Mundiais de atletismo: «Quem é o melhor?»
Pedro Pablo Pichardo conquistou esta sexta-feira o título de campeão do Mundo no triplo salto, ouro que agarrou na última tentativa. Feliz, sorriu, quase simulou o ‘siii’ de Cristiano Ronaldo e aliviado, por certo, por aos 32 anos ter voltado a mostrar que é o melhor do Mundo, depois de um ano atribulado e em que muito duvidaram de que conseguisse voltar ao topo depois do olimpo em Tóquio2020, há quatro anos.
«Who is the best, baby? Who is the best, baby?» repetiu para a camara no final do concurso onde se mostrou sempre confiante.
🇵🇹 O salto que valeu a Pedro Pablo PICHARDO o título de CAMPEÃO DO MUNDO🥇 👏
— Eurosport Portugal (@EurosportTV_Por) September 19, 2025
Palmarés do atleta português em Mundiais: 🥇 🥇 🥈 🥈 pic.twitter.com/RYzXiVDgwE
A mesma convicção com que, em março, bateu com a porta na Luz, clube que o acolheu há oito anos quando se naturalizou português depois da fuga de Cuba.
Agora, Pichardo é o primeiro português a tornar-se campeão do Mundo por duas vezes, repetindo o primeiro lugar do pódio de há três anos, em Oregon2022.
Na mesma pista onde conquistado o título olímpico em Tóquio2020, disputado no ano seguinte devido à pandemia, o atleta de 32 anos mostrou que ainda tem muito para dar, selando um ano complicado em que deixou o Benfica devido a «divergências inconciliáveis» em confronto com Ana Oliveira, diretora do projeto olímpico do clube, e uma das principais defensoras da sua chegada em 2017.
THE FINAL JUMP OF THE NIGHT! 🥇
— The Olympic Games (@Olympics) September 19, 2025
Pedro Pichardo takes gold at the VERY end of the event, victory in the same stadium where he won Olympic gold at #Tokyo2020. The man just loves it here! 🗼#WorldAthleticsChamps | #RoadToLA28 pic.twitter.com/WkumsphOxt
Seguiu-se a naturalização, que Pichardo retribuiu com medalhas: três em Mundiais ao ar livre, duas olímpicas, outras tantas em Europeus ao ar livre, uma nos Campeonatos do Mundo em pista coberta e duas nos Europeus ‘indoor’.
Há 10 anos, ainda com a camisola cubana, orgulhoso filho de Santiago de Cuba, saltou 18,08, mais quatro centímetros do que o recorde nacional que estabeleceu para Portugal em Roma2024.
Nasceu a 30 de junho de 1993 e, desde cedo, mostrou que estava reservado para grandes ‘voos’, o mais brilhante até agora ocorreu no estádio que hoje o consagrou como primeiro português bicampeão do mundo, com a conquista do título olímpico de Tóquio2020.
Mas, em 2012, deu o primeiro sinal ao sagrar-se campeão do mundo de juniores, e vice-campeão absoluto no ano seguinte. Em 2015 voou para a sua melhor marca 18,08 metros, depois de ter subido duas vezes a pódios de ‘majors’, com o bronze nos Campeonatos do Mundo Moscovo2013 e a prata nos Mundiais em pista curta Sopot2014.
Sonhava, então, com os Jogos Olímpicos do Rio 2016.
Por decisão dos médicos da seleção cubana, devido a uma microfratura num tornozelo ficou de fora das escolhos para o Brasil. Além disso, os responsáveis federativos, não queriam que o pai Jorge continuasse a ser o seu treinador. Bateu o pé e foi suspenso. Hoje, Jorge Pichardo, estava, como sempre, na primeira fila a orientar o filho.
Em abril de 2017, desertou de um estágio da seleção em Estugarda, na Alemanha, rumou a Portugal, onde foi acolhido como refugiado e assinou pelo Benfica, graças à intervenção da antiga saltadora, Ana Oliveira.
Em Tokyo 2020, tivemos esse voo dourado de Pedro Pichardo! 🇵🇹 pic.twitter.com/BPbj4vO7vV
— Jogos Olímpicos (@JogosOlimpicos) July 10, 2024
Chegou, instalou-se na margem sul e conquistou todos e tudo, com o ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio2020 como ponto alto da carreira sua e do atletismo português.
Antes ainda de Paris2024, já eram claros os sinais do desgaste na relação entre o atleta e os responsáveis das águias. Foi prata nos JO e reclamou apoios, apelou a Rui Costa, ao primeiro-ministro e a todas as instâncias possíveis.
Sem sucesso, que se saiba, e, em janeiro deste ano, avançou com o pedido de rescisão unilateral. Assinou, em março, pelos modestos italianos do ATL-Etica, de San Vendemiano, abdicando da temporada de inverno, e dos Europeus Apeldoorn2025 e dos Mundiais Nanjing2025.
Contudo, esta ausência, afinal, nada mais significava que a preparação para o momento certo. E o momento certo era hoje, 19 de setembro de 2025, quando se sagraria campeão do Mundo.
Para já, está feliz e parece tranquilo. Mas, provavelmente por pouco tempo, já que desistir é um verbo que parece não conhecer e há ainda um sonho que continuará seguramente a perseguir: bater o recorde do mundo estabelecido em 1995 pelo britânico Jonathan Edwards, uns incríveis 18,29 metros.