João Almeida preparado para o Europeu: «Talvez me antecipe ao ataque de Pogacar»
Para João Almeida, a temporada já vai longa - e bem-sucedida. Prestes a fechar o melhor ano da carreira com vitórias em três prestigiadas corridas por etapas do WorldTour consecutivas – Voltas ao País Basco, Romandia e Suíça - e a segunda posição na Vuelta, igualando o melhor resultado de um português, Joaquim Agostinho, numa Grande Volta, Almeida admite estar fatigado após um total de 69 dias de competição, mas garante empenhar-se, ao máximo, nos derradeiros dois antes de encerrar a época.
No Campeonato da Europa, em que representará a seleção nacional nas provas de contrarrelógio, esta quarta-feira, e de fundo, no domingo (5 de outubro). Principalmente, nesta última, em que enfrentará alguns dos melhores… do mundo: Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard ou Remco Evenepoel. O corredor, de 27 anos, fez a antevisão dos Europeus, em exclusivo para a A BOLA.
- Reconhece, nestes Campeonatos da Europa uma oportunidade para alcançar um resultado em linha com os que alcançou este ano, ou o desgaste da competição já é demasiado?
- Já… Mentalmente, tem sido um bocadinho duro. Para ser sincero, não fiz grande preparação para os Europeus. Creio que devemos respeitar o que diz a mente, para pensar a longo prazo. De facto, não chego no meu melhor, mas darei tudo o que tenho.
- Como é que correu o período de descanso pós-Vuelta?
- Estive uns dias sem treinar, totalmente parado. Fiquei por Portugal e recomecei a treinar lá, pelas estradas da minha região. Mas quando foi para arrancar o motor, o motor não quis arrancar… Foram assim, tipo reco-reco, estes últimos tempos desde a Vuelta. Mas a época está a terminar e, repito, darei tudo o que tiver esta semana.
«Percurso do contrarrelógio não me favorece»
- Tem a participação no contrarrelógio já esta quarta-feira. Espera ter o motor já ligado?
- Não espero boas sensações, mas espero estar enganado… A concorrência é de muito nível, estarão em competição todos os melhores especialistas europeus em contrarrelógio. E depois de ter reconhecido hoje [terça-feira] o percurso, acho que não me favorece. É um percurso muito rolante [n.d.r.: maioritariamente plano]. Sinceramente, é bem menos duro do que eu pensava. Além disso, também vai estar muito vento, o que também não favorece, por ser mais leve do que os especialistas. Por isso, tentarei representar Portugal da melhor maneira, dando o máximo.
- O percurso tem uma subida final de um quilómetro, a cerca de 5% de inclinação média. Nem esta crê pode servir para ganhar algum tempo aos puros contrarrelogistas?
- Não sei, já vamos chegar aí no limite. Sinceramente, pensei que também que essa subida fosse mais dura, e na realidade é só um topozinho. Mas, sim, certamente vai custar a todos e fará ligeiras diferenças. No entanto, serão todos os quilómetros anteriores que decidirão.
- Projetando já a corrida de fundo, enfrentará igualmente uma concorrência fortíssima. Consigo, reúne-se a fina flor do ciclismo, em que muitos poucos, como Mathieu van der Poel ou Wout van Aert, faltarão. O que é que prevê?
- Espero que o meu motor, amanhã [no contrarrelógio], abra ao máximo e a partir daí me reencontre com novas sensações. Teremos alguns dias para treinar um pouquinho também.
«Espero que o motor abra… ao máximo»
- Como analisa o percurso da corrida?
É duro, é um sobe e desce constante, com três subidas mais longas iniciais e depois um circuito rompe-pernas que vai fazer mossa. Será uma corrida de mais de 200 quilómetros, portanto será dura. Vamos ver como é que se desenrola. Haverá muitos corredores de alto nível. Vão estar todos presentes e poderá haver táticas diferentes de corredor para corredor, que pode partir o pelotão em pequenos grupos que depois não voltem a juntar-se até ao final.
«Antecipar-me ao ataque de Pogacar? Analisarei...»
- Prevê que a corrida se parta até ao final da última subida longa se parta, fazendo uma seleção definitiva antes da entrada no circuito final? Pogacar vai fazer das suas?...
- Não sei. Com os ataques de longe que tem havido, típicos do ciclismo moderno, e depois do que se voltou a assistir este fim de semana no Mundial do Ruanda, se calhar até podemos ver o Remco [Evenepoel] a tentar atacar antes do Pogacar. Talvez, surpreendê-lo um pouquinho, e não ficar à espera do seu ataque. Poderá haver outros corredores que tentarão antecipar-se também, porque sabem que não conseguem seguir com estes dois. E não esquecer o Vingegaard, que também estará presente. Portanto, acho que vai ser uma corrida muito bonita de se assistir.
-Já fez o reconhecimento do percurso?
-Não, ainda não. Ainda não sei como é que é. Mas vai ser interessante reconhecê-lo e depois tentar perceber se, de facto, pode ser bom tentar anteciparmo-nos [aos ataques dos outros rivais]. No fundo, não temos nada a perder, não é? Tentar antecipar ou esperar pelo fim. Vai ser giro ver isso.
- Parece muito motivado para a corrida…
- Sim, estou. Representar a Seleção é sempre diferente, é motivador. E é a última corrida do ano, é para dar tudo!
Portugueses em ação esta quarta-feira
A Seleção de Portugal inicia esta quarta-feira a participação no Campeonato da Europa de Estrada, em França, na região de Drôme-Ardèche, com seis corredores nas provas de contrarrelógio.
Os primeiros a entrarem em ação (9h45, hora de Lisboa) são os juniores Gonçalo Costa e Gonçalo Rodrigues.
Beatriz Roxo, na categoria de Sub-23, que início previsto (da primeira corredora) para as 11h00.
O percurso da prova tem 24 quilómetros e é idêntico ao das competições masculina (Juniores e Sub-23) e de Elite, de ambos os géneros.
Em Elite femininos (13h20), Portugal terá em prova Daniela Campos (13h20), e em masculinos (14h45), João Almeida e Nelson Oliveira.
O corredor, de 27 anos, que representa a UAE Emirates, tem como melhor resultado o 10.º lugar na edição de 2021, em Trento, Itália, e ao mais experiente compatriota, de 36 anos, que milita na Movistar, pertence o melhor resultado de um português em contrarrelógios do Europeu, o 4.º lugar na primeira edição da competição, em 2016, realizada em Plumelec, França.
«São 24 quilómetros, num percurso que não é muito longo e termina em subida. O Nelson Oliveira e o João Almeida são dois bons contrarrelogistas, mas a concorrência é muito forte. Se a distância fosse maior seria mais favorável, sobretudo para o Nelson, que ainda vem de uma lesão na mão e não teve a preparação ideal. Vamos dar o nosso melhor e procurar o melhor resultado possível», antecipa o selecionador nacional José Poeira.
«O percurso tem dois momentos mais exigentes, a meio e no final, que além de duros são também técnicos. A Daniela Campos, pela experiência que tem, vai saber enquadrar-se bem. O objetivo é que tanto a Daniela como a Beatriz Roxo consigam superar os resultados anteriores em competições internacionais e assinar uma boa prestação», antevê a nova selecionadora nacional, Daniela Pereira.