Nem de bem nem de mal… há apenas portugueses
Aqui há quase três meses, deputados do partido Chega — André Ventura, no Parlamento, e Rita Matias em vídeo na rede social X — publicitaram os nomes de alunos duma escola de Lisboa para dar a entender como verdadeira a mentira destes tirarem o lugar a crianças portuguesas. Nomes de origem estrangeira mas não de um estrangeiro qualquer, um estrangeiro culturalmente diferente, de religião diferente, com a intenção de espalhar o ódio que sabem soprar em rajadas fortes para um dia, não tenham dúvidas, acabarem com o único sistema que garante a liberdade.
Dessa lista bem podia constar este nome: Isaac Nader, não o nome completo, Isaac Zambujeiro Nader, porque o nome do meio viria a despropósito da intenção dos encartados de criar o caos para um dia imporem a ordem... Isaac Nader podia ser estrangeiro, podia estar em Portugal a trabalhar e a lutar pelos direitos que os estrangeiros devem ter nos países de acolhimento que escolheram para trabalhar — tal como os portugueses emigrantes também — e onde têm, naturalmente, de cumprir as leis, como todos. Lei é lei, serve para todos, portugueses ou não em igual medida. Mas Isaac Nader até é português da Silva, algarvio de Faro — 17 de agosto de 1999 — e agora, aos 26 anos, campeão do mundo nos 1500 metros nos Mundiais de Atletismo de Tóquio, que tiveram lugar de 13 a 21de setembro.
Também Pedro Pablo Pichardo — se o nome aparecesse na referida lista seria apenas Pablo, ainda que o efeito não fosse bem o mesmo, afinal Pablo não remete logo para cor de pele ou religião diferentes, logo sem o impacto que os compiladores de nomes de crianças efetivamente pretendiam (pois, Pablo não serve para esse fim, é pouco, seria melhor um Hassan ou uma Amira Abdul, ou um Manjot, ou uma Aaradhya…) — é campeão do Mundo (outra vez e além de campeão olímpico), não nasceu em Portugal mas é tão português como Isaac Nader, como eu ou os deputados atrás referidos, para quem no entanto nem um nem outro serão portugueses de bem — nem dei conta de o partido ter felicitado os novos campeões que mostraram a bandeira nacional e fizeram soar a Portuguesa enquanto exibiam a medalha de ouro ao peito.
Não há portugueses de bem ou de mal, não há portugueses de primeira ou segunda, como não há imigrantes (e emigrantes) de bem ou de mal, embora pareça haver uns de primeira, que chegam com vistos de ouro e outros de segunda a quem se complica a vida… Mas estes dois portugueses que referi, os dois novos campeões do mundo, fizeram e fazem muito bem a Portugal, mais do que alguma vez alguns que se dizem de bem irão fazer pelo país.
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