Miguel Oliveira deixa o MotoGP ao fim de sete temporadas para ingressar nas Superbike
Miguel Oliveira deixa o MotoGP ao fim de sete temporadas para ingressar nas Superbike

Miguel Oliveira reacendeu o fogo no adeus

Piloto português encerrou a temporada 2025 e a sua carreira no MotoGP com uma corrida positiva. Assinalou a despedida com um poderoso 'burnout' que deixou o pneu da moto em chamas

Em Valência, Miguel Oliveira baixou o véu sobre sete anos de carreira no MotoGP. O português fê-lo com um 11.º lugar na derradeira corrida do Mundial de 2025 que, mais do que uma posição, soube a retorno - a uma certa «normalidade», como definiu, que tantas vezes lhe escapou nesta temporada turbulenta.

«Foi uma corrida positiva», disse o piloto da Prima Pramac Yahama. «O arranque saiu limpo, o ritmo apareceu», e as ultrapassagens e a subida na classificação foram naturais. Por momentos parecia que o Falcão tinha regressado para fazer um último voo em estilo na categoria mais alta do motociclismo de velocidade.

Miguel Oliveira celebrou a despedida com um vistoso 'burnout' que incendiou a borracha do pneu (foto Prima Pramac)

Mas o momento que ficará para a memória não estava na tabela de tempos. Aconteceu após a corrida, junto à box da sua equipa, quando Miguel Oliveira decidiu transformar o asfalto num palco simbólico. A roda traseira riscou o asfalto, a borracha inflamou-se e, num instante épico, o pneu ficou em chamas. Um burnout de adeus, literal e figurado, com o fogo a erguer-se como uma assinatura deixada no ar: «Foi brutal… icónico. Levei o pneu até à lona e o pneu começou todo a arder», descreveu, com o sorriso de quem sabe que encerrara um capítulo à altura da própria história.

A corrida foi vencida por Marco Bezzecchi, seguido de Raúl Fernández e Fábio DiGiannantonio - mas, naquele final de tarde, foi Miguel quem teve o momento mais vibrante. E isso diz tudo sobre o que representa. Acabou o campeonato no 20.º lugar, com 43 pontos; um número frio, muito abaixo do calor das suas conquistas passadas. Numa competição onde Marc Márquez voltou a erguer o título mundial, pela sétima vez, Oliveira fechou o seu percurso na categoria rainha como o único português de sempre a vencer no MotoGP - cinco vezes, sem que uma única delas alguma vez parecesse fruto do acaso.

A história, essa sim, ninguém lhe tira. Desde 2011, quando se estreou em 125cc, o miúdo de Almada foi escalando categorias como quem sobe degraus que pareciam feitos para ele. Moto2 trouxe-lhe vitórias e um vice-campeonato. O MotoGP trouxe-lhe glória: Estíria, Algarve, Catalunha, Indonésia, Tailândia… vitórias em dias de sol, de chuva, de nervos. Vitórias de talento puro.

Miguel Oliveira na temporada de estreia no MotoGP, na KTM Tech3 em 2019

Depois veio a fase dura - as mudanças de equipa, os problemas técnicos, as lesões, a sensação amarga de que o corpo e a máquina já não falavam a mesma língua. A Yamaha não lhe ofereceu o reencontro que procurava: a queda na Argentina, o ombro lesionado, as corridas falhadas, a adaptação que nunca se completou. O futuro na equipa esfumou-se quando a cláusula de desempenho se transformou numa porta fechada.

Miguel Oliveira na segunda época na KTM Tech3 em 2020, temporada em que conquistou a primeira vitória

E assim chegámos a esta despedida, à chama final daquele pneu, que talvez tenha dito aquilo que Miguel não disse em palavras: queimar o passado para seguir em frente.

Miguel Oliveira no pódio após a primeira vitória no MotoGP, em 2020, no GP da Estíria

Em 2026, o destino escreve-se noutra tinta. No Mundial de Superbike, Oliveira leva consigo o que sempre o distinguiu — a garra, a delicadeza técnica, o instinto de corrida e uma capacidade rara de renascer. Talvez já não volte ao MotoGP. Talvez não precise. A estrada continua, e há pilotos que não correm apenas em pistas. Correm na memória de quem os viu crescer, lutar e incendiar o asfalto num último gesto de grandeza.

Miguel Oliveira na primeira temporada na Red Bull KTM, equipa de fábrica (2021)
Miguel Oliveira na KTM, em 2022

«Tive uma carreira com que muitos pilotos só podem sonhar. Tive o privilégio de vencer em diferentes categorias e fiz parte de grandes equipas que me ajudaram a alcançar o meu melhor potencial, especialmente na Moto3 e na Moto2. Estou agradecido a muitos fabricantes, muitas equipas e muitas pessoas que conheci ao longo destes anos e que trouxeram ao de cima o melhor de mim. Tudo aquilo que alcançar no futuro será também resultado de todas estas experiências», declarou o português.

Miguel Oliveira em 2023, na CryptoDATA Aprilia RNF
Miguel Oliveira na Trackhouse Aprilia em 2024

Miguel Oliveira apagou uma chama e acendeu outra em Valência. E o fogo, esse, leva-o consigo.

Temporada de 2025 de Miguel Oliveira, na Prima Pramac Yamaha, a última no MotoGP