Palmeiras ou Flamengo?

— Vai ser uma disputa grande entre Flamengo, Palmeiras e Cruzeiro. Já jogámos contra os três. E o que posso dizer é que os três são muito difíceis de defrontar. Mas não consigo lhe dizer quem é que pode ser vencedor ou não, foram todos muito difíceis

— Como se explica o mediatismo de Abel Ferreira?

— É fácil de explicar: é o treinador que está há mais tempo no cargo, está há cinco anos no mesmo clube, que é uma coisa difícil, e todos os anos ganha um título; ou se não ganha, fica muito perto. As suas equipas conseguem ser sempre competitivas e lutar pelos lugares cimeiros da tabela, então eu acho que é por aí.

Abel Ferreira está há cinco anos no Palmeiras (Foto IMAGO)

— Em termos comparativos com clubes portugueses, qual é a dimensão do Vasco da Gama?

— É à dimensão dos grandes de Portugal. Tem mais torcedores, o que é normal, tendo em conta a população, mas a pressão que é feita no clube, dentro do clube para fora e de fora para dentro, é muito parecida ao que é jogar num grande em Portugal. O Vasco é gigante, estava habituado a lutar por títulos, se calhar é um bocado a imagem do que aconteceu com o Sporting, antes do Ruben Amorim... Não conseguiam ganhar títulos, o Vasco pode estar a passar por essa fase, mas não deixa de ser um clube gigante, com uma pressão imensa.

— O Vasco é o clube dos portugueses aí no Brasil. Ainda se sente muito a presença portuguesa no seu quotidiano?

— Sente-se mais a cultura de Portugal, e do carinho que eles têm pelo nosso país também, o que me ajudou muito na minha adaptação, confesso.