MP português avança com investigação a Peter Lim em negócios com o Benfica
O Ministério Público (MP) português tem aprofundado uma investigação que envolve Peter Lim e vários ex-dirigentes do Valência, na sequência de uma denúncia apresentada por Miguel Zorío, antigo vice-presidente do clube espanhol. Em causa estão alegados crimes de corrupção internacional e falsidade contabilística, relacionados com as transferências de Rodrigo Moreno e André Gomes, ambos provenientes do Benfica.
Segundo revelou o próprio Zorío ao jornal Levante-EMV, o MP luso autorizou por escrito a divulgação da reunião que manteve com as autoridades em Lisboa, a 11 de julho, na sede da Procuradoria-Geral da República. O encontro contou com a presença de dois procuradores do DCIAP e dois inspetores especializados em crimes económicos, perante os quais o ex-dirigente detalhou a documentação já enviada anteriormente, baseada em relatórios financeiros do Benfica submetidos à CMVM.
De acordo com Zorío, esses documentos «demonstram que grande parte do dinheiro pago pelo Valência ao Benfica nunca chegou aos cofres do clube português», levantando suspeitas de operações triangulares entre Peter Lim, Jorge Mendes e a Meriton Holdings, empresa do empresário singapurense.
O processo foi aberto em fevereiro deste ano, depois de o ex-vice-presidente do Valência ter entregue documentação adicional sobre as operações financeiras entre os dois clubes. Zorío cita ainda uma sentença do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), datada de maio de 2021, que, segundo o próprio, «condenou a Meriton» e «comprovou a sua posição monopolista» nas transferências de Rodrigo e André Gomes.
Na mesma decisão, o TAD terá confirmado que a Meriton cobrou ao Benfica 5% anuais sobre as transferências dos dois jogadores, que ascenderam a 45 milhões de euros, mais 10 milhões em variáveis.
Empréstimo e suspeitas financeiras
Zorío explicou ainda que as contas anuais do Valência registam um empréstimo de 100 milhões de euros concedido pela Meriton para financiar as contratações de Cancelo, Rodrigo, André Gomes e Enzo Pérez, com juros superiores a 5 milhões de euros. Segundo o denunciante, apenas 52 milhões dos 85 milhões pagos (mais variáveis) «terão chegado a Lisboa», sugerindo que as operações serviram «para injetar dinheiro nos cofres do Benfica e da Meriton, esvaziando financeiramente o Valência».
Durante a reunião de quase duas horas em Lisboa, Zorío afirmou que Peter Lim «controlava simultaneamente o clube vendedor (Benfica), o comprador (Valência) e cobrava a ambos», tendo os procuradores informado que há quatro suspeitos formalmente investigados: Peter Lim, Jorge Mendes, Layhoon Chan e Amadeo Salvo.
Crimes em análise
As suspeitas incluem falsidade contabilística, corrupção internacional entre particulares e crimes contra as finanças públicas de Portugal e Espanha. O Ministério Público português está a investigar as ligações entre as empresas de Lim e Mendes, o Benfica e o Valência, com operações envolvendo fundos sediados nas Ilhas Caimão.
Zorío garante que «Jorge Mendes já foi ouvido» no âmbito do processo, que incide sobre as transferências realizadas entre o Benfica e o Valência durante o período de entrada de Peter Lim no clube espanhol. O empresário singapurense, recorde-se, tornou-se acionista maioritário do emblema che em 2014.
O antigo dirigente acrescenta que, num único ano, o Valência «gastou 211 milhões de euros em contratações, valores só comparáveis aos de clubes como o Chelsea ou o PSG», mas que «quase metade desse montante foi parar às mãos de intermediários».
O Valência é apenas mais uma peça da teia societária de Lim
Na documentação entregue às autoridades, Zorío descreve operações em que Rodrigo e André Gomes terão sido comprados ao Benfica pela Meriton Capital Ltd, antes de serem revendidos ao Valência, com parte substancial dos valores alegadamente desviada sob a forma de comissões e despesas.
O porta-voz do movimento Marea Valencianista considera «curioso» que Portugal esteja a investigar os factos enquanto, em Espanha, o processo enfrentou tentativas de arquivamento. «Continuamos no jogo e, por algum lado, abriremos a brecha judicial para demonstrar que o Valência é apenas mais uma peça na teia societária de Peter Lim», concluiu.