Dirigente está confiante no sucesso do mandato - Foto: Maycon Quiozini
Dirigente está confiante no sucesso do mandato - Foto: Maycon Quiozini

Não teve apoio de Benfica e Sporting, mas tem ambições: «Vila do futebol paga com capitais próprios da AF Lisboa»

Presidente da associação lisboeta assume que instituição tem condições para financiar projeto estruturante. Obra será edificada em Mafra e obedecerá a rigor absoluto. Dirigente assume relacionamento de excelência com águias e leões, que não estiveram ao seu lado nas eleições

Tempo de trabalho. Muito trabalho. É assim que Vítor Filipe encara esta missão de presidir à AF Lisboa, organismo que hoje comemora 115 anos. O novo líder da instituição, eleito no passado mês de fevereiro, olha para o presente e para o futuro carregado de ambição e nesta entrevista a A BOLA fala de tudo de forma aberta e transparente.

— A AF Lisboa está a celebrar 115 anos de existência. Como é para si ser o presidente da instituição?

— É uma honra! 115 de uma instituição com a grandeza da Associação é sempre muito gratificante. Temos de ter memória honrando o nosso passado. Estamos gratos às pessoas que trouxeram a AF Lisboa até aqui. Acompanhei a casa nos últimos 12 anos e as expectativas estão de acordo com o que estava à espera. Estou bastante satisfeito com o que encontrei e agora temos quatro anos para fazermos o que propusemos.

— Qual é o projeto que considera ser o mais impactante para o seu mandato?

­— Temos vários assuntos em prática em função do nosso compromisso eleitoral. O naming da competição da I Divisão Distrital, que é a SABSEG, a implementação de uma bola oficial para o futebol e para o futsal, bem como a construção da vila do futebol. Estamos a falar de 10 hectares em Mafra, onde vão ser construídos dois campos de relva natural e três de relva sintética, bem como um pavilhão com uma arena para o futsal e ainda um campo para o futebol de praia. Estas são as primeira e segunda fases. A terceira será a construção de uma unidade hoteleira para 40 quartos. Temos este compromisso de ter a vila do futebol em condições de receber, em 2029, algumas seleções para o Campeonato da Europa feminino, e depois o Campeonato do Mundo de 2030. Temos estado em contacto permanente com a Câmara Municipal de Mafra e com o Instituto Português do Desporto e Juventude e aguardamos a todo o momento pela aprovação dos projetos de especialidade para começarmos a construção. O tempo urge, 2029 é já amanhã e 2030 é logo no dia seguinte, pelo que é nossa intenção acolher seleções internacionais na vila do futebol.

— Qual é a previsão do investimento? E quem o irá suportar?

— Nós temos capitais próprios e não vamos recorrer a empréstimos de qualquer natureza, muito menos bancários. Com a mais-valia que foi a venda dos apartamentos do Chiado e a compra do prédio no Marquês de Pombal, onde estamos agora, temos esta mais-valia de €4,150 M que são dedicados à vila do futebol. A vila do futebol será paga pela AF Lisboa.

— Que benefício, em termos de usufruto, terão os clubes da AF Lisboa nessa vila do futebol?

— Poderão utilizar o espaço em função de uma calendarização que está a ser devidamente preparada. Tanto os clubes como as seleções. O espaço servirá também para apoiar os clubes que querem desenvolver-se e que não têm espaços para isso. Há também uma parceria com a comunidade local [Mafra].

— Em fevereiro venceu as eleições sem o apoio de Benfica e Sporting. Como estão, hoje em dia, as relações com estes dois clubes?

­—Eu sempre disse e reafirmo que o apoio do Benfica e do Sporting era importante, mas não era determinante. Conhecia o terreno e as pessoas. As relações institucionais estão muito bem, tenho sido várias vezes convidado por Rui Costa e Frederico Varandas para alguns eventos. Tenho tido um tratamento de excelência da parte do Benfica e do Sporting.

— Como vê o estado das associações distritais e que posicionamento entende que a AF Lisboa deve ter nos próximos tempos?

— Tenho excelentes relações com várias associações. Independentemente da grandeza das instituições, entendemos que é na mesa do plenário que temos de resolver os problemas das associações. O futebol é um desporto de equipa e nós, na mesa do plenário, temos de dar esse exemplo. Pegamos nos problemas das associações como se fossem os nossos. Só em conjunto poderemos levar a carta a Garcia.

Policiamento é «um problema em mãos»

Dentro das várias questões mais importantes que urgem a ser resolvidas está, sem sombra de dúvida, o policiamento nos jogos que são organizados pela Associação de Futebol de Lisboa. Vítor Filipe também não se coibiu de abordar esta temática, dando conta do que já está a ser feito e daquele que entende ser o caminho para que se possa, de uma vez por todas, mitigar este cenário. Algo que, recorde-se, já colocou em causa a realização de jogos, situação que, naturalmente, não se deseja.

«É verdade. Nós estamos com um problema em mãos. Contactámos algumas empresas de segurança no sentido de termos um preço mais favorável para os nossos clubes, já temos agendada uma reunião com o diretor nacional da PSP, bem como outra com o comando da GNR, e estranho que o senhor secretário de Estado, a quem pedimos uma audiência, ainda não nos tenha respondido. Estamos a falar de uma questão de segurança pública, de defender a integridade das competições, mas também dos adeptos, árbitros, treinadores, jogadores… Estou convencido de que em conjunto conseguiremos encontrar uma solução», assumiu o líder associativo.

Aplausos às boas relações com Liga e FPF

— Que tipo de relações tem a AF Lisboa com a Liga e quais os projetos que podem ser trabalhados em conjunto?

— A relação com Reinaldo Teixeira é a melhor. Não só em termos institucionais, mas também pessoais. É uma pessoa que tem estado sempre ao nosso lado, mesmo que saibamos que a Liga Portugal está mais virada para o futebol profissional. Reinaldo Teixeira é um homem muito ligado às associações, esteve largos anos na AF Algarve, e é uma pessoa disponível, que sabe ouvir e que está sempre pronto para dar o seu contributo. Neste momento não temos nenhum projeto em conjunto, mas mantemos uma relação de proximidade e uma abertura total.

— Permita-me também falar sobre a FPF. Como é do conhecimento público, Pedro Proença não apoiou a sua candidatura à AF Lisboa, tendo estado, de resto, ao lado de Rui Rodrigues, o seu adversário eleitoral. Que relacionamento tem com o presidente da FPF?

­— O dr. Pedro Proença teve a atenção de me honrar com a sua presença na minha tomada de posse e a partir daí temos tido uma relação institucional normal. Temos também uma relação pessoal de grande cortesia. Não só com Pedro Proença, como com toda a sua Direção. Essas relações só honram as duas instituições centenárias, a AF Lisboa e a FPF. Temos grande respeito mútuo.