Pichardo chegou, viu e venceu no último salto o seu segundo título mundial. EPA/ALEX PLAVEVSKI

Mundiais de atletismo: «Quem é o melhor?»

Pedro Pichardo reinventou-se depois de um ano desafiante e, aos 32 anos, mostrou que a ambição daquele tímido refugiado que chegou a Portugal, há sete anos, só tem uma medida: 18,29 metros.

Pedro Pablo Pichardo conquistou esta sexta-feira o título de campeão do Mundo no triplo salto, ouro que agarrou na última tentativa. Feliz, sorriu, quase simulou o ‘siii’ de Cristiano Ronaldo e aliviado, por certo, por aos 32 anos ter voltado a mostrar que é o melhor do Mundo, depois de um ano atribulado e em que muito duvidaram de que conseguisse voltar ao topo depois do olimpo em Tóquio2020, há quatro anos.

«Who is the best, baby? Who is the best, baby?» repetiu para a camara no final do concurso onde se mostrou sempre confiante.

A mesma convicção com que, em março, bateu com a porta na Luz, clube que o acolheu há oito anos quando se naturalizou português depois da fuga de Cuba.

Agora, Pichardo é o primeiro português a tornar-se campeão do Mundo por duas vezes, repetindo o primeiro lugar do pódio de há três anos, em Oregon2022.

Na mesma pista onde conquistado o título olímpico em Tóquio2020, disputado no ano seguinte devido à pandemia, o atleta de 32 anos mostrou que ainda tem muito para dar, selando um ano complicado em que deixou o Benfica devido a «divergências inconciliáveis» em confronto com Ana Oliveira, diretora do projeto olímpico do clube, e uma das principais defensoras da sua chegada em 2017.

Seguiu-se a naturalização, que Pichardo retribuiu com medalhas: três em Mundiais ao ar livre, duas olímpicas, outras tantas em Europeus ao ar livre, uma nos Campeonatos do Mundo em pista coberta e duas nos Europeus ‘indoor’.

Há 10 anos, ainda com a camisola cubana, orgulhoso filho de Santiago de Cuba, saltou 18,08, mais quatro centímetros do que o recorde nacional que estabeleceu para Portugal em Roma2024.

Nasceu a 30 de junho de 1993 e, desde cedo, mostrou que estava reservado para grandes ‘voos’, o mais brilhante até agora ocorreu no estádio que hoje o consagrou como primeiro português bicampeão do mundo, com a conquista do título olímpico de Tóquio2020.

Mas, em 2012, deu o primeiro sinal ao sagrar-se campeão do mundo de juniores, e vice-campeão absoluto no ano seguinte. Em 2015 voou para a sua melhor marca 18,08 metros, depois de ter subido duas vezes a pódios de ‘majors’, com o bronze nos Campeonatos do Mundo Moscovo2013 e a prata nos Mundiais em pista curta Sopot2014.

Sonhava, então, com os Jogos Olímpicos do Rio 2016.

Por decisão dos médicos da seleção cubana, devido a uma microfratura num tornozelo ficou de fora das escolhos para o Brasil. Além disso, os responsáveis federativos, não queriam que o pai Jorge continuasse a ser o seu treinador. Bateu o pé e foi suspenso. Hoje, Jorge Pichardo, estava, como sempre, na primeira fila a orientar o filho.

Em abril de 2017, desertou de um estágio da seleção em Estugarda, na Alemanha, rumou a Portugal, onde foi acolhido como refugiado e assinou pelo Benfica, graças à intervenção da antiga saltadora, Ana Oliveira.

Chegou, instalou-se na margem sul e conquistou todos e tudo, com o ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio2020 como ponto alto da carreira sua e do atletismo português.

Antes ainda de Paris2024, já eram claros os sinais do desgaste na relação entre o atleta e os responsáveis das águias. Foi prata nos JO e reclamou apoios, apelou a Rui Costa, ao primeiro-ministro e a todas as instâncias possíveis.

Sem sucesso, que se saiba, e, em janeiro deste ano, avançou com o pedido de rescisão unilateral. Assinou, em março, pelos modestos italianos do ATL-Etica, de San Vendemiano, abdicando da temporada de inverno, e dos Europeus Apeldoorn2025 e dos Mundiais Nanjing2025.

Contudo, esta ausência, afinal, nada mais significava que a preparação para o momento certo. E o momento certo era hoje, 19 de setembro de 2025, quando se sagraria campeão do Mundo.

Para já, está feliz e parece tranquilo. Mas, provavelmente por pouco tempo, já que desistir é um verbo que parece não conhecer e há ainda um sonho que continuará seguramente a perseguir: bater o recorde do mundo estabelecido em 1995 pelo britânico Jonathan Edwards, uns incríveis 18,29 metros.