Jurgen Klopp, diretor global do futebol da Red Bull e ex-treinador
Jurgen Klopp, diretor global do futebol da Red Bull e ex-treinador - Foto: IMAGO

Klopp critica FIFA: «É como se estivesse a falar com o meu micro-ondas...»

Ex-treinador voltou a criticar a organização pela criação do Mundial de Clubes, que garantiu que não assistiu, e também por considerarem aumentar o Mundial 2030 para... 64 equipas

Além da longa conversa sobre o seu passado como treinador e o futuro fora desse cargo, Jurgen Klopp também falou sobre uma das maiores questões do futebol atual: o tempo de descanso e o calendário apertado dos jogadores. O alemão voltou a criticar fortemente a FIFA e focou-se em dois aspetos: o Mundial de Clubes e o Mundial 2030, em Portugal, Espanha e Marrocos.

«Se vi o Mundial de Clubes? Não», encolheu os ombros. «Será que li esta manhã que o Chelsea [vencedor do torneio] está com uma crise de lesões? Talvez eles tivessem lesões [de qualquer maneira]. A minha especialidade é saber o quanto se pode esperar dos jogadores de futebol. Conheço a intensidade dos treinos. Pedimos sempre mais. Vamos, vamos, vamos. Não duvido que tenha sido um grande torneio. Não o assisti. O Chelsea ficou super feliz por ter vencido. Ótimo, muito dinheiro. Mas, em algum momento, temos que cuidar das poucas pessoas sem as quais este jogo não existiria: os jogadores», começou por dizer, em entrevista ao The Athletic, lembrando outras modalidades e... outras áreas profissionais.

«Não há solução além de parar de organizar novos torneios nas férias de verão. Não há mais férias para os melhores jogadores do mundo. Não farias isso em nenhuma outra área da vida. Imagina colocar o melhor artista para se apresentar todas as noites até ele cair e depois dizer: ‘Desculpe, ele perdeu o foco...’ E agora a FIFA está a discutir um Mundial com 64 seleções em 2030?», atirou, admitindo que os jogadores e treinadores aceitariam receber menos para ter melhores condições, pelo menos é o que Klopp faria.

«O que quer que eu diga... é como se estivesse a falar com o meu micro-ondas. O efeito é exatamente o mesmo. As pessoas dirão: ‘Ah, mas ganhas muito dinheiro!’ Eu sei disso. Ou os dirigentes dos clubes dirão: ‘Sim, são os jogadores e os treinadores, eles querem sempre mais dinheiro, então precisamos de ganhar dinheiro.' Então, por que não se sentam todos juntos à mesa e dizem aos jogadores que eles podem ter oito semanas de férias por ano? Podemos conversar? Tentem! Eles diriam que sim, aceitariam o milhão», atirou. Treinadores e jogadores aceitariam receber menos para ter melhores condições? «Não sei, mas se tivessem conversado comigo, com certeza», garantiu, voltando ao problema do crescimento de lesões, e prolongadas, no futebol, lembrando Rodri, Bola de Ouro em 2024, que ficou um ano de fora dos relvados após se queixar do calendário em conferência de imprensa.

«Foi horrível», ele ri. «Os jogadores que se manifestaram ficaram lesionados no dia seguinte! Rodri, por exemplo. Ele criticou e no dia seguinte ficou lesionado! Mas se não falarmos sobre isso, eles definitivamente não vão parar. Eles [FIFA] gostam tanto de se envolver e ter uma ideia que simplesmente se esquecem dos jogadores. Ninguém pensa neles. A PFA [Associação de Futebolistas Profissionais] - sindicato dos jogadores de futebol ingleses - é bastante forte nisso. Não sou o único. Provavelmente sou a voz mais famosa às vezes — ou costumava ser! Portanto, não se pode deixar de falar sobre isso só porque é desconfortável e as pessoas não querem ouvir. E se não querem ouvir, não ouçam», finalizou.