Duelo foi intenso em Rio Maior e no final ninguém saiu a sorrir - Foto: Paulo Cunha/LUSA
Duelo foi intenso em Rio Maior e no final ninguém saiu a sorrir - Foto: Paulo Cunha/LUSA

Livolant provou ser Real(pe) que vindimas são até ao fim (crónica)

Extremo francês acreditou até ao lavar do último cesto e deu parte da produção aos gansos. Defesa-central equatoriano tinha dado corpo à arte de poder dos minhotos. Penálti (bem assinalado) teve dedo... do VAR

Até ao lavar dos cestos é vindima. Mesmo quando parece que não há mais uvas para colher. O Famalicão tinha o triunfo no bolso, parecia ter o jogo absolutamente controlado, mas, já perto do fim, descobriu um cacho que ainda estava por apanhar e aproveitou para fazer a sua colheita.

Comecemos pelo início do processo. O Famalicão levou a tesoura e deu início à poda. Durante 45 minutos, os minhotos ocuparam devidamente o território e deram mostras de quererem começar a encher os cestos. Mas Gil Dias e Mathias de Amorim ainda não tinham a técnica devidamente apurada. O extremo desperdiçou duas ocasiões soberanas para marcar - aos 20 minutos, e depois de superiormente assistido por Simon Elisor (na sequência de uma recuperação de Sorriso em zona alta), atirou a rasar o poste direito, e aos 33' voltou a tentar a arte, mas o remate saiu por cima da barra -, ao passo que o médio também podia ter colhido a uva em fase de maturação, mas viu David Sousa negar-lhe a ação com uma tesourada (entenda-se, um corte legal e decisivo) absolutamente assertivas e que impediu que as redes de Patrick Sequeira fossem violadas.

Neste período, o Casa Pia ainda não tinha pisado terrenos de cultivo e o cenário ficou ainda mais adverso para os gansos quando Léo Realpe, logo após o descanso, teve cabeça para atestar o balde. O internacional equatoriano, de regresso às lides após ter cumprido castigo diante do Sporting, quis voltar aos Dias felizes e aceitou a oferta de Gil para inaugurar o marcador.

Estava feita a justiça perante o que tinha acontecido desde o raiar do sol e até que a noite se colocou. Os minhotos tinham muito mais jeito para a colheita, os lisboetas estavam em modo de preparação.

Mas no futebol, já se sabe, quem não mata... morre. A equipa de Hugo Oliveira pensou que estava feito o dia de trabalho e deixou de ser incisiva na arte da colheita. Havia ainda mais por fazer até que a produção resultasse, efetivamente, num vinho de qualidade, mas todos os momentos contam para que a degustação seja de nível superlativo.

Disso se aperceberam os casapianos e foi com um paladar francês que a turma de João Pereira se lançou à fermentação para que a acidez fosse suavizada. O resultado era adverso e, como tal, era absolutamente necessário que a técnica fosse devidamente aplicada para que houvesse possibilidade de ter direito a parte do engarrafamento. Jérémy Livolant foi travado por Justin de Haas - Hélder Malheiro, alertado pelo VAR, foi ver as imagens e assinalou penálti -, cabendo ao extremo gaulês colocar a rolha no resultado e resgatar parte da produção. Ainda rendeu uma pomada de bom grau.

O melhor em campo: Jérémy Livolant (Casa Pia)
O camisola 29 até nem teve um jogo tão conseguido como outros que já realizou ao serviço do emblema de Pina Manique, mas a grande verdade é que tem de colher os louros por ter acreditado até ao fim. Nunca desistiu dos lances, mesmo quando não era devidamente servido. Chamado à conversão do penálti que o próprio sofrera, o extremo gaulês não vacilou e resgatou um ponto.
A figura: Léo Realpe (Famalicão)
Mesmo que os avançados contrários não lhe tenham dado assim tanto trabalho quanto isso, o defesa-central internacional pelo Equador demonstrou atenção e simplicidade sempre que foi chamado à ação. Aproveitou uma subida à área contrária para dizer que sim a um duelo aéreo e, com as medidas certas, cabeceou para o fundo das redes da baliza à guarda de Patrick Sequeira.

As notas dos jogadores do Casa Pia:

As notas dos jogadores do Famalicão:

As reações dos treinadores:

João Pereira (Casa Pia)

O Famalicão foi superior na primeira parte, não consideramos que tenha sido superior na segunda parte. Não foi um bom espetáculo. Nós temos uma equipa em construção, o Famalicão já com uma equipa estruturada da época passada e tinha a obrigação de vir aqui ganhar. O treinador do Famalicão é alguém que acabou a época passada no 7.º lugar com um jogador deitado dentro do campo a pedir assistência e acabaram por fazer o 2-1 dessa forma. Mourinho há só um e está no Benfica. Mas há um pseudo-Mourinho no Famalicão que se chama Hugo Oliveira e que quer estar sempre acima de toda a gente, não sei se não quer estar acima do Famalicão também. Precisa de ter mais humildade. Considero que o resultado foi justo.

Hugo Oliveira (Famalicão):

O Famalicão foi a única equipa que quis ganhar este jogo. Conseguimos ligar o nosso jogo muitas vezes. Ao intervalo o 0-0 era injusto, mas depois fizemos o golo logo a abrir. O adversário não quis jogar e beneficiou de um penálti quase no fim. Mas quero valorizar o que os meus rapazes têm feito e mereciam claramente sair daqui com uma vitória. Não faço análises com números. O jogo não é só de números, é de análise de interpretação e nós fomos mais uma vez fiéis à nossa identidade. Estamos com 11 pontos, mas, acima de tudo, estamos vinculados às nossas ideias.