Pedro Gonçalves encontrou o caminho do golo numa fraca exibição do Sporting. Foto: Miguel Nunes
Pedro Gonçalves encontrou o caminho do golo numa fraca exibição do Sporting. Foto: Miguel Nunes

Nem o pote mágico achado no deserto de ideias serviu ao campeão (as notas dos jogadores do Sporting)

Num dos piores jogos da história recente do campeão, o balde de água gelada foi servido quase no final por uma ingenuidade do menos ingénuo dos seus jogadores. Rui Silva adiou o inevitável e de pouco serviu a inspiração esporádica de Pedro Gonçalves
A figura: Rui Silva (6)
Estava perto de se consagrar com um dos heróis da noite, sobretudo pela intervenção absolutamente decisiva num lance aos 54 minutos, a negar o golo a Lelo quando este rematou a menos de um metro da baliza, ainda que descaído para a esquerda da forma como atacava. Foi chamado pela primeira vez ao jogo, sem ser para reposições, aos 45 minutos e segurou bem um remate frouxo de Horta. Depois do brilho supremo frente a Lelo ainda sacudiu um daqueles remates traiçoeiros de Zalazar, aos 71 minutos. No penálti esteve ainda mais perto de ser coroado rei da noite, mas quando um penálti é tão bem marcado, meus caros amigos, não há guarda-redes que o segure.

5 Vagiannidis — É voluntarioso e vê-se que trata a bola por tu, mas demora a encaixar numa dinâmica que permita ao Sporting contar com o desequilíbrio constante pela direita. Foi muitas vezes obrigado a fletir para o meio a fim de marcar Ricardo Horta, o que também contribuiu para um certo apagamento ofensivo. Aos 50 minutos podia ter sido mais feliz num cabeceamento que daria o 2-0 e aos 56, aí sim, foi autor de belo cruzamento que Morita desaproveitou, também de cabeça.

5 Debast — Trabalho defensivo regular, porque na verdade o jogo ofensivo bracarense chegou a ser intenso mas também ele bastante atabalhoado, e portanto relativamente fácil de anular. Procura (o que se compreende) aproveitar uma das suas maiores qualidades, o passe longo, mas desta vez só o conseguiu muito a espaços, sempre para Quenda e invariavelmente sem grandes efeitos práticos.

5 Gonçalo Inácio — Aos 25 minutos mostrou que estava superiormente atento às armadilhas lançadas pelo ataque bracarense, com um corte de classe. É certo que o lance até foi anulado por fora de jogo de Victor Gómez, mas uma intervenção daquelas moraliza um defesa central. Acontece que, tal como o companheiro do lado, também não conseguiu ativar a qualidade que com ele partilha de saber lançar ataques da própria equipa através do passe longo ou da condução. Foi uma noite muito morna que acabou por revelar-se bastante fria...

5 Maxi Araújo — Está em relativa boa forma e o modo como se entrega ao jogo e às missões que nele tem é notável. Decide a maior parte das vezes corretamente, é muito incisivo nas ações, sabe defender e atacar. Nem sempre tem o sangue à temperatura ideal, e talvez por isso cometeu uma falta que se revelaria fatal, na medida em que foi a partir dela que surgiu o penálti decisivo para o resultado. Era uma falta quase tão desnecessária quanto a do seu capitão no momento posterior. Ofereceu o 2-0 a Ioannidis numa bandeja que o grego deixou cair com algum estrondo. O jogo teria ficado resolvido aí, aos 81 minutos, e Maxi seria um dos melhores da noite. A vida é assim.

4 Hjulmand — Irreconhecível na primeira hora de jogo, a ver a bola passar-lhe ou lado ou por cima na maior parte do tempo, sem conseguir pegar na batuta que habitualmente segura com uma firmeza que fez dele um grande capitão do Sporting e um dos esteios das boas recentes épocas leoninas. Quando Rui Borges mexeu na equipa, aplicando, na prática, um 5x4x1 no qual teve Kochorashvili ao lado, Hjulmand voltou a ter a influência do costume, agarrou a vantagem pelos colarinhos e ia ajudar os leões a vencerem um jogo no qual jogaram bastante mal. Ia — porque naquele que seria o último lance da partida não resistiu a puxar a camisola de Lagerbielke na área. É um penálti de sofá, ou de VAR, se quisermos, mas os jogadores sabem que o VAR existe. Há uns anos habituaram-se a colocar as mãos atrás das costas nos cruzamentos ou remates. Está na hora de se habituarem a não agarrar, puxar ou empurrar de forma deliberada dentro das áreas.

5 Morita — O japonês foi de uma intermitência absoluta, o que é desde logo estranho tendo em conta tudo o que lhe conhecemos como jogador. Alternou passes infantilmente errados com belas aberturas (é dele a bola para Pote construir o 1-0), bons cortes com distrações, decisões acertadas com decisões desastradas. Saiu aos 64 minutos e pareceu natural. O que na verdade, quando falamos de Morita, não é natural.

6 Geovany Quenda — Foi (com bastante e inusitada companhia) um dos erradores de passes de serviço, é certo. Mas também terá sido o leão que mais se mostrou ao jogo, que mais vezes tentou criar e desequilibrar. Nem sempre saiu bem, mas ele foi estando lá. Facilitou quando deixou Lelo rematar em cima da baliza para a grande defesa de Rui Silva e jogou meia hora, na prática, como lateral-direito, dada a flexão interior de Vagiannidis. Nunca virou a cara às tarefas.

4 Francisco Trincão — Provavelmente uma das piores noites de Trincão em Alvalade. Ou fora de Alvalade. Apático, não teve aquela capacidade de explosão e variação de jogo que tantas vezes tem servido ao bicampeão. É dos mais utilizados do Sporting e vai continuar a ser, mas talvez isso tenha, a espaços, as suas consequências. Ninguém é sempre bom, melhores jogos virão.

6 Pedro Gonçalves — Não foi o Pedro Gonçalves dos grandes momentos, longe disso. Mas aqui e ali, bem ao seu estilo de jogador discreto que de vez em quando brilha como estrela, apareceu. E apareceu em grande, ao criar o primeiro verdadeiro desequilíbrio de um para um no jogo, quando deixou Lagerbielke a vê-lo passar e ofereceu o golo a Suárez, ainda que com ajuda tipo flippers da defesa bracarense. No período de compensação da primeira parte inventou uma trivela que quase deu o 2-0. No deserto de ideias da exibição leonina, o pote mágico lá encontrado foi desta vez insuficiente para matar toda a sede.

6 Luis Suárez — A abnegação e a vontade do costume, aliadas à alternância entre bons gestos técnicos e algumas precipitações. Quarto jogo seguido a marcar, e talvez o leão mais parecido a si próprio neste jogo meio disléxico.

5 Alisson — Agitou as águas, quase fez 2-0 aos 78 minutos e mesmo a terminar, já com 1-1, podia ter saído em ombros, não se desse o caso de falhar um golo que parecia fácil, dentro da área, com a baliza à mercê.

4 Kochorashvili — Deu aparente segurança à defesa da vantagem, permitindo ao Sporting o retomar de um certo controlo do jogo. A atacar apareceu bem e decidiu sempre mal: não chutou quando devia, quando decidiu rematar tinha Pote a passar-lhe à frente.

4 Ioannidis — Aos 81 minutos Maxi ofereceu-lhe a vitória e Ioannidis deu-lhe de joelho ao lado. Cedo para se perceber o que realmente vale.

Fresneda — Entrou para participar no pesadelo, sem fazer o que quer que seja a favor ou contra isso.

6 Geny Catamo — Vale um 6? Sim, se pensarmos que participou ativamente (e de forma positiva) nos dois lances em que o Sporting, já depois do empate, poderia ter chegado de novo à vantagem. Para meia dúzia de minutos não está mal.

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