Jurgen Klopp, diretor global do futebol da Red Bull e ex-treinador do Liverpool
Jurgen Klopp, diretor global do futebol da Red Bull e ex-treinador do Liverpool - Foto: IMAGO

Klopp garante: «Não sinto falta de ser treinador»

Ex-técnico do Liverpool deu uma entrevista e afirmou que, atualmente, tem 100% de certeza que não quer voltar ao banco de suplentes, explicando que está satisfeito com a sua vida na Red Bull, apesar das críticas na Alemanha

Depois de nove anos no Liverpool, e muitos outros na Alemanha, Jurgen Klopp decidiu fazer, na altura, uma pequena pausa na carreira de treinador e, surpreendentemente, passou a ser o diretor global de futebol das equipas da Red Bull. Passado mais de um ano desde que deu lugar a Arne Slot em Anfield, o alemão deu uma entrevista ao The Athletic e falou sobre esta nova fase da sua vida, garantindo que não quer voltar atrás e que não sente falta disso.

«De forma alguma. Fiquei super feliz com o desempenho do Liverpool. Assisti a alguns jogos, mas não é como se fosse: 'Oh, é sábado!' Eu não sabia quando os jogos começavam. Eu simplesmente saía. Praticava desporto. Nós aproveitávamos a vida, passávamos tempo com os netos, coisas completamente normais, sabendo que eu voltaria a trabalhar. Mas sabendo também que não queria mais trabalhar como treinador. É o que eu acho, mas nunca se sabe. Tenho 58 anos. Se eu recomeçasse aos 65, todos diriam: ‘Disseste que nunca mais farias isso!’. Er, desculpem, eu estava 100% convencido [quando disse isso]! É o que penso agora. Não sinto falta de nada», começou por dizer, olhando para trás para a sua carreira, de 25 anos.

«Olhe para a minha carreira, há carreiras muito mais bem-sucedidas do que a minha, mas eu tive tudo. Perdi mais finais da Liga dos Campeões do que a maioria das pessoas joga. Sei como perder e como a vida continua. Não preciso guardar a minha experiência para mim mesmo. Nunca fiz isso, mas simplesmente nunca tive tempo para falar com as pessoas sobre isso porque o próximo jogo estava chegando. Agora, se alguém me perguntar alguma coisa, sou o livro mais aberto que conheço», explicou, abordando as críticas dos alemães por ter aceitado um trabalho na Red Bull.

Críticas na Alemanha por causa da Red Bull

«Eu sabia que isso iria acontecer. Sou alemão. Sei o que as pessoas na Alemanha pensam sobre o envolvimento da Red Bull no futebol. Elas adoram a Red Bull. Em todos os setores. Mas no futebol? Não. Então, tudo bem, elas querem fazer assim. Curiosamente, foi apenas na Alemanha que a reação foi assim. Mas tudo bem, não há problema. Todos podem pensar o que quiserem. Só têm de aceitar que eu faço o que quero, desde que não magoe ninguém», atirou, voltando ao tempo principal e explicando o que o levou a fazer esta decisão.

«Não espero que todos gostem do que faço. Tenho de fazer isso pelas razões certas — pelas minhas razões certas. A propósito, em Liverpool, as pessoas estão muito felizes com o que faço, porque não estou a treinar outra equipa [risos]. Se eu fosse para um país estrangeiro, para a Itália ou Espanha, as pessoas teriam dito: ‘Meu Deus, isso é ótimo’. Se eu fosse para o Bayern ou qualquer outro lugar, então especialmente os adeptos do Dortmund teriam dito: ‘Não gosto disso!’. Terminei no Liverpool aos 57 anos. Eu tinha 100% de certeza de que não iria parar de trabalhar. Tirei uma folga de sete meses ou mais. Gostei muito — uau!», garantiu, dando exemplos do dia a dia que sentia falta.

As pequenas coisas da vida

«Mas a ideia não era que eu fizesse isso até o fim da minha vida. Não perdi nada na minha vida, porque nunca pensei nisso. Então, durante quase 25 anos, fui a dois casamentos — um deles foi o meu e o outro foi há dois meses. Em 25 anos, fui quatro vezes ao cinema — todas nas últimas oito semanas. Agora é bom poder fazer isso», justificou.

«Estive em tantos países diferentes como treinador e não vi nada deles... apenas o hotel, o estádio ou o campo de treino. Nada mais. Não senti falta disso, mas agora sentiria. Tenho a escolha. Posso ir de férias. E decido quando. OK, a Ulla [a mulher] decide quando [risos]. Mas não é a Premier League ou a Bundesliga que decide. Fiz isso toda a minha vida. É loucura, mas não sinto falta. Ainda estou no futebol, ainda estou a trabalhar num ambiente que conheço. Mas aprendo coisas novas todos os dias. Não fiz isso por um tempo na medida em que faço agora», acrescentou, comparando a sua vida de treinador a... de uma estrela de cinema.

«Mas, no final das contas, ele acorda de manhã, escova os dentes. Ele está num set de filmagem, e um set de filmagem não é o que vemos depois no cinema. Ficas sentado lá e repetes a mesma cena 25 vezes. Não pensas nessas coisas, mas eu tive essa vida. Eu sei como quase todos os treinadores de futebol vivem. Eles vivem para o trabalho, dedicam-se totalmente. Não podes ter sucesso neste ramo sem fazer isso. Eu disse ao Pep [Guardiola] — melhoraste o teu handicap no golfe com a idade! Eu não tinha um minuto para jogar golfe! É por isso que ele é um gênio e eu não», finalizou, de bom humor, lembrando a rivalidade com Guardiola.