Livolant provou ser Real(pe) que vindimas são até ao fim (crónica)
Até ao lavar dos cestos é vindima. Mesmo quando parece que não há mais uvas para colher. O Famalicão tinha o triunfo no bolso, parecia ter o jogo absolutamente controlado, mas, já perto do fim, descobriu um cacho que ainda estava por apanhar e aproveitou para fazer a sua colheita.
Comecemos pelo início do processo. O Famalicão levou a tesoura e deu início à poda. Durante 45 minutos, os minhotos ocuparam devidamente o território e deram mostras de quererem começar a encher os cestos. Mas Gil Dias e Mathias de Amorim ainda não tinham a técnica devidamente apurada. O extremo desperdiçou duas ocasiões soberanas para marcar - aos 20 minutos, e depois de superiormente assistido por Simon Elisor (na sequência de uma recuperação de Sorriso em zona alta), atirou a rasar o poste direito, e aos 33' voltou a tentar a arte, mas o remate saiu por cima da barra -, ao passo que o médio também podia ter colhido a uva em fase de maturação, mas viu David Sousa negar-lhe a ação com uma tesourada (entenda-se, um corte legal e decisivo) absolutamente assertivas e que impediu que as redes de Patrick Sequeira fossem violadas.
Neste período, o Casa Pia ainda não tinha pisado terrenos de cultivo e o cenário ficou ainda mais adverso para os gansos quando Léo Realpe, logo após o descanso, teve cabeça para atestar o balde. O internacional equatoriano, de regresso às lides após ter cumprido castigo diante do Sporting, quis voltar aos Dias felizes e aceitou a oferta de Gil para inaugurar o marcador.
Estava feita a justiça perante o que tinha acontecido desde o raiar do sol e até que a noite se colocou. Os minhotos tinham muito mais jeito para a colheita, os lisboetas estavam em modo de preparação.
Mas no futebol, já se sabe, quem não mata... morre. A equipa de Hugo Oliveira pensou que estava feito o dia de trabalho e deixou de ser incisiva na arte da colheita. Havia ainda mais por fazer até que a produção resultasse, efetivamente, num vinho de qualidade, mas todos os momentos contam para que a degustação seja de nível superlativo.
Disso se aperceberam os casapianos e foi com um paladar francês que a turma de João Pereira se lançou à fermentação para que a acidez fosse suavizada. O resultado era adverso e, como tal, era absolutamente necessário que a técnica fosse devidamente aplicada para que houvesse possibilidade de ter direito a parte do engarrafamento. Jérémy Livolant foi travado por Justin de Haas - Hélder Malheiro, alertado pelo VAR, foi ver as imagens e assinalou penálti -, cabendo ao extremo gaulês colocar a rolha no resultado e resgatar parte da produção. Ainda rendeu uma pomada de bom grau.
As notas dos jogadores do Casa Pia:
Patrick Sequeira (6), André Geraldes (6), José Fonte (6), David Sousa (6), Gaizka Larrazabal (5), Seba Pérez (6), Renato Nhaga (6), Fahem Benaissa (6), Jérémy Livolant (7), Cassiano (5), Tiago Morais (5), Abdu Conté (5), Korede Osundina (5), Max Svensson (5), Dailon Livramento (5) e Iyad Mohamed (-).
As notas dos jogadores do Famalicão:
Lazar Carevic (6), Rodrigo Pinheiro (6), Léo Realpe (7), Justin de Haas (5), Pedro Bondo (6), Tom van de Looi (6), Mathias de Amorim (6), Gil Dias (6), Gustavo Sá (6), Sorriso (6), Simon Elisor (5), Antoine Joujou (5), Otar Mamageishvili (-) e Umar Abubakar (-).
As reações dos treinadores:
João Pereira (Casa Pia)
O Famalicão foi superior na primeira parte, não consideramos que tenha sido superior na segunda parte. Não foi um bom espetáculo. Nós temos uma equipa em construção, o Famalicão já com uma equipa estruturada da época passada e tinha a obrigação de vir aqui ganhar. O treinador do Famalicão é alguém que acabou a época passada no 7.º lugar com um jogador deitado dentro do campo a pedir assistência e acabaram por fazer o 2-1 dessa forma. Mourinho há só um e está no Benfica. Mas há um pseudo-Mourinho no Famalicão que se chama Hugo Oliveira e que quer estar sempre acima de toda a gente, não sei se não quer estar acima do Famalicão também. Precisa de ter mais humildade. Considero que o resultado foi justo.
Hugo Oliveira (Famalicão):
O Famalicão foi a única equipa que quis ganhar este jogo. Conseguimos ligar o nosso jogo muitas vezes. Ao intervalo o 0-0 era injusto, mas depois fizemos o golo logo a abrir. O adversário não quis jogar e beneficiou de um penálti quase no fim. Mas quero valorizar o que os meus rapazes têm feito e mereciam claramente sair daqui com uma vitória. Não faço análises com números. O jogo não é só de números, é de análise de interpretação e nós fomos mais uma vez fiéis à nossa identidade. Estamos com 11 pontos, mas, acima de tudo, estamos vinculados às nossas ideias.