João Almeida: «Saí da Vuelta mais confiante que poderei ganhar uma grande Volta»
João Almeida foi segundo classificado na recente Volta a Espanha e igualou o melhor resultado de um português na prova, que era proeza exclusiva do saudoso Joaquim Agostinho desde 1974. Aos 27 anos, o corredor da UAE Emirates continua a ascender na elite do ciclismo mundial e a aproximar-se cada vez mais do sonho de carreira: vencer uma grande Volta, depois do terceiro lugar no Giro de Itália e do quarto no Tour de França.
Esta entrevista é uma retrospetiva do seu desempenho na Vuelta, detalhando os momentos fundamentais que o levaram ao pódio final (ainda que improvisado) e uma visão sobre o futuro próximo.
- Um dia depois do final da Vuelta fez um rescaldo curto em que disse que tinha sido uma 'corrida estranha'. O que é que quis dizer?
- Foi uma Vuelta diferente. Tivemos etapas encurtadas por protestos. Senti-me ligeiramente doente na última semana, um pouquinho limitado, mas foi uma Vuelta bastante boa. Também, por ter vindo de queda no Tour, a preparação não foi a melhor, mas por outro lado apresentei-me com frescura e boas sensações. Enfrentámos a Vuelta com bastante motivação e terminámos bastante bem.
- Disse, igualmente, que não tinha 'arrependimentos'…
- Sim, creio que em todos os dias que dava para fazer diferenças fomos à luta sem medo. Demos o máximo e não mudaria nada. Penso que não podíamos ter feito nada de diferente que nos levasse à vitória.
- E quando disse que ‘devemos estar orgulhosos’. No plural. Foi intencional?
- Sim, é um trabalho de equipa. Embora às vezes não tivéssemos estado perfeitos, tive uma equipa muito boa ao meu lado, que me apoiou imenso e fez toda a diferença. Por isso, sim, devemos estar orgulhosos do que fizemos.
- Como se diz em gíria do ciclismo, quais são as sensações alguns dias depois de três semanas intensas de esforço físico e mental?
- As sensações são boas. Foi o resultado de anos de trabalho, de sacrifício. Ainda vamos melhorando, evoluindo, mas é gratificante ser segundo classificado na Vuelta. Às vezes temos azares que nos batem à porta e fazem parte do percurso, mas o importante é continuar e darmos o nosso melhor e acreditar no processo. Essa é a mensagem que tento passar. O caminho é sempre de altos e baixos, mas o importante é continuar o caminho e focar no futuro, mas viver o presente também.
Caso Ayuso
- Analisemos a Vuelta. No início, em Itália, na 2.ª etapa perdeu 2 segundos (+10 de bonificação) para Jonas Vingegaard. Depois há a etapa que ganha o David Gaudu, em que sem perder tempo (exceto 4 s em bonificação), cedeu terreno (28.º). Foi um início cauteloso ou não se sentiu no auge?
- As primeiras etapas que são sempre muito nervosas, estressantes. Toda a gente tem muita força. Nota-se que vão por tudo, assim mais gordinhos, todos na frente, muito motivados. Depois, à medida que se aproxima o final da corrida, na segunda semana e terceira semana, nota-se que vão ficando mais cansados, a capacidade é menor. As coisas tornam-se mais fáceis. Então, sim, a primeira semana é sempre mais estressante. Vinha de uma preparação em que treinei bem apenas duas semanas e meia. O objetivo era ir em crescendo de forma. E foi o que aconteceu, senti-me bastante bem, cada vez melhor. Era previsto, nos primeiros dias, sentir aquele choque de competição, contra corredores de alto nível. É duro.
- Depois veio a vitória no contrarrelógio por equipas e oito segundos ganhos a Vingegaard.
- Sim, depois começámos a ganhar ritmo e a dose de competição que faz a diferença. Naturalmente, as coisas vão ao sítio.
- Na etapa seguinte, Jay Vine vence em fuga e Juan Ayuso perde sete minutos para o grupo dos candidatos, abdicando da coliderança da equipa. Mas no dia seguinte, entra em fuga e ganha a etapa. Como é que viu essa atitude competitiva do companheiro de equipa espanhol?
- Há dias que sabemos que não são para a geral, e na Vuelta é comum haver bastantes etapas em que a fuga vence. Nesses dias, tentámos meter um ou dois na fuga, porque lá atrás não vai acontecer nada. Não era importante estar rodeado de todos os meus companheiros. O Juan [Ayuso], já sabíamos, também não tinha tido uma preparação a 100%, não se sentia a 100%, e decidiu abdicar da geral, porque sabia que não ia conseguir fazer nada de especial. E ficou-se por tentar ganhar etapas e também ajudar-me em alguns dias. E creio que concluímos os objetivos bastante bem. Ganhámos sete etapas em que nunca metemos em causa a geral e nunca foi necessário deixar de ter algum elemento da equipa atrás, no meu grupo. Houve, se calhar, uma etapa que poderia ter sido necessário, mas acabou por não ser, quando o [Marc] Soler venceu [14.ª, em La Farrapona]. Creio que foi tudo muito bem gerido e que as forças foram bem gastas.
Reação a quente
- Contudo, na etapa em que perde 24 segundos para Vingegaard (8.ª), o dia do ataque em bloco da Visma para a vitória do dinamarquês, desabou após a chegada, dizendo ter sentido ‘a falta’ dos seus companheiros…
- Foi a emoção do momento. Foi um ataque de equipa, não foi o Vingegaard. Começo a ver três, quatro Vismas na frente e pensou, o que é que é isto?! O que é que vai acontecer? Uma coisa muito explosiva. Tinha o Jay [Vine] comigo, que me ajudou a fechar o espaço e depois fiquei por minha conta. Mas já era um grupo reduzido. Se calhar, podíamos ter tido mais um corredor que pudesse dar-me uma ajudinha, mas o Vingegaard foi mais forte do que eu e não consegui fechar o espaço. Creio que limitámos bastante as perdas e foi o dia decisivo da Vuelta, em que maiores diferenças que foram feitas para os restantes adversários.
- Mas para o Vingegaard sentiu que, a partir deste dia, seria mais difícil recuperar a desvantagem?
- Não, pelo contrário. Deu-me mais confiança e senti-me bastante bem. Houve uma separação natural entre mim e o Vingegaard e os restantes. E ter perdido só 20 segundos em 10 km, para ele, num mano-a-mano, foi positivo.
- No entanto, no dia seguinte, convoca a imprensa para se retratar das declarações.
- Sim. Tive colegas na etapa anterior que trabalhavam imenso, que me ajudaram imenso e não queria passar uma mensagem de não lhes estar agradecido. Não queria estar a rebaixar o seu trabalho. Não foi justo ter dito aquilo. Mas foram - lá está - coisas do momento. Metem-te o microfone à frente e dizes aquilo como se fosse uma coisa banal. Mas o importante é resolver tudo.
- Ayuso aproveitou as suas palavras, dizendo que tinham sido infelizes, para sustentar declarações após a equipa ter revelado o final do contrato. A atitude da equipa não terá sido também a quente?
- Isso tem de perguntar-lhes, mas sim. Pois, exato… Talvez tenha sido, sim.
- Porque a equipa mencionou, no comunicado, que entre motivos para o termo antecipado do contrato foi que o ‘projeto desportivo se baseia na harmonia de grupo e que a decisão era a mais consistente com os valores que o definem’. Ou seja, Ayuso estava deslocado…
- Não tanto. Desde o início estivemos sempre bem alinhados. Ele é muito profissional, como todos na equipa. Independentemente do futuro, ali naquele momento, naquela corrida, foi tudo feito com máximo de profissionalismo. Portanto, não acho que tivesse tido esse sentido. Somente, que é uma coisa que devia ter sido feita antes de começar ou depois de terminar a volta. Assim, no meio de uma grande volta, também acho que não faça o máximo sentido. Mas pronto, cada um tem as suas razões. Não me cabe a mim julgar isso e decidir sobre isso.
O «passo sufocante» no Angliru
- Eis chegados ao momento alto, a vitória no temível Angliru. Foi sempre a fundo, com Vingegaard na roda. Não teve receio que ele contra-atacasse. Ou acreditou que poderia ceder?
- Sim, achava que ele poderia ceder, porque... sentia-me muito bem, com boas sensações. Pegámos na corrida, com a equipa, na penúltima subida e atacámos ao máximo. E depois meti um passo que... um passo daqueles bastante bons, que só vai chegar lá acima quem estiver bem. Ele provou que estava, mas… também eu. Foi um passo sufocante. Sabia que, se chegasse lá acima, estaria muito bem e podia vencê-lo. Percebemos essas sensações e sabemos o que é que dá ou não para fazer.
- E o sprint final... Nem aí pensou que Vingegaard poderia ultrapassá-lo.
- Numa subida tão inclinada, ir na roda é exatamente igual a ir a puxar. Portanto, assumi a corrida na subida, sem olhar para trás e... dei o meu máximo. A chegada, já sabia que seria muito tática, e porque é a descer, quem chegasse primeiro à última curva ganharia.
- Terá sido a vitória mais saborosa da sua carreira?
- Sim, uma subida, talvez, das mais duras do mundo e também da forma como ganhei, acho que... deu-me... é especial e.. ter o meu nome lá em cima, gravado na pedra. Acho que é… para sempre.
O cansaço de Vingegaard e as oportunidade perdidas
- Na etapa de La Farropona, o Vingegaard acusou fadiga, ou pelo menos a sua linguagem corporal denotava-o. Vinha de um Tour completo e desgastante. E nem se sabia que estava adoentado. Não terá perdido uma oportunidade de o derrotar, apesar também não aparentar estar a 100%?
- Estávamos a entrar na parte final da Vuelta, mas infelizmente também comecei a ficar doente. Podia ter sido a chave para vencer a Vuelta aproveitar a terceira semana, em que a fadiga podia ser um fator importante. Mas também comecei a ficar meio adoentado e limitou-me um bocadinho a capacidade física. Tivemos de lidar com o que tínhamos. Infelizmente, foi assim, mas... mesmo assim, acho que estivemos bem, não perdemos tempo para os outros adversários, apesar de as forças terem ficado um bocadinho mais equilibradas.
- Houve duas etapas seletivas com final neutralizado. Em Bilbau (11.ª), perdeu 10 segundos na última subida, muito inclinada.
- São subidas muito explosivas e muito curtas, muito inclinadas. É cada um por si. Ali a equipa não tem muito que possa ajudar. E não é um esforço que me favoreça. Já sabia que ia acabar por dar um bocadinho de desvantagem nesse tipo de esforço em subidas curtas. Mesmo assim tentei endurecer a corrida. Fiz lá um ataque ou dois para tentar cansar um bocado os adversários. Acabei por não perder muito tempo, só 10 segundos…
- Na etapa 16, a última subida foi neutralizada. Mas ficou sem companheiros de equipa contra a Visma e o resto da concorrência. A Vingegaard deu jeito ter colegas por perto, porque teve um furo e rapidamente trocou de bicicleta com um deles.
- Sim, exatamente. Felizmente, não fui eu a ter azar de furar. Eu vi que ele tinha furado e trocou a bicicleta. Houve sempre fair-play. Obviamente não vou atacar um adversário que teve um azar desses. Mas, mais uma vez, não era uma etapa que me favorecesse, porque tinha subidas curtas, muito explosivas. Terminámos bem, porque não perdemos tempo e sobrevivemos mais um dia.
- O Soler é mandado recuar, quase não chegava a tempo…
-Sim, porque com aquele nervosismo, às vezes as coisas não são bem claras, o rádio não funciona bem, está de chuva, as tecnologias contra a chuva não são à prova de tudo. Então, fica meio complicado perceber exatamente onde é a meta. A comunicação fica mais difícil e é um bocadinho caótico às vezes. Mas em todas as equipas é assim. Aconteceu estar ao lado de Vingargaard e avisarem-me do carro, via rádio, que a etapa acabava a 5 km da meta, e ele disse-me que não sabia, porque o rádio não funcionava…
«El Morredero foi uma vitória»
- Na etapa do Alto del Morredero (17.ª) cedeu alguns metros no início da subida final, mas apesar de ter recuperado para o grupo da frente, notou-se que, à imagem de Vingegaard, as forças estavam curtas e equilibradas. Até em relação à concorrência. Foi mais uma oportunidade perdida?
- Sim. Percebeu-se que não estávamos a 100% nesse dia, e muito iguais. Porque era uma etapa em que deveríamos ter feito diferenças, não só para os concorrentes, mas talvez entre nós… Mas desde o início da etapa percebi que não estava a sentir-me muito bem, novamente. E foi um dia de sobrevivência. Chegar à meta sem perder tempo. Perdi dois segundos, coisa pouca. Foi uma vitória. Estes dias, com más sensações, é lutar para não perder. É nos dias maus que temos de ser duros. Quando se está bem, está-se bem… é fácil.
- Mas chega o contrarrelógio (18.ª etapa) e voltou ao melhor nível. Dez segundos em 12 km a Vingegaard é impressionante.
- Sim, o percurso plano favoreceu-me, apesar de, infelizmente, ter sido encurtado de 27 para 12 km [perante a ameaça de mais manifestações em Valladolid]. Mas não me senti no meu melhor, senti-me adoentado. Mas o percurso favoreceu-me. Sou mais pesado do que o Vingegaard, o que, ao invés, não me favorece nas subidas. Preciso de fazer muito mais força para seguir o mesmo ritmo do que ele. Mas no plano, num contrarrelógio, tenho vantagem. Tem de se aproveitar.
- Aproveitou bem, mas na etapa seguinte, perdeu 4 segundos em bonificação no sprint intermédio, perante a permissividade da sua equipa. A imagem que passou, é que a Visma lhes tinha passado a perna. Após dez segundos ganhos com tanto esforço no dia anterior, perdem-se quatro, por lapso.
- Foram insignificantes. A aproximação ao local foi meio estranha. Havia rotundas que nos favoreciam mais do que outras e perdemos muitas posições na aproximação à cidade [Salamanca]. Depois com o nervosismo de sprintar, e tudo, não conseguimos estar para a frente. Mas não foi muito significante. E não parámos muito tempo a pensar nisso.
Bola del Mundo, o fim...
- Enfim, a Bola do El Mundo. Conte-nos como foi a decisão final da Vuelta.
- Sim, era a última oportunidade. Não tínhamos nada a perder. A equipa esteve impecável. Queríamos tentar ganhar. Também seria muito difícil perder o pódio. Teria de ter um dia mesmo muito mal. Então assumimos a corrida desde o primeiro quilómetro. Puxámos o que tínhamos de puxar, ao ritmo que conseguíamos, ao máximo. ‘Tiramos’ o dia todo. No final, na subida, tentei fazer a diferença, mas não estava bem. O adversário estava mais forte. Temos de assumi-lo. Mas o importante é tentar. Terminámos sem arrependimentos e sem dúvidas.
- E agora, para quando nova oportunidade de vencer uma grande Volta?
- Vou tentando, ano após ano. Tentando dar o nosso máximo. Há coisas que não controlamos. Nas corridas, na preparação… Vamos ver para o ano. Ainda não sei o calendário. Gostava de voltar ao Giro. Gosto muito do Tour. E a Vuelta também gosto bastante. Iremos planificar da melhor forma e maximizar o que temos.
- Depois desta Vuelta, crê que tem mais possibilidade de derrotar Jonas Vingegaard?
- Sim, exato. Creio que me deu mais confiança. Já tinha a noção de que conseguiria ganhar uma grande Volta. Obviamente, é muito difícil, porque é uma… grande Volta, há muitas coisas, há corredores muito fortes. Mas creio que a possibilidade está lá. Depois desta Vuelta, tenho mais confiança e mais noção de que é mesmo possível vencer. Mas se não conseguir, está tudo bem.
Nos Europeus com ambição
- No que resta da temporada, não participará nos Mundiais (21 a 28 de setembro, em Kigali, Ruanda) mas sim nos Europeus (1-5 outubro, em Drôme-Ardèche, França). Vai com ambições de vencer?
- Sim, vou dar o meu melhor. Já não falta muito tempo, estou numa boa forma física. É uma oportunidade para representar o nosso país. É sempre um orgulho vestir a camisola de Portugal. Vamos lá dar o nosso melhor, vamos tentar pelo menos...
- O percurso agrada-lhe?
- Sim, é bastante duro. Creio que fazemos dois circuitos diferentes, ao início e depois no fim. Tem lá umas subidas que vão partir as pernas, pouco a pouco. É uma corrida longa, de 205 km, mais ou menos.
- Prefere grandes Voltas e outras provas por etapas a corridas de um dia?
- Gosto de fazer clássicas. Se calhar, um dia gostava mais de me focar um bocadinho nas clássicas das Ardenas. Mas prefiro provas por etapas, e creio que é aí que sou, de facto, muito bom.
- Que peso tem um vencedor como Tadej Pogacar dentro da equipa? As decisões passam por ele, a escolha de calendário, escolha da equipa que o acompanha?
- Sim, ele faz as corridas que quer, basicamente! Porque vai sempre para vencer. Mas há sempre um planeamento, como todos os atletas, na altura de novembro, dezembro. Planeamos o calendário e vemos os objetivos. Obviamente, que um atleta do nível dele pode sempre escolher quem é que quer do lado dele e as corridas que quer apontar para vencer.
- E o João Almeida, em que patamar se encontra na hierarquia da equipa?
- Gosto que o diretor de desportivo me proponha o calendário. E não sou esquisito em termos de colegas de equipa. Gosto de todos, acho que todos fazem um bom trabalho. Não peço alguém específico.
- Matxin (diretor desportivo principal da UAE Emirates) ainda recentemente dizia numa publicação nas redes sociais que o se propõe a João Almeida, ele cumpre.
- Sim, mas também digo sempre o que gostaria de fazer. Gosto de mudar todos os anos um pouquinho o calendário, para não ser muito repetitivo. Os primeiros anos fazia sempre quase as mesmas corridas e tenho vindo a mudar um pouco. Este ano fiz corridas pela primeira vez e consegui vencê-las. Portanto, essa lufada de ar fresco de um novo desafio, de uma nova corrida, é positiva. Tento sempre escolher um calendário diferente de ano para ano para fazer abordagens diferentes e ver também o que prefiro.
- Se pudesse escolher sozinho, qual seria a grande volta que elegeria para objetivo principal em 2026?
- Temos de ter em conta o que os outros vão fazer. Os adversários e também, por exemplo, o Tadej [Pogacar]. E conciliar. Acho que é sempre inteligente apoiar-nos nas nossas armas para tentar ganhar o máximo de corridas possível para a equipa e de também cada corredor ter a liberdade de competir pela vitória. Além de ser mais inteligente, creio que é melhor para todos. Mas gostaria de fazer o Giro o ano que vem. Já não faço o Giro há algum tempo [desde 2023].
- Vingegaard já disse que gostaria de correr o Giro em 2026…
- Então, lá nos encontraremos. Já somos meio amigos.
Tour, nutrição e família
- Entre Giro, Vuelta e Tour, quais as diferenças?
- O Tour é claramente o número um. A grande montra mundial do ciclismo é o Tour. Há tensão mediática, o nível dos atletas também é superior. Tudo importa, uma meta volante que algumas equipas querem ir. Há sempre tensão no pelotão. Mesmo as próprias estradas em si, são mais apertadas. Então é sempre muito caótico. Há sempre alguma coisa a acontecer na corrida. Enquanto que a Vuelta é uma corrida mais relaxada, as estradas são melhores, o tempo é melhor também, normalmente. No Giro há um bocadinho mais de frio, mais dias de chuva, montanhas com neve lá em cima sempre. Acaba a ser mais duro fisicamente, talvez, em termos de adaptação. O nível também é bastante alto, mas não como na Volta a França.
- A nutrição em alta competição na ordem do dia e no ciclismo em importância acrescida. Tem nutricionista que lhe diz tudo o tem e deve ou não comer. E pesar todos os alimentos que ingere?
- Na maioria dos casos, sim. Temos o nutricionista da equipa, em que confio a 100%. Mas há alturas que estou mais à vontade. Tenho sempre o cuidado de comer o suficiente, porque já gastamos tanto que precisamos, de facto, de comer bastante. E há alturas que não tanto. É manter o equilíbrio da alimentação, uma dieta equilibrada. Não só da dieta em si, mas psicologicamente, porque é difícil seguir um plano o ano todo, durante a carreira inteira, que são vários anos.
- Custa-lhe essa dieta alimentar tão rigorosa? Até psicologicamente.
- É um estilo de vida. Também acabo por, ao queimar tantas calorias, ter de comer sempre bastante. Às vezes estou a comer obrigado e sem vontade, há alturas que quero comer mais e não como, às vezes como mais porque apetece-me comer. Portanto, tem de haver um equilíbrio na alimentação. O peso de um corredor é muito importante. Nesta Vuelta estava com um peso muito elevado. Se calhar, quase dois quilos a mais do que tenho normalmente. E isso pouco a pouco faz uma pequena diferença. Por causa da queda no Tour e da paragem nos treinos, aumentei de peso. Obviamente, não vou estar a recuperar de uma lesão e parado, e estar a controlar toda a comida que como.
- Qual é a importância da família e da companheira no seu dia-a-dia e na carreira?
- Muito importante. O apoio deles é muito importante. Obviamente, que a família na altura em que comecei, em era mais jovem e a desenvolver-me como adulto, era mais importante. Vamos crescendo. Tenho uma namorada agora e neste momento acho que é mais importante. Sem ela, claramente, nunca conseguiria ser o que sou e as coisas não seriam tão fáceis como são.